"In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in principio apud Deum. Omnia per ipsum facta sunt; et sine ipso factum est nihil quod factum est". (No Princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Tudo foi feito por Ele; e nada do que tem sido feito, foi sem ele) _ João, 1:3

Procuremos agora responder à pergunta proposta no início do capítulo precedente.

Que significa Verbo? Somente agora, após as preliminares desenvolvidas neste capítulo, nos é possível começar a compreender. Vejamos se as palavras de João realmente confirmam a visão precedente, se esta que vimos é a chave para explicar o misterioso sentido daquelas expressões. Isto nos dirá se o pensamento de João, no seu Evangelho, coincide com a nossa própria orientação. A verdade é que, como logo veremos, se partirmos desta nossa concepção, a obscuridade daquela incompreensível linguagem subitamente se ilumina e adquire um significado evidente. E, então, se ambas as visões se sobrepõem e coincidem, clareando-se e confirmando-se reciprocamente, segundo as linhas de um mesmo sistema, aí está a prova de que elas se originam de uma mesma fonte de pensamento, de modo que ou se aceitam as duas ou se rejeitam ambas. E se a concepção de João exprime a realidade, então a nossa visão deverá concordemente correspondê-la; a menos que se queira negar a revelação do Evangelho.

Vimos que, para o homem, verbo significa conceito que se torna ação, isto é, significa a ideia abstrata, o esquema feito de puro pensamento que se dinamiza e assim se transforma em ato, dirigido no sentido da forma pela qual ele se manifesta e que o exprime na realidade sensível e concreta. Qualquer coisa feita pelo homem existe, em um primeiro momento, em estado de esquema abstrato, que é dela o modelo ideal, a concepção que antecede à gênese, a ideia-mãe. Tudo já existe em germe no pensamento do homem que cria, sem ter nascido ainda. Num segundo momento ela começa a surgir, tomando forma através do processo construtivo da sua gênese, em razão de um estado cinético, assumido pelo “eu” pensante, que passou à ação. Quando, com esse processo construtivo e estado cinético, se mescla inteiramente a ideia-mãe, o modelo ideal adquire a sua completa expressão na forma, que é o terceiro momento, o qual contém os dois primeiros, como está neles contido.

Já vimos que este é o mesmo esquema que encontramos no máximo caso limite de Deus, que cria o universo. O Verbo, pois, de que fala João, é o segundo momento do processo criador, o da gênese, em que o conceito se torna ação, em que o esquema abstrato formulado na mente de Deus, dinamiza-se e se transforma em ato. Que João se refere à gênese está provado pela primeira frase - "In principio", logo repetida. Ela vale, assim, como ponto de referência, como o exige o ingresso no relativo, onde tudo existe de tal forma, com relação a outros pontos, e não é concebível senão daquela maneira. Então, com efeito, se entra no tempo, coisas todas estas existentes no primeiro momento da concepção abstrata, precedente ao da gênese, momento situado no absoluto e na eternidade. E João logo a seguir particulariza: "Omnia per ipsum facta sunt; et sine ipso factum est nihil quod factum est"10 . Este "factum", repetido três vezes, nos projeta de imediato na obra completa que, se em um primeiro momento estava apenas  no estado de conceito na dimensão consciência, e, em um segundo momento, no estado cinético de atividade construtora, na dimensão tempo, atinge agora o terceiro momento do processo em que ela se opera, assumindo a forma concreta na dimensão espaço, com a gênese da matéria. Eis o que, significa "factum".

João sabe que está falando ao homem. Preocupa-se, pois, principalmente com o universo em que ele vive e que, por isso, mais lhe diz respeito. Para tornar-se compreensível, estabelece logo na sua oração este ponto de referência. E porque deseja permanecer compreendido, João diz em seguida: "in principio" e "factum". Mal, porém, sobe às causas, eis que é constrangido a referir-se ao conceito que as expressões aludidas implicam e somente do qual elas podem derivar: o Verbo. Este representa o segundo momento, o da ação criadora, a que se deve a gênese de que se fala aqui. Ele, como autor desta criação, é o sujeito natural da oração. Temos, portanto, aqui três conceitos logicamente conexos: "Verbum, principium, factum" . Por isto, aqui os encontramos reunidos na lógica de uma mesma oração.

João, entretanto, não pode deixar de fazer algumas rápidas  referências a origens mais remotas, enquadrando o ato criador do Verbo no esquema máximo, que abrange os três momentos mencionados. Assim, enquanto nos diz que no início de nosso universo, para nós início do ser, existia o Verbo, ação criadora, e tudo era feito por Ele, diz-nos também que o Verbo estava junto de Deus... "et Verbum ‘erat apud Deum, et Deus erat Verbum Hoc erat in principio apud Deum". Eis os três momentos:

1)    a formação conceptual do modelo: a ideia;

2)    o processo construtivo da gênese: a ação;

3)    a expressão da ideia na obra executada: a criação.

O Verbo representa o segundo momento, o da ação e da gênese. O terceiro momento é dado pela criação, esta que vemos: "Omnia per ipsum facta sunt". As palavras de São João mencionadas acima referem-se ao primeiro momento e não podem ser compreensíveis senão neste sentido.

E João explica, efetivamente, que como o terceiro momento deriva do segundo, assim também o segundo deriva do primeiro. É claro que a criação deriva do Verbo: a ação, mas o Verbo - ação, deriva da ideia: mãe da ação. O Verbo estava de fato junto de Deus, isto é, a ação estava junto da ideia; o processo construtivo da gênese estava ainda latente, no estado de formulação conceptual do modelo. E a ideia era a ação, porque já a continha em si, em germe. E no princípio, quando a ideia se moveu em ato, tudo isto estava junto da ideia, que continha em si os três momentos em germe, como quotidianamente sucede em nossa atividade humana. Se, pois, no princípio de nossa criação, existia o Verbo - a ação; antes do princípio existia Deus - a ideia; junto do Qual estava o Verbo - a ação. E a ideia era a ação. As expressões de João são assim, claramente compreensíveis. Aqui ele, em poucas linhas, planta magistralmente o problema Deus - Universo. Em outros termos, estabelece o conceito base, seu ponto de partida, o da Trindade do  Uno, nos seus três momentos constitutivos.

Nestas primeiras linhas de João temos, efetivamente, três conceitos: 1) Deus, 2) Verbo, 3) o Todo feito por seu intermédio. Estas três unidades estão assim conexas: o Verbo, que estava junto de Deus, fez o Todo. Há aqui um conceito de derivação, de descendência, de filiação no seio do Uno, que se transmuda nestes seus três momentos. Ele permanece, assim, invariavelmente ‘Uno, ainda que vindo a existir em três aspectos diferentes, que são sempre Seus, em que Ele continua idêntico a Si mesmo. Exposto desta maneira e assim apresentado à forma mental humana comum, certamente o princípio do Uno - Trino se torna incompreensível e não  pode deixar de ser considerado um mistério. Mas, se substituirmos aos três conceitos acima expostos o seu valor equivalente, de acordo com a nossa forma mental racional, então tudo se torna evidente. Substituindo a palavra Deus pela de concepção, de ideia; a palavra Verbo, dinamismo, ação; a palavra Todo, por expressão, obra executada, o criado - então o processo da íntima distinção do Uno, Deus, nos três momentos a que se deve a criação, é compreensível. Isto tanto mais, quanto o processo se repete diariamente no homem que age e cria, e, assim, tudo quanto existe encontra cabal explicação na sua gênese. Deus permanece sempre Deus, em cada um dos Seus momentos. É Deus, no Seu primeiro momento de concepção abstrata, como Ideia. É  Deus em Seu segundo momento de ação, a gênese, como Verbo. É  Deus no Seu terceiro momento de obra realizada, como o Todo criado.

Eis como encontramos em João a confirmação da verdade do princípio fundamental de A Grande Síntese, o da trindade da substância. O mistério é, assim, explicado, da mesma forma que a gênese de nosso universo, reportada até às suas primeiras origens. Isto de acordo com a lógica de nossa mente e consoante os princípios desenvolvidos em nosso modo de agir, assim como com as conclusões da ciência.  Além da confirmação de João, que representa a Revelação, o sistema se apresenta racionalmente completo e persuasivo. Não remanescem resíduos e a criação física não é excluída, isolada, fora do sistema, o que significaria desequilíbrio, desarmonia inadmissível. A criação situa-se no sistema como seu último momento, da mesma forma que o corpo, no sistema do ser humano, também ele composto, uno e. trino, à imagem de Deus, é formado. dos mesmos três momentos: 1) alma, ideia: 2) vida, a energia criadora; 3) corpo físico, a última, expressão concreta, o momento final do processo derivado dos dois primeiros. Em todo o caminho percorrido até aqui, a compreensão da estrutura do universo, tão orgânica e harmônica, claramente nos indica que o princípio de analogia não é arbitrário, pelo contrário, o seu concurso é probatório.

Só assim se compreende como as religiões estão com a verdade, quando dizem que o universo foi criado do nada. E quando a ciência afirma que nada se cria e nada se destrói, também ela diz uma verdade. As religiões viram o processo antropomorficamente, referindo-se ao segundo momento, à ação criadora do Verbo, pela qual o universo físico tem o princípio como tal, porque "como tal", ele antes era o nada. A ciência, ao contrário, teve que ouvir a voz da realidade, como lhe indicava a experiência, e essa voz lhe fala na indestrutibilidade da substância. A ciência, que não é intérprete antropomórfica da revelação divina, mas aderente aos fatos, em que está impresso o pensamento de Deus, teve de enxergar mais a fundo. Desta diversidade de pontos de vista, derivam as dissensões. E quanto mais a ciência progride, cada vez mais desantropomorfizando-se, tanto mais profundamente deverá encontrar-se com este divino pensamento. Ele é o Deus imanente, que é a alma das coisas e representa a sobrevivência do primeiro momento até o terceiro, isto é, a sobrevivência da ideia na obra completa, no criado, sua derivação. Retirai de todas as coisas este seu íntimo pensamento animador — o Deus imanente —, e elas cessarão de existir.

Pode-se agora compreender como a imanência de Deus no criado é uma necessidade lógica de todo o sistema, dada a sua estrutura trino-unitária, isto é, não passa da permanência do primeiro momento, a ideia, até no terceiro momento, a forma. Não pode ser de outra maneira, uma vez que se trata de um único processo do qual a subdivisão em três aspectos não fragmenta, de modo nenhum, a unidade do sistema, e no qual a Substância, embora mude de modo de ser, não deixa de ser sempre a mesma Substância. E, por isso, a ciência teve de comprovar, também em nosso mundo físico, a indestrutibilidade da Substância, o que é uma característica do eterno e do absoluto.

Até este ponto nos trouxe inexoravelmente a lógica e não pudemos desmenti-la, a menos que queiramos renunciar a resolver o problema e a compreender o mistério. Assim tudo está claro. De outra forma tudo se confunde nas trevas. Agora é fácil ver que estes conceitos até aqui expostos são os que se ocultam sob as três palavras: 1) Espírito, 2) Pai, 3) Filho, usados nas religiões. O Espírito representa o primeiro momento da Trindade do Uno, o puro pensamento a ideia não ainda em ação. Dele deriva o segundo momento, quando a ideia, dinamizando-se, encaminha-se para a atuação. Eis o Verbo gerador, o Pai, de que nasceram todas as coisas. Do Pai deriva o terceiro momento, a obra completada, a forma concreta em que a ideia-mãe encontra a sua final expressão, o Filho. Cada momento está no Todo e o Todo está em cada um. Eis as três Pessoas iguais e distintas componentes do Uno e cada qual sendo também o Uno.

Mas prossigamos na leitura do Evangelho de João, para nele encontrar novas confirmações. Para facilitar a sua compreensão, traduzimo-lo agora, repetindo as palavras já transcritas: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele no princípio estava com Deus. Tudo foi feito por meio Dele e sem Ele, nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam".

Deus, como Verbo; é, portanto; o princípio da vida, aquilo que a medicina procura, em vão, retalhando os corpos e que acredita ser efeito, quando é a sua causa. Mas o princípio da vida é o Espírito, origem do ser, de cuja natureza a alma humana, que é uma centelha sua, conservou as características: pensar e conceber. Do Espírito derivou o Verbo, isto é, o dinamismo vital, e irrefreável potência criadora das formas.

Encontramo-nos ainda no início da criação: (. . .) "tudo foi feito por meio Dele (. . .), Nele estava a vida". Mas eis que, apenas determinado no seio de Deus este impulso dinâmico, como segundo momento do Seu ser, João fala em seguida de luz e de trevas. Por que? Aqui está o ser mal saído do regaço da concepção materna. Ele começa a viver, isto é, a existir como individualidade autônoma. E este viver expressa o seu ser e é a sua luz, visto que, com a gênese, o espírito que se tornara distinto no seio de Deus (cada um distinguindo-se dos seus espíritos irmãos), qual “eu-sou”, isto é, como indivíduo em si, adquiriu uma consciência própria. Eis que, apenas isto ocorreu, ao lado desta luz, que mal se acendera, surge a sombra, o oposto, o negativo, que se contrapõe ao positivo. "A luz resplende e as trevas não a compreenderam". Nasce no sistema o anti-Sistema, a cisão, a queda dos anjos já descrita, o dualismo que dará de si o cunho fundamental a esta vida que nasceu. Mal o Verbo entra em ação, o sistema se fraciona no dualismo: luz - treva, bem - mal, verdade - erro etc., e surge o nosso universo corrompido.

Eis aqui enquadrada em visão ainda mais vasta, expressa pelas palavras de João, as precedentes visões da revolta e do desmoronamento. As trevas são os espíritos rebeldes que não compreenderam a luz. A palavra "compreender" nos transporta, sem mais delongas, ao primeiro momento, ao do puro pensamento, o do Espírito, em que os seres eram puras centelhas de Deus no Seu primeiro aspecto: a ideia. Neste primeiro momento, antecedente do segundo, o do Verbo, ocorreu a inversão da compreensão em incompreensão. E, então, podemos agora alcançar o mais íntimo significado do Cap. XVI: "Deus e Universo" (2ª parte), do volume Problemas do Futuro, em que a presente e mais profunda intuição se encontra apenas em forma embrionária. Ali recordamos que a Eucaristia, instituída com o partir do pão na Última Ceia, representa a gênese. Esta distinção do Uno em três momentos, pela qual o Espírito, a ideia, desce à ação e esta, à forma, pode coligar-se à divisão do pão, pela qual Cristo, o Verbo, feito forma, o Pai no aspecto de Filho, dá-se em sacrifício. E pode representar também o mais amplo sacrifício da Divindade que, seguindo na queda os espíritos rebeldes, fica entre eles; entrelaça-se ao seu trabalho de redenção, amparando-os e se lhes unindo; deixa-se desmoronar na forma (imanência), para reconstituir-se, voltando a evoluir, isto é, reconstruindo-se em unidade através deles. A paixão de Cristo não seria, então, mais do que um momento dessa paixão muito maior.

Mas esclareçamos ainda melhor. Vimos acima que, sem a imanência de Deus em tudo o que existe, nada poderia existir. E mais adiante, no cap. XV: "À procura de Deus", chegaremos à confirmação e conclusão, de que, na profundeza do próprio "eu", o ser possui o divino. Ora, a presença de Deus no Seu aspecto imanente, como alma das coisas, representa a sobrevivência do primeiro momento, da ideia, até o terceiro momento, o da forma. Sem a ideia que define, sem a energia que constrói, não pode haver forma. A existência não pode ser dada e não se pode manter senão por esta íntima e última substância, por este "eu sou" menor, centelha do grande "Eu sou", ou seja, emanação de Deus!

Ora, esta necessária imanência de Deus, esta permanência da Sua presença em tudo o que existe, e sem a qual nada pode ser, prova que Deus desceu com a criatura e na criatura, acompanhando-a em sua queda. Ainda que se conservando invulnerável e intacto em Seu aspecto transcendente, Deus desmoronou na imanência com o ser caído, com o qual se fundiu e que representa quase que um Seu aspecto de desfazimento, devido ao desfazimento da criatura, emanação Sua, pois, não obstante tudo, Ele continua a existir nela.

Tal é a íntima afinidade entre Quem gerou e quem foi gerado, que o desmoronamento pela revolta não podia romper esta ligação substancial. O anjo rebelde é sempre filho e não ficou nem órfão, nem relegado ao abandono. Os vínculos entre filho e pai se ofuscaram, velaram, mas não foram destruídos. Não podia ser permitido à revolta, pelo arbítrio da criatura, alterar o princípio fundamental do sistema: o Amor. E o Amor quis que Deus seguisse a criatura na sua queda para ajudá-la a ressurgir dela.

Só assim é possível compreender por que Cristo tenha encarnado na Terra, e por que a Sua paixão para redimir-nos. Ele, espírito puro que não conheceu o pecado, Filho de Deus, como nós, mas não rebelde, emanação de Deus, como todo espírito, quis seguir a criatura em sua queda, para redimi-la e permitir-lhe subir a Deus. E Ele, o Cristo, quis dividir o pão para sintetizar neste ato o Seu sacrifício de Ser perfeito, que segue a criatura caída na imperfeição, no caso particular de nosso planeta e humanidade. Mas quis dividir o pão para dar-nos em síntese a chave de um mistério ainda maior, para indicar-nos um sacrifício mais amplo, do qual o Seu era apenas um momento: um sacrifício cósmico de toda a Divindade, Que divide a Sua unidade nos Seus três momentos; Que do trono da Sua transcendência, da perfeição no absoluto, precipita-se na imanência, no transformismo do relativo (v. início do cap. "Visão-Síntese"), do seu aspecto de puro espírito até à forma, porque só esta Sua imanência pode operar a redenção pela evolução. Santa, bendita imanência por tantos negada, fruto de infinito Amor, sacrifício cósmico, ao qual a criatura deve a salvação. Tudo nos indica, juntamente com esse ato de dividir o pão pouco antes do sacrifício, uma paixão em que, mais do que Cristo na Terra pela humanidade, é Deus que se crava numa cruz cósmica para redimir o universo desmoronado. "O universo inteiro é a imensa cruz na qual está pregado o Pai" (G. Papini - Cartas do Papa Celestino VI).

Esta ideia do desmoronamento, em que a criatura arrasta consigo na queda a divina centelha que a anima, pode parecer que logicamente não seja conciliável com a ideia da. criação  operada por Deus. Impõe-se compreender, porém, que tal desmoronamento, confirmado por tantos fatos, implica, ao contrário, justamente a ideia de criação operada por Deus no sentido de que não foi um abandono em si mesmo, mas guiado e dirigido sempre por Deus com a Sua imanência. Nela subsiste a obra de Deus, salvadora por Amor. Deus permitiu o desmoronamento de acordo com uma lei, que é a Sua imanência, a sua presença salvadora. É este fato que faculta ao ser decaído reascender do caos à ordem, reconstruindo o edifício desmoronado. Sem esta imanência de Deus no criado, o caos continuaria sempre caos, ignorando o princípio da evolução representado pela presença de Deus nele, ignorando o princípio da redenção no sacrifício, como nos foi ensinado por Cristo.

Fato maravilhoso é saber que, no fundo desse caos, está latente o princípio de ordem com a presença da Lei de Deus, sem a qual ninguém atingiria a salvação.

O desmoronamento não ocorreu ao acaso, nem a criatura ficou só. Deus guiou o desmoronamento com infinita sabedoria, permanecendo junto à criatura para reerguê-la até Ele.

E tudo isto é a obra de Deus, é a maior maravilha da Sua criação.