Outras características fundamentais, entretanto, possui o sistema cinético vorticoso, que o aproximam e assemelham aos fenômenos vitais. De tudo isso podeis tirar mais uma confirmação de que, como vos disse, é vorticosa a íntima estrutura do fenômeno biológico; disso, esta teoria vos dá uma profunda explicação que se harmoniza com a de todos os fenômenos existentes. O vórtice é apenas a expressão volumétrica daquela espiral que vimos ser a trajetória de todo fenômeno, a expressão gráfica do conceito que o dirige; aquela espiral, também aqui, no campo biológico, reaparece no organismo dinâmico do vórtice. Este corresponde ao princípio da espiral que se abre e se fecha e com isso se expande à maneira de respiração, que dilatando progressivamente a amplitude de seu ritmo, agiganta-se (crescimento orgânico e psíquico da vida). Já mostramos como a constituição desse movimento vorticoso leva-o a uma diferenciação do ambiente, isto é,  uma individuação independente. Pode parecer-vos que haja um abismo entre a vida e a matéria, e a vida representa, no universo, uma subversão fundamental de leis. Não. Não há abismos na natureza, nem saltos, nem zonas de vácuo: tudo é continuação do que foi preparado precedentemente, desenvolvimento do que já existia em estado de germe. Por isso, encontrais na biologia os mesmos princípios que despontam na química, embora mais desenvolvidos e elevados, e a passagem faz-se por uma maturação interior, que já eleva a uma combinação mais alta os elementos preexistentes. O princípio dirigente despertou, ele que dormia no âmago das coisas.

 Esse processo de individuação do vórtice atômico, que se distingue no campo cinético do ambiente, corresponde à lei que já vimos, pela qual os seres, ao evoluir, passam do indistinto ao distinto; lei que se compensa, para que o todo não se pulverize no particular, como aquela dos reagrupamentos em unidades coletivas (um indivíduo biológico é simplesmente um organismo de sistemas vorticosos ligados e comunicantes). Enquanto a matéria apresenta-se individuada em formas que se repetem idênticas, a vida jamais apresentará duas exatamente iguais e seu comportamento terá sempre uma nota de individualidade. Em cada forma de vida existe uma distinção mais acentuada, ao mesmo tempo em que essa forma é uma unidade coletiva mais complexa em sua organicidade. Existe na vida uma individualidade de manifestações, que preludia o desenvolvimento da personalidade, e existe uma independência de movimentos em que já se sente o início do processo de transformação do determinismo físico no livre arbítrio do psiquismo. Evolução, com efeito, à proporção em que é descentralização cinética, é também expansão e liberação de movimento. Ora, essas características da vida nós a encontramos também nos movimentos vorticosos.

Um caso de movimentos vorticosos mais concreto e mais susceptível de observação, para vós, é encontrado nos turbilhões, ciclones, sorvedouros, trombas marinhas e outros semelhantes. Um turbilhão é uma unidade dinâmica distinta do ambiente, com caracteres de individualidade, independente daquele em seus movimentos, com seu próprio ponto de origem (nascimento) e um ponto final (morte), quando sua energia e sua trajetória se esgotam. Ele resiste aos impulsos estranhos e, se admite forças em seu âmbito, modifica-as com um processo que relembra o conceito de assimilação. Mais que uma forma estática como no mundo físico, o turbilhão é essencialmente o desenvolvimento de um dinamismo. Sua essência, como na vida, está no devenir e mantém-se perfeitamente equilibrado numa transformação contínua. Há nisso algo do futuro psiquismo. Os materiais constitutivos são forma exterior e efeito, mais do que causa determinante: de fato, esses materiais mudam constantemente, ao passo que a forma, apesar de sua mutação, permanece idêntica a si mesma. O tipo da forma permanece, embora esta se modifique e também o material constitutivo que a atravessa. Este transforma-se numa correnteza contínua, que já vos fala daquele metabolismo, nota fundamental do mundo orgânico. Este se apresentará com sua característica fundamental de saber absorver e utilizar as energias ambientais disponíveis.

No turbilhão existe, portanto, uma troca, um poder de assimilação e, em sua capacidade de resistir aos impulsos externos, existe, em embrião, o que será o instinto de conservação. O vórtice eletrônico é simplesmente um turbilhão. O que atravessa seu sistema cinético são os átomos em constante substituição, na qual, eles se transmitem os caracteres essenciais, que não são os de suas propriedades físicas e químicas, mas aqueles que o sistema cinético, em que esses átomos são presos, confere a seu íntimo movimento. A natureza, já dada, daquele sistema, é uma capacidade, a priori, de entrar diversamente em combinação, segundo os vários tipos de movimento que o ambiente oferece. Isso será a capacidade de escolha, ou o poder de transformar diversamente, segundo o tipo orgânico, os próprios materiais do mundo exterior (mesma substância formará tecidos diferentes e órgãos, de acordo com o organismo que os tiver tomado em circulação). O princípio de inércia, que dirige este como todos os outros sistemas cinéticos, contém o germe da resistência às variações e do misoneísmo. Nesta absorção de materiais existe também projeção de forças e comunicação com o exterior por parte da individuação; o vórtice não é mais sistema cinético fechado, mas aberto; esses caminhos abertos para o exterior serão os caminhos da sensibilidade e da percepção que permitirão, num primeiro nível, simplesmente orgânico, a síntese protéica; depois, a assimilação; num nível mais alto, o acréscimo contínuo daquele núcleo psíquico, já que o turbilhão o contém em germe, até a maravilhosa dilatação de consciência que o homem alcançou, e além disso. O turbilhão tem uma vontade de reação que não é apenas resistência à deformação, mas é princípio ativo, que projeta para o exterior e modifica o ambiente; eis o germe da atividade humana que, modificando-se de acordo com as circunstâncias, por sua vez as modifica; é o germe da adaptação,  de papel tão importante na variedade das espécies. Na natureza das formas dinâmicas (onda, direção, expansão) encontrais o primeiro germe daquele impulso que se transformará em vontade. No turbilhão, como na vida, existe um contato contínuo entre o interior e o exterior, essa permuta de ações e reações, esse escorar-se de impulsos e contra-impulsos, que sustentam a caminhada da evolução.

 Mas não basta. O turbilhão possui não apenas a capacidade de resistências às deformações, aos desvios e à vontade de reação, mas também capacidade de registrar os movimentos que absorve e de conservação dos mesmos em seu âmbito, embora transformados para adaptá-los a si mesmo. Eis novos germes. Não apenas sensibilidade e percepção, mas a memória das impressões e a capacidade de fixá-las na personalidade e nas características da espécie, quer em modificações orgânicas, quer em capacidades psíquicas (automatismos, gênese dos instintos). (Aliás, que são os automatismos, senão movimentos introduzidos e estabilizados, por ação prolongada, no organismo cinético do vórtice?). Capacidade de assimilação de impressões e, portanto, possibilidade de que aquela concentração cinética, em que a forma reduz-se a semente, contenha a gênese de todas as características adquiridas e a possibilidade de fazê-la, de novo, voltar a realizar-se e desenvolver-se (a criança é vivaz porque está no período de descentralização cinética. O adulto é mais profundo e vivaz, isto é, não física, mas psiquicamente porque a descentralização cinética penetra nas camadas mais profundas). A esses movimentos documentários, que resumem todo o passado vivido, deve-se a possibilidade da evolução.

 O turbilhão tem uma vontade própria de penetração, uma vontade de permanecer em sua forma e de progredir em sua trajetória, tal como o ser vivo; vontade que se esgota como neste e como em qualquer transmissão dinâmica. O processo de degradação, pelo qual as qualidades úteis da energia transformam-se num refinamento de valores, é constante na vida, desde seu início até suas formas mais altas. O turbilhão nasce, vive e morre. Sabe contornar os obstáculos, conhece a lei do mínimo esforço, reconhece as resistências, luta com elas e desgasta-se. Cansa-se no esforço e extingue-se. Simples princípios dinâmicos, mas levados até às portas da vida. O turbilhão está saturado de eletricidade, daquela eletricidade de que conheceis os poderes de análise e de síntese, a forma máxima de β , contígua a α; a forma de energia que encontramos presente e fundamental nos fenômenos da vida. Ao morrer, o turbilhão restitui ao ambiente não apenas o material físico que o constitui, mas também sua energia interior, o motor do sistema, sua pequena alma rudimentar. A indestrutibilidade da substância é universal. Como poderia, justamente na morte do animal e do homem, anular-se o princípio animador? É absurdo, pois seria a anulação de todas as leis do universo. Ao evoluir, o princípio vorticoso se reforçará de tal modo que não se perderá com a morte, mas será reabsorvido no campo dinâmico do ambiente e sobreviverá, não só como substância, mas também como individualidade. Essa sobrevivência será cada vez mais evidente e decisiva, à proporção que o princípio evoluir, consolidar-se e espiritualizar-se, deslocando para seu interior seu centro cinético; sobrevivência que se reforça e se define cada vez mais, mediante infinitas gradações, desde as formas vegetais, animais e humanas e, desigualmente, nos diferentes tipos de homens mais ou menos adiantados,  e além. Daí podemos dizer, desde logo, que a morte não é igual para todos, pois nem todos sobrevivem igualmente à morte física, mas com diferente poder de consciência, de acordo com o grau de α que tenha  atingido. Uma última afinidade é encontrada no poder de cisão ou desdobramento dos turbilhões e de fusão de dois em um, fenômenos que, nos sistemas vorticosos eletrônicos, preludiam aquilo que será, mais tarde, a reprodução por cisão e a reprodução sexual. Os turbilhões podem fundir-se, desde que seus movimentos elementares não apresentam diferenças inconciliáveis de constituição cinética.

 Todas essas observações vos mostram como, no turbilhão, podeis comprovar a existência de todas as características daquele sistema cinético vorticoso, o primeiro centro de origem eletrônica que gera a vida, e como ele já contém em germe as notas fundamentais do mundo biológico. Esse fato indiscutível constitui uma prova que não podeis recusar, da mesma natureza e da contiguidade evolutiva dos dois fenômenos afins: movimentos vorticosos e vida. Torna-se por isso evidente, também nesta prova, aquela íntima natureza cinética que lhe propicia a explicação mais profunda, tal como ocorreu relativamente aos fenômenos da matéria e da energia. Esta minha visão do problema biológico mostra-vos, também, como ele será colocado por mim e desenvolvido. Ou seja, não como classificação botânica nem zoológica, mas como estudo da manifestação progressiva, descentralizadora do princípio da vida.

 Meu pensamento caminha no âmago das coisas, aderente à substância dos fenômenos e quero mostrar-vos não a série das formas visíveis que já conheceis, e sobre as quais portanto é inútil demorar-me, mas o porquê delas, suas causas, as metas e o desenvolvimento interior do princípio cinético da Substância. Este princípio, embora transformando-se e ficando sempre idêntico a si mesmo, sabe tornar-se tudo no mundo dos últimos efeitos, acessível a vós. Somente desse modo serão solúveis muitos problemas psíquicos e espirituais, já que sua forma externa, a única que observais, jamais será suficiente para dar-vos a chave. Veremos, dessa maneira, pelo progresso da evolução, pela maturação dos fenômenos, pelo desenvolvimento dos sistemas cinéticos da Substância, a forma de espiritualizar-se e liberar-se, os envoltórios tornarem-se sutis e caírem. Os princípios de ascensão espiritual das religiões serão demonstrados por um processo racional, com lógica materialista. As supremas realidades do espírito, que vos aproximam de Deus, serão atingidas por um caminho que vos parecia imensamente longínquo: o da ciência objetiva.