"S. Vicente, 6 de maio de 1957.

Nazarius,

A viagem de retorno da Ilha de Paquetá foi ótima. Agradeço-lhe pela sua cartinha.

Transmiti a todos o seu abraço e suas lembranças, que foram bem recebidas e lhe retribuem. Assim você vai aprendendo um sistema desconhecido neste país, onde moramos, sistema duro mas honesto; enquanto aqui domina o sistema mole, agradável, delicado, sem choques, mas traidor. Isto representa uma ferocidade escondida, que é muito mais perigoso. Apegue-se ao sistema da honestidade dura, mas singela, nunca ao outro da gentileza aparente e doçura mentirosa, como se costuma no mundo, atrás da qual está só traição. Este segundo Sistema semeia rosas para recolher espinhos, o outro semeia espinhos e recolhe rosas. Se a nossa amizade continua cada vez mais sólida, é porque está apoiada no primeiro sistema, em que as conversas são francas e espontâneas. Depois da Escola Jesus Cristo, chegou para você esta outra escola, prática e verdadeira, que lhe foi outro curso.

Procurarei sempre ser um pai, ensinando-lhe os conceitos que você observa na minha vida real. A vida é um caminho que está mudando a cada momento.

O encontro foi útil, também para você. Vejo que não esquece e, à sua maneira, vai assimilando muita coisa, escolhendo o melhor e adaptando-o ao seu temperamento. Todos fazem o mesmo em todas as religiões.

Procure esclarecer bem o seu pensamento à sua noiva. Que ela compreenda bem para que não nasça mal-entendido, que depois será difícil de resolver.

Pense em tudo isto.

Saudades a todos os seus. Que Deus o proteja e ajude sempre.

Um grande abraço,

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Após dez dias (27 de abril até 6 de maio) de descanso na Ilha de Paquetá, Nazarius retornou ao seu trabalho no Rio de Janeiro.

O discípulo assimilou bem todos os conceitos do mestre. Bebia, com avidez, os seus ensinamentos. Até hoje ainda se recorda das lições apreendidas naquela ilha e registradas em seu diário, sobre a moral de Deus, do mundo e a que o homem faz sua. A do Criador é ampla, universal, justa, bondosa, plena de Amor e de sabedoria, sempre ligada à Lei. A moral do mundo é convencional, de acordo com a sociedade e aprovada pelos governos, sempre em mutação. A moral que o ser humano faz sua é a que lhe vem à cabeça, de acordo com sua maturação biológica.

O funcionamento da Lei de Deus na vida de cada um era um tema em constante abordagem, porque todos os acontecimentos da vida do mestre eram estudados sob esse prisma. Também fatos da vida de Nazarius e de algumas pessoas mereceram a mesma consideração.

Notável, foi a experiência feita com a noiva de Nazarius, diante de uma carta sua. Com facilidade, o Professor sintonizou-se com ela e descreveu, com detalhes: entrada da casa, os móveis, o que estava fazendo naquele momento (lavando roupas e cantando), a sua estatura, a roupa que estava usando etc. A descrição foi tão minuciosa e perfeita que não pairava qualquer dúvida sobre a veracidade dos fatos. Ao terminar, pediu a Nazarius que escrevesse a sua noiva pedindo-lhe confirmação da revelação feita. A carta foi remetida e a resposta chegou em alguns dias depois, confirmando tudo.

A lição deste fenômeno: o ser humano é dotado de um potencial extraordinário a ser desenvolvido, sobretudo no campo vibratório. Usamos muito pouco os recursos que temos em estado latente. No capítulo “Corolários – Fé e Razão” do livro Ascese Mística, de Pietro Ubaldi, encontramos um estudo bastante amplo sobre o estado vibratório do ser, do qual extraímos este pensamento: “Se nos pusermos em posição de resistência, em estado vibratório fechado, qual se nos recusássemos a subir, então nós mesmos nos determos e nos privaremos da recepção amplificada que desce das correntes vivificantes e difusas no todo.” Daí se conclui: temos que abrir nossos canais para receber e transmitir, para isso é necessário subir, subir, subir sempre...