Embora a ciência e o progresso tenham caminhado, a dor, se não cresceu, pelo menos não diminuiu.

A espantosa irracionalidade do racionalismo moderno não alcançou esta verdade elementar: opressão, extorsão, violência, são forças negativas que por isso se destroem e jamais poderão construir, porque essa função construtiva só se pode encontrar nas forças positivas, que são a convicção, a colaboração, a confiança.

O racionalismo não compreendeu que o materialismo é um impulso negativo que tende à destruição de tudo, inclusive de quem o pratica. É verdade que ele acredita poder prescindir da alma, como o negar-lhe a existência. Mas o homem permanece um ser com alma. Ele não é um número, uma máquina de produção, um cálculo econômico. É um ser humano. As construções do racionalismo moderno são construções contra as quais a vida se rebela. E a vida esfrangalha tudo que lhe constitua obstáculo. Certas leis que representam o pensamento e a vontade de Deus não podem ser plasmadas por nenhum poder humano.

É necessário que o espiritualista veja todos os aspectos da vida e não se limite à repetição estereotipada das fórmulas da sua religião ou grupo, quaisquer sejam elas. Existem hoje males gigantescos nesta nossa época convulsionada; são problemas formidáveis mas eles já foram denunciados, sentidos, investigados, e enfrentados com vigor e nova fé. O materialismo é um assalto que invade toda a nossa vida, opondo-se às forças do espírito. Mas esse assalto serve justamente para despertá-los e desenvolvê-los. Os dois movimentos, pois, da autodestruição do materialismo e da reação do espirito, concorrem para a mesma meta.

 

Não se aflijam os bons, porque são os mais fortes. Jamais nasce tanta fé como nos tempos de descrença e tantos mártires e heróis se formam como sob a opressão.

 

É necessário que o evoluído, que é mais inteligente, observe as vias do mal e os métodos do involuído.  Apoiar o próprio  poder nos involuídos, apostar nos piores, nos extratos inferiores da sociedade, que antes deveriam ser educados para aquilo que não sabem fazer; não ter em defesa senão mandíbulas de lobo e procurar as soluções do problema no ventre aberto do próximo — isto tudo não pode acarretar senão a ruína. A salvação e o futuro só podem estar no contrário, isto é, no apoio aos evoluídos, na aposta nos melhores, nas camadas não econômicas, mas biologicamente mais avançadas, que têm consciência do duro encargo a assumir; em ter como defesa a justiça e procurar a solução dos problemas no bem do próximo. Tudo isto é assim porque nenhum homem, por mais poderoso que seja na terra, pode impedir que a vida queira, não uma solução às avessas, artificial, mas uma solução dos mais inteligentes, do mais trabalhador e produtivo, do mais apto a colaborar, confraternizando em sociedade.

Do livro Ascenções Humanas - cap 15