"S. Vicente, 12 de maio de 1962.

Nazarius,

Recebi sua cartinha e o cheque, pelo qual lhe fico muito agradecido, porém com muito remorso pelo seu sacrifício, isto eu não quero.

Na campanha, o Cônsul se dirigiu a todos, mas você não tem que repetir isso.

Os que mais responderam a esta campanha foram os pobres e os humildes. Os grandes e ricos, nada. Chegou um pouco da Itália, um pouco da América Espanhola. Do Brasil nada, excetuando dez contos de uma amigo de S. Paulo e os seus cinco contos. Alguns não fizeram nada, ainda estão criando dificuldades, uma contra-campanha.

Ter reserva não adianta, quando a moeda que colocamos de lado se desvaloriza por ela mesma. Precisa produzir alguma coisa para vender. Estamos pensando em implantar uma loja de cabeleireiro para senhoras. Será um Instituto de beleza, para servir às senhoras granfinas.

Eu faço as compras de manhã para as refeições, muito simples agora, só um prato. Continuo com o trabalho de enfermeiro. Médicos, exames de laboratório e remédios chegam a vinte contos por mês.

À noite não posso mais escrever, porque tenho que deitar-me cedo, para levantar-me cedo. Muito trabalho durante o dia. Qualquer empregada foi esquecida, temos de fazer, também, todas as limpezas.

Estou com a cabeça cheia de idéias, mas não dá mais tempo para escrever. Sei que é um crime, mas não sou eu que o faço, e isto me basta.

Qualquer aumento de ordenado não basta para suprir o aumento do custo de vida. Para você sim, porque não tem filhos e tem uma mulher que cuida de você. É um grande senhor, afortunado. Estou feliz por você.

Na fase atual, por algum tempo, se houver pessoas que possam ajudar-me em Campos, será bem útil, pelo menos até que não implante o novo sistema de vida. Melhor seria, apesar de pequena, uma quantia mensal. Mas isso não de sua parte.

Saudades de todos daqui. Um grande abraço agradecido do seu

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Qual o chefe de família que não estaria muitíssimo preocupado? Doenças, gastando muito, e sem plano de saúde, além das despesas normais e de condomínio. Aposentadoria pequeníssima, diante de tantos gastos. Pietro Ubaldi só não ficou desesperado porque tinha certeza de que Deus é o melhor Patrão do mundo e providenciaria os recursos na medida de suas necessidades, apesar de ser um Patrão invisível, em nossa concepção.

Para mostrar como Deus é um excelente Patrão, ao escrever Um Destino Seguindo Cristo, dedicou-Lhe um capítulo: “Investimentos no Banco de Deus”. Eis aqui um parágrafo:

“O banco de Deus atua com princípios diversos aos do mundo; é amigo do cliente e o ajuda em tudo aquilo que este tem necessidade. Com previdência total, sustém-no em cada precisão, seja qual for; acompanha-o no desenvolvimento de seu destino, no cumprimento dos seus deveres; conforta-o e o ilumina moralmente; procura o bem para ele e lhe dá forças para que busque para si, inclusive aquilo de que precisa para viver. O cliente, por sua vez, é amigo do banco e o segue, enquadrando-se disciplinadamente na sua ordem, confiando-lhe todos os seus valores, cumprindo todo o dever, obedecendo ao seu regulamento de absoluta honestidade que o estabelecimento observa, tudo em regime de mútua confiança e de inviolável justiça. Cada valor depositado no banco de Deus recebe os seus juros equitativos. Se ele concede empréstimos, não há possibilidade de usura. O valor de cada boa ação dá o seu fruto, que fica propriedade integral de quem a praticou. Não há rivalidade, nem possibilidade de evasão da justiça; não existe perigo de perda por furto, inflação, desvalorização monetária, crises econômicas, erros de contabilidade, desastres, guerras; não há necessidade de controle administrativo, de coesões disciplinares, de desconfianças e defesas. O banco de Deus não engana, não comete erros, nunca entra em falência. O interessado está garantido de modo absoluto.”

Pietro Ubaldi investiu no Banco de Deus, seu crédito é grande e ficou fora de qualquer falência. Ele sabia disso. “Estamos nas mãos de Deus.”