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Da revista Ali del Pensiero – Milão, ano III, nº 2, fevereiro de 1934.

Há mais de um ano, vêm os leitores de Ali del Pensiero usufruindo a apurada e profunda palavra que emana de A Grande Síntese, transmitida ao mundo pela peculiar mediunidade de Pietro Ubaldi e proveniente de uma Entidade que se faz chamar anonimamente como a “Sua Voz”. Chegou agora o momento em que os leitores, tendo tido a prova irrefutável da importância dessa comunicação (embora não esteja ela ainda nem na metade), tanto sob o ponto de vista científico como moral, conheçam um pouco da história humana dessa "Voz" sublime e de sua surpreendente difusão em todos os recantos da Terra.

A "Sua Voz" (e o próprio fato de que a Entidade não decline nenhum nome “humano” prova sua elevadíssima origem e posição espiritual) começou a manifestar-se por meio de Ubaldi apenas no outono de 1931. Em dezembro daquele ano transmitiu sua primeira mensagem geral, "A Mensagem de Natal", que foi imediatamente publicada em quatro línguas, na Itália, na Inglaterra, na Bélgica e na Argentina. Era uma espécie de introdução ou advertência, em estilo ainda tímido, devido talvez ao ceticismo que (note-se bem) o próprio médium que recebia tinha sobre suas próprias qualidades mediúnicas, e à reação que por isso opunha ao livre afluxo da recepção ultrafânica.

O médium era, então, completamente desconhecido no mundo espírita e espiritualista, italiano e estrangeiro, não tinha nenhum apoio e vivia, material e espiritualmente, quase isolado num pequeno centro da Sicília. Somos obrigados a ver uma intervenção superior no "caso", raríssimo, de que o médium tenha podido fazer publicar imediatamente aquela mensagem em cinco revistas de cinco nações diferentes, Alfa, de Roma; International Psychic Gazette, de Londres; Constancia, de Buenos Aires; La Revue Caödaiste, de Saigon; Revue Spirite Belge, Liège).

Não obstante isso, Ubaldi foi então torturado pelas dúvidas: sozinho como estava, seu pensamento e sua consciência se remoíam na perplexidade; sente em si o impulso irrefreável que o arrasta, e, no entanto, ele mesmo procura opor-se com toda a sua força, com todo o seu ceticismo, com toda a sua racionalidade. Não quer convencer-se de que seja médium, tem medo de se estar iludindo e, puro de coração como é, sente calafrios só ao pensar que talvez esteja ludibriando os outros.

Mas "Sua Voz" o arrasta ainda e ele é obrigado a escrever (estamos na Páscoa de 1932) a "Mensagem da Ressurreição". Verdadeiro e próprio apelo ao mundo, a palavra é mais definida e mais poderosa. A mediunidade de Ubaldi se está evidentemente desenvolvendo e fortificando, e o próprio médium começa a adquirir maior segurança em seus dons de receptividade. E agora, quase por encanto, esta mesma mensagem é imediatamente traduzida e publicada pelo mundo: Inglaterra, Argentina, Bélgica, Itália e Indochina.

Eis então que Ubaldi começa a ver suas dúvidas atenuadas ou dissipadas. Vários médiuns, que ele desconhecia, recebem espontaneamente mensagens espirituais endereçadas a ele, nas quais ele é instigado, aconselhado, encaminhado, e nas quais também se lhe prediz qual é o caminho que está traçado para ele.

Também o Prof. Ernesto Bozzano — sem dúvida a mais alta e indiscutível autoridade mundial nesta matéria — o alenta e assegura; a 1º de junho escreve-lhe: (.....) "a mensagem recebida por sua mediunidade é indubitavelmente de origem transcendental, e mais ainda, de elevadíssima inspiração. Provem, patentemente, de um grande Mestre espiritual (.....). Observo que a forma de sua mediunidade — que consiste numa voz subjetiva que lhe dita a mensagem — é idêntica à de Miss Cummins, a médium por meio de quem se manifesta a famosa e extraordinária personalidade espiritual de Patience Worth. Termino encorajando-o a preserverar em suas experiências, das quais espero algo de análogo aos Spirit Teachings, de Moses".

Eis que a 2 de agosto de 1932, no dia do famoso perdão da Porciúncula de Francisco de Assis, o médium (que se achava perto de Perúgia), é como que arrastado por uma força superior, febril e irresistível, e, em poucos minutos, escreve de jato aquela sublime "Mensagem do Perdão", que já fez a volta ao mundo. Aqui temos, verdadeiramente, o grande toque de reunir, a palavra vibrante, poderosa e envolvida em majestosa autoridade. O pensamento está permeado de puríssimo sentimento e desce para comover as cordas mais delicadas do coração. E a explosão de uma personalidade espiritual que se revela e anuncia com toda segurança o objetivo de sua intervenção e de sua missão. Essa mensagem foi imediatamente publicada na Argentina, na Bélgica, na Itália; mas seu caminho não terminara aí, porque passa, por incrível força própria, de mão em mão, de cidade em cidade, e mesmo recentemente se soube que, sem que o próprio médium disso tivesse conhecimento, a "Mensagem do Perdão" está circulando em milhares de cópias por todos os recantos do Brasil, por iniciativa quer da Federação Espírita Brasileira e a do Paraná, quer de sociedades espíritas de Porto Alegre e da cidade de Itu, e ainda foi publicada num grande matutino do Rio de Janeiro!

Milhares de pessoas ficaram fascinadas e comovidas com aquela palavra sublime. O próprio Bozzano escreve: "Estupendo Há trechos tão sublimes, em sua cósmica grandiosidade, que incutem quase uma sensação de terror sagrado (.... .). Foi ao sistema de investigação positiva sobre o mistério do ser que me dediquei invariavelmente. Isto não impede, no entanto, que esse sistema possa aperfeiçoar-se e completar-se com o acréscimo dos ensinamentos e da luz espiritual que podem trazer-nos mensagens mediúnicas de tão grande elevação que se impõe à razão. É este, precisamente, o caso das mensagens recebidas por você" (. . . .)

Entretanto, Ubaldi, consciencioso até o extremo, ainda duvida de si mesmo e de sua mediunidade, e pede o parecer do Diretor desta Revista, que o tranqüiliza totalmente, e ao Bozzano, que lhe responde: "Você me pede conselho sobre se deve continuar ou ao invés, suspender o exercício de sua mediunidade, orientada nesse sentido. Respondo: cada um tem sua própria missão. A minha era a de contribuir, na medida de minhas forças, para convencer os homens de ciência, com base nos fatos; a sua parece ser a de trazer à humanidade pensante mensagens elevadíssimas, de ordem moral espiritual, e que estão destinadas a tornar-se, um dia, as únicas importantes para a evolução espiritual dos povos. Prossiga, portanto, em sua missão".

Quase concomitantemente nasce A Grande Síntese, cuja publicação foi imediatamente iniciada (Janeiro de 1933) em Ali dei Pensiero e em Constancia (Buenos Aires), como de dois polos que nos hemisférios opostos, deveriam irradiá-la em torno de si. Já falamos nesta revista deste maravilhoso e surpreendente tratado, mas agora que está em pleno desenvolvimento a publicação da parte mais propriamente científica — que, por sua profundidade e importância é necessariamente menos acessível à generalidade dos leitores — seja-nos permitido recordar que a finalidade deste tratado é justamente a de falar em particular à ciência, antes resumindo e depois superando o estado atual do cognoscível humano. É uma "nova e mais completa revelação" em que se lançam as bases científicas, filosóficas e conceptuais de uma nova sociedade; e no entanto, em sua potência dominadora, o escrito é frio, objetivo, cientificamente exato.

Bozzano mesmo, autoridade máxima, escrevia a Ubaldi: (.....) "o conteúdo de A Grande Síntese já aparece e promete tornar-se grandioso, de vez que está de pleno acordo com tudo quanto ensina ou intui a ciência humana"; e ultimamente: (.....) "está concebida em termos rigorosamente científicos e está perfeitamente concorde com as hodiernas concepções filosóficas, matemáticas, geométricas, a respeito do mesmo assunto (.......). Esperando reler e comentar à altura a poderosa mensagem transcendental, quando se tiver a possibilidade de fazê-lo com a obra terminada"

Por volta da Páscoa de 1933 aparece, enfim, a dupla e sublime "Mensagem aos homens de boa vontade" — "Mensagem aos cristãos". Lendo-as não se pode evitar um temor quase sagrado; tão elevado é o pensamento, poderosa a expressão, grandiosa a forma. Desta vez, o conteúdo é exclusivamente religioso.

Esta é uma simples exposição cronológica da afirmação de "Sua Voz" no mundo; mas não a transcrevemos apenas a título de crônica, e sim para que por ela o leitor possa tirar todas as conclusões evidentes e altamente instrutivas.

Enquanto as coisas buscadas com mais força e mais tenazmente preparadas, raríssimamente conseguem no mundo o êxito merecido, um médium desconhecido, sem preparação, cético por muito tempo de sua própria mediunidade, sem meios e sem apoio, modestíssimo e fugindo de todo desejo de notoriedade, sem nenhum fim interesseiro, conseguiu ver, em tempo curto, suas mensagens, numericamente poucas, fazer a volta ao mundo e difundir-se rapidamente, automaticamente, e mesmo sem nenhuma intervenção sua, assim como se o fizesse por uma força secreta, própria, que emanava dos próprios escritos.

Deste mesmo médium, rebelde no cumprimento da missão para a qual era impulsionado, saiu aos poucos uma produção em que, já hoje, olhando-se para trás, se verifica um programa orgânico, definido, perfeitamente lógico, e isto sem que o próprio médium o percebesse, pois ele sempre ignorou e ainda ignora o objetivo a que tende sua produção. Devemos, até, ser-lhe muito gratos pela vida de rígida severidade espiritual a que se submeteu Ubaldi, em seu foro íntimo, para a exteriorização de seu particular dom mediúnico.

   Esse mesmo homem, de cultura e capacidade comum, produz uma obra mediúnica da mais profunda competência em todos os campos, de tal forma que ela se dirige, e os faz pensar, aos mais competentes de cada matéria, embora, ao mesmo tempo, seja vibrante, apaixonada, quase poética. Nessa produção os cientistas acham a solução aos mais árduos problemas científicos e os humildes choram de sublime comoção.

Não é tudo isso, já em si mesmo, uma prova, uma grande prova. Pode ser somente o homem Ubaldi que tenha em suas mãos os fios de tão emaranhada tessitura? ou não será preciso reconhecer — disto estamos convencidos — que uma força externa e superior o guia, usando-o como instrumento, dele se servindo para a realização de admirável missão, de que agora só podemos ver o início?

Os próprios cientistas, sempre prontos à crítica depreciativa contra o transcendente, não puderam opor-lhe uma só palavra; porque "Sua Voz" usa suas mesmas armas, desceu ao nível deles, perfeitamente dentro da lógica e da racionalidade. Muitos mesmo ficaram intimamente impressionados, talvez atordoados pelas afirmações e revelações que "Sua Voz" soube fazer com autoridade seguríssima, resumindo suas próprias conquistas e delas partindo. E alguns, dos mais sinceros e sem preconceitos, o quiseram mesmo reconhecer e testemunhar. Sem falar de Bozzano, de quem já falamos e cuja capacidade de julgamento nesta matéria é irrefutável, baste-nos citar o cientista e filósofo belga Prof. Schaerer, que nos escreveu: (.......) "A Grande Síntese continua a interessar-me apaixonadamente (.....). Julgo muito útil demonstrar que as comunicações mediúnicas podem proporcionar trabalhos de tão alto valor científico e racional" (.. .); e, no Bulletin du Conseil de Recherches Métapsychiques, ele mesmo escreveria  (.......) "a interessantíssima comunicação mediúnica recebida por Ubaldi, que é um médium excepcionalmente dotado para receber comunicações de ordem científico-filosófica (.....), A Grande Síntese trata de uma concepção monista naturalista de estrutura estritamente científica, cujo valor é indiscutivelmente enorme.

E ainda o Prof. Dr. Stoppoloni, catedrático de Anatomia descritiva, Histologia e Embriologia na Universidade de Camerino, que escreveu a Ubaldi: (....) "Sua bela mediunidade terá seguramente importância no campo científico e poderá fazer revelações científicas da maior importância para nós, especialmente num campo tão obscuro (.....). Tudo o que foi publicado em Ali del Pensiero, por você, que pouco ou nada sabe de química, é verdadeiramente surpreendente, porque os conceitos emitidos são realmente científicos e portanto de profundo conhecedor de química (......). Em sua série estequiogenética é dito, com clareza, que o número atômico 43, ocupado pelo Tecnécio, com peso atômico 99, deveria ter os caracteres dos corpos alógenos, ou seja do Bromo e do Iodo, que ocupam o número VII do sistema, e também do Flúor e do Cloro, do primeiro e do segundo setenário. Florêncio e Rênio, ainda não conhecidos em seu peso, volume atômico e valência, deveriam ser parentes próximos dos alógenos, não excluindo o número 85, que ainda permanece vazio (....). Esta parte está muito bem feita, clara e extraordinária porque escrita por um leigo" (... .) -

O leitor cético, ou curioso, perguntará, então: Mas quem é "Sua Voz"? Há alguns que, através dos textos das próprias mensagens, acreditam poder atribuir a proveniência direta nada menos que à mais alta das personalidades espirituais; o que para outros é um absurdo espiritual e racional, por razões que não cabe discutir neste artigo. Bastará, também aqui, trazer a palavra autorizada de Bozzano, que escreveu muito bem: (.....) "é melhor, portanto, concluir com as palavras do Prof. Mead, a respeito das manifestações de Confúcio, através do médium Margery Crandon: é mesmo indispensável admitir a intervenção direta de Confúcio? Qualquer que tenha sido o espírito comunicante, provou que é um profundo orientalista e um autêntico literato chinês. Repetirei o mesmo conceito a propósito deste outro caso, em que se fala de um nome muito mais excelso que o de Confúcio; lembrando, a este propósito, que a personalidade mediúnica de Imperator explicara ao Reverendo W. Stainton Moses que, quando se manifestavam personalidades espirituais; que forneciam os nomes dos grandes filósofos, ou de outras eminentes personagens vividas em épocas remotas, devia entender-se quase sempre que se tratava de discípulos, os quais, não sendo conhecidos e não podendo fornecer dados de identificação pessoal, mas querendo assim mesmo concorrer para dar aos viventes provas positivas da existência de um mundo espiritual, manifestavam-se em nome e com o consentimento de seu grande Mestre, com o qual estavam espiritualmente em relação à lei de "afinidade".

E nós acrescentaremos: a Verdade é uma só; e então, por que personalidades espirituais indubitavelmente e comprovadamente elevadíssimas como "Sua Voz", por Ubaldi, ou mesmo o "Mestre", pela Sra. Valbonesi, deveriam (e o poderiam?) falar uma linguagem diferente daquela usada pelos médiuns, se eles estão muito próximos de nós? Mas daí, para deduzir a identidade? Seria como dizer que cada pessoa que repete a palavra de Cristo, fosse o próprio Cristo! Além disso, que necessidade há de tal identificação? Muito bem escreve Ali del Pensiero, quando disse que "ao sequioso, não importava saber a fonte donde proviera a água"; o que importava é que ela fosse pura e cristalina.

Entretanto, "Sua Voz" prosseguirá em sua missão mundial, que agora já está seguramente provada como da mais alta importância. Que cada um de nós queira cooperar no trabalho benéfico de sua difusão.

“Assim é mister, onde quer que se possa”.

MARC‘ANTONIO BRAGADIN

Diretor da Revista Ali del Pensiero, de Milão.

Nota da Redação - Este artigo já estava na tipografia, quando soubemos que a Revue Spirite Belge publicará breve um estudo sobre A Grande Síntese e sobre a mediunidade de Ubaldi. Outro estudo, sobre o mesmo tema foi anunciado pelo Prof. Schaerer, no Bulletin du Conseil de Recherches Métapsychiques e no periódico Pour lá Vérité; todos os periódicos são belgas.

Além disso, uma análise laudatória e penetrante do mesmo assunto, com breve resumo de alguns capítulos da Síntese, foi feita pelo Prof. Trespioli, em seu livro Os Fenômenos, aparecido por estes dias. Entre outras coisas, afirma Trespioli: "Esta obra profunda e cheia de conceitos, e que produz certa sensação de surpresa e de verdadeiro atordoamento, escrita por Ubaldi sem o saber e sem que o soubesse, pode ser submetida à crítica e à admiração do mundo dos doutos: estes aí acharão, sem dúvida, "coisas conhecidas", mas que Ubaldi ignorava, e das coisas conhecidas verão deduções e conclusões "desconhecidas", talvez jamais, nem sequer imaginadas pelos competentes... Não comento, e muito menos julgo seu mérito; não saberia fazer. Mas o fato derrota indiscutivelmente as tolas afirmações de todos aqueles que, querendo rabiscar sobre fenomenologia, tomam como "modelos" as ingenuidades e tolices desfraldadas pela pseudo-mediunidade de neuróticos. Pode ser que a transmissão por meio de Ubaldi nem sempre seja perfeita, o que não impede que abundem as boas qualidades em A Grande Síntese, de tal forma que lhe conferem real valor científico".

Chega-nos, também um artigo de D‘Aragona, "Os cantos de um cisne", que brevemente publicaremos, a respeito da difusão de "Sua Voz" na América do Sul: artigo que apareceu a 12 de janeiro no Correio da Manhã, o maior diário do Brasil.

Julgamos que era nosso dever acrescentar todas estas notícias ao artigo acima, mostrando ao leitor que todos estes fatos novos e inesperados, acontecidos enquanto estava no prelo a revista, no breve espaço de uma semana, não podem deixar de surpreender-nos como esse movimento se desenvolve e caminha, com a regularidade e a segurança das coisas poderosamente predispostas e predestinadas. O que vem confirmar o que foi dito no artigo precedente.

Enquanto no prelo, soube-se ainda que saíram no Correio da Manhã, em 2 de fevereiro, outros dois artigos: "O ciclo mediúnico" e "Ruit Hora", e que sobre o mesmo assunto, aparecerá longa série de artigos, não só no Correio da Manhã, como no Reformador — Revista de Espiritismo Cristão, no Mundo Espírita e nos melhores órgãos da imprensa brasileira.

Querido Ubaldi

Você deseja um parecer global sobre A Grande Síntese. Tarefa difícil, porque se trata de uma obra demasiado densa de pensamento e demasiado variada em seus temas, para que se possa sintetizá-la num parágrafo global.

Apesar de tudo, eis o parágrafo:

Pedem-me um parecer confidencial sobre A Grande Síntese de Pietro Ubaldi. Respondo: Sumamente favorável sob todos os aspectos. Trata-se, realmente, de uma grande Síntese de todo o saber humano, considerado do ponto de vista positivamente transcendental, em que se estudam todos os ramos do saber, sendo esclarecidos e resolvidos numerosos problemas até hoje insolúveis, com o acréscimo de novas orientações científicas, além de considerações filosóficas, científicas, religiosas, morais e sociais, a tal ponto elevadas que induzem a reverente assombro. É uma obra que fará época na história das revelações mediúnicas, tanto mais que esta é a primeira vez que é ditado à humanidade um grande Tratado realmente original, de ordem rigorosamente científica.

Cordiais saudações,

Savona, 12 de Outubro de 1937

(A) Ernesto Bozzano

Das revistas: Il Mistero - ano III, nº 24, Setembro 1935. E Mondo Occulto - ano XVI, nº 2, Março - Abril 1936.

Ao ler as presentes obras, conseguidas pela mediunidade do sincero e grande "médium" Prof.  Pietro Ubaldi, merecidamente já célebre e amado, durante muito tempo permaneci pensativo e fascinado. Meditei que isto é um belo regresso ao proto-cristianismo, quando, após o sacrifício do Divino Jesus sobre o Gólgota, durante três séculos, as multidões viviam de forma perfeita e heroica a doutrina de Cristo, com os doutores e profetas em contínua e alta comunicação "mediúnica", com o "além" espiritual, com os sacerdotes e pastores, de vida sublimemente místico-ascética, a ajudar, com as santas comunidades crentes, a "sacrossanta" mediunidade dos profetas e dos doutores, no pleno domínio da "liberdade" de pensamento e de consciência, trazida pelo Cristianismo, que ainda não degenerara.

Mais tarde, com a chegada do cristão Constantino, as multidões pagãs profanas entraram em massa na Igreja Cristã; os sacerdotes dos deuses e o vulgo idólatra, transplantando para a nova Igreja as antigas dignidades é a velha mentalidade, paganizaram o sagrado ambiente cristão, afastando o verdadeiro "Reino de Deus", anunciado no Evangelho; depois, com a descida dos bárbaros, a queda do Império Romano e a destruição da gloriosíssima civilização greco-romana, terminou na Igreja e na sociedade a diretriz evangélica, cessaram as "mediunidades" e o "profetismo"; durante séculos, o "espírito" de Cristo e o "verdadeiro espírito" da Igreja permaneceram na sombra; ausente das consciências das pseudo-cristãs nações do mundo. Ao ressurgir a Europa na Idade Média, a Igreja ressurgiu, Cristo voltou e a Humanidade se tornou grande, recomeçando a comunicação direta entre o mundo terreno de provas e lutas e o além celeste, nossa verdadeira e eterna Pátria... Sim, voltou o Cristo e ressurgiu a Igreja, porque Cristo reina e a Igreja vive e governa apenas onde a Liberdade e Civilização são a vida das nações e do povo. Isto prova que Cristo é o enviado de Deus, que a Igreja é divina e santa como seu Fundador. Com efeito, olhai as nações e os homens da Terra: onde Cristo menos reina e onde a Igreja menos vive e menos dirige, a Liberdade e a Civilização não podem subsistir para elevar povos e indivíduos.

Considerei isso e o disse para demonstrar que o espiritualismo experimental, base positiva da Religião e prova científica do além celeste, nasceu em período de liberdade e de Civilização quando Cristo e a Igreja tinham achado, no mundo civilizado, sua estrada mestra e suas funções mais elevadas...

A mediunidade intelectual, além disso, é a alma do espiritualismo experimental, é a prova do ignóbil engano das hipóteses naturisticas contra o espiritualismo experimental, e "o divino" do espiritualismo moderno.

As presentes obras, fruto da mediunidade intelectual, obtidas por intermédio do médium Ubaldi, são a manifestação mais importante que a história, antiga e moderna, registra.

Para achar dignos confrontos, para fazer crítica adequada, para compreender seu "pathos" criador, é mister recuar nos séculos até a era proto-cristã, até à gloriosíssima grandiosidade da era apostólica, permeada de suprema mediunidade intelectual criadora.

Observe-se que também para a teologia católica, desde a mais inovadora até à mais reacionária escolástica, admite-se que a mediunidade intelectual pode existir, comunicando-se o homem com o bom anjo, de modo diferente à física, que é atribuída à natureza desconhecida ou ao demônio, de acordo com a mentalidade do teólogo. "Por isso", mesmo catolicamente, podem atribuir-se as obras presentes ao bom anjo, ou seja, ao espírito superior, tanto mais que elas nenhuma heresia contém, nem diante do Cristianismo católico-romano, nem diante do protestante e evangélico.

Portanto, o espiritualista piedoso conserva, depois de sua Bíblia cristã, em sua estante, com estima, as supracitadas obras.

Quem é o autor? Não nos importa: basta-nos seu divino e eterno verbo que nos conduz, a nós modernos, a Deus e à santificação...

LUCIANO GIUSEPPE CHIAREILO

Da Revista Constancia - Buenos Aires, ano LV, nº 2368, 3 de novembro de 1932.

Senhor Prof. Dr.  Pietro Ubaldi.

Querido Ubaldi,

Pede-me você um julgamento sobre a "Mensagem do Perdão". Ei-lo em poucas palavras: "Estupendo! Contém passagens tão sublimes em sua cósmica grandiosidade, que infundem quase uma sensação de terror sagrado".

Pergunta-me também se, pelo texto, será possível identificar a Entidade comunicante. Parece-me que dela transparece claramente quem é que se manifesta: "Deus, perdoa-os, não sabem o que fazem" (.....). "Por vós me deixaria crucificar outra vez"(....). "Não queirais renovar-me as angústias do Getsêmani" (.....).

Infere-se que deve tratar-se nada menos que de Jesus Nazareno. E, do ponto de vista da investigação científica, isto constitui o ponto crítico das mensagens desta natureza, dessas que deixam perplexo o ânimo do leitor, porque se revestem de sublimidade semelhante às que você recebeu; se se trata de investigadores que, como eu, já estão convencidos experimentalmente da verdade irrefutável das comunicações mediúnicas com entidades de desencarnados, poderão convencer-se com facilidade da veracidade da fonte donde emanam as mensagens; todavia, isto ocorrerá sempre por força de um "ato de fé", embora neste caso esta se baseie na experiência adquirida nas investigações mediúnicas.

Infelizmente, todavia, se se deseja convencer o mundo, e mormente os homens de ciência, a respeito do importantíssimo fato da existência e da sobrevivência do espírito humano, fazem falta fatos, induções e deduções de fatos. Foi a este último sistema de investigação positiva sobre o mistério do ser, que eu me dediquei invariavelmente. Isto não impede, no entanto, que esse sistema possa aperfeiçoar-se e completar-se, com o acréscimo dos ensinamentos e da luz espiritual que podem trazer-nos mensagens mediúnicas de tão grande elevação que se impõem à razão. E este, precisamente, o caso das mensagens recebidas por você.

Você me pede um conselho sobre se deve continuar ou ao invés suspender o exercício de sua mediunidade, orientada nesse sentido. Respondo: "Cada um tem sua própria missão. A minha era o de contribuir, na medida das minhas forças, para convencer os homens de ciência, com base nos fatos; a sua, parece ser a de trazer à humanidade pensante mensagens elevadíssimas, de ordem moral e espiritual, e que estão destinadas a tornar-se um dia, as únicas importantes para a evolução espiritual dos povos.

Prossiga, portanto, em sua missão.

Afetuosas saudações,

Savona, 14 de Outubro de 1932

(Prefácio da quarta edição italiana)

Edição aprovada pela autoridade eclesiástica, lançada pela casa editora "Cultura Religiosa Populare" - Viterbo, 1945

Estas mensagens, escritas em 1931-1933, sem nenhuma preparação nem premeditação orgânica, apresentam-se, todavia, com sucessão lógica, pois cada parte aparece a seu tempo e lugar, enquadrada num organismo conceptual. Embora seu escritor não houvera podido saber então, nem sequer prever, estas Mensagens estão em plena coerência com o desenvolvimento sucessivo da atual hora histórica, que se desenrolou exatamente no sentido previsto. Os motivos dominantes nestas Mensagens são a expectativa de nova civilização do espírito, a aproximação de grandes mutações em todos os campos, e de um cataclismo mundial, que agora se realiza. É um fato que, depois de dez anos, se cumpriu aquela nítida previsão, em acontecimentos que hoje dominam o momento histórico. Trata-se de previsões nas grandes linhas, passando por cima dos pormenores da realização. Isso tudo faz prever que o vaticínio continuará a verificar-se. Esta visão da hora atual e de seus problemas mais profundos é um anúncio de nova era e preparação para a sua chegada.

Estas mensagens foram escritas sem preparação alguma, em etapas sucessivas, que são datas significativas e importantes, ou seja, o Natal de 1931, a Páscoa de 1932, 2 de agosto de 1932, até culminar na Páscoa de 1933, XIX centenário da morte de Cristo, e continuam como um eco, dez anos depois, na Páscoa de 1943. São como um toque de reunir, um primeiro clangor de trombeta, um supremo apelo ao mundo na véspera de acontecimentos apocalípticos. Cada uma dessas Mensagens, afinando-se com a data em que foi escrita, possui um conteúdo próprio e particular. Quem os compilou, só pôde verificá-lo após terminar o trabalho.

Essas Mensagens tiveram larga difusão, traduzidas no exterior, da Europa à Indochina, mas sobretudo na América do Sul", Calcula-se que só a Mensagem do Perdão (escrita perto de Assis, no dia do Perdão da Porciúncula de São Francisco de Assis), tenha tido cerca de meio milhão de cópias, em divulgação espontânea. Certa revista comentava assim este caso: "Raramente obtêm tão rápido e espontâneo êxito, no mundo, outras coisas fortemente queridas e habilmente preparadas. Neste caso, ao invés, um homem desconhecido, sem preparação, durante muito tempo hesitante a respeito da oportunidade de divulgar sua produção, sem meios e sem apoio, modestíssimo e fugindo da notoriedade, sem fim algum interesseiro — viu sua produção, oferecida timidamente, fazer com rapidez a volta ao mundo, difundir-se em pouco tempo, automaticamente, como por uma força própria. Neste fato, muitos poderão descobrir uma prova.

Aqui se torna necessário um esclarecimento. Pietro Ubaldi, em Gúbio, que escreveu estas mensagens, não quis colocar seu nome no fascículo, desejando que sua pessoa desapareça no silêncio e que só o fruto de seu trabalho permaneça para consolação do próximo. Existe, pois, um Autor mais alto, que fala aqui às inteligências e aos corações, na atual hora histórica, apocalíptica e solene? Se a imensa divulgação prodigiosa, já rapidamente conseguida, sem pressão de ninguém, pode constituir uma prova de que a ação da Providência e da vontade de Deus esteve presente a tudo isto, a maior prova a sentirá em si mesmo, cada alma, ao ler e ouvir a poderosa vibração que parece emanar, irresistível, mas doce, profunda de pensamento, e, no entanto, palpitante de sentimento e de bondade, das palavras das Mensagens. A verdadeira prova das origens desta inspiração que ditou as presentes Mensagens, cada um a achará em si, na resposta, na emoção, na convicção que sentirá nascer espontânea no profundo de sua consciência.

Mas o leitor perguntará: Quem fala, dizendo "Eu", num tom tão alto? A inspiração não é coisa nova, especialmente na religião. É possível, portanto, neste caso, e não podemos negá-la a priori. Mas sabe-se, também, que Deus costuma manifestar-se mais frequentemente, indiretamente, por meio de instrumentos; e não é novidade que, em semelhantes casos, não costuma dar, de imediato, provas tangíveis, porque parece querer exigir a nossa fé e prefira fiar-se e confiar-se apenas a quem segue seus caminhos. E que direito temos de pedir a Deus, a cada passo, a exceção e o prodígio, para acreditar em suas palavras? Não nos deu Ele o sentido da verdade na consciência, para reconhecê-las? Aproximemo-nos, portanto, delas com alma pura e reconheceremos se são falsas ou verdadeiras. Esta é a prova de fogo.

O instrumento inspirado que as escreveu, nelas oferece sinceramente com a fé de quem as sentiu, deixando a cada um o julgamento. Nada mais sabe ele dizer-nos senão isto: sentiu que essas mensagens descem da direção de Cristo, chegando às vezes a uma relação tão imediata e transparente, que lhe dá a sensação da presença, num contato de alma, do próprio Cristo. De acordo com sua potencialidade ou pureza, cada consciência indagará de si esse mistério, e de acordo com sua capacidade, há de vibrar e de sentir, encontrando em si mesmo uma resposta, especialmente em relação a Cristo.

A EDITORA