Pietro Ubaldi & Nazarius

"S. Vicente, 29 de junho de 1962.

Nazarius,

Agradeço-lhe pela carta de 22 de junho, pelo seu conteúdo, isto é, o cheque de Cr$ 10.000,00. Não sei se tenho de agradecer a você ou a outros amigos que enviaram essa importância por seu intermédio. Fico a todos muito agradecido.

Não se preocupe, aqui conseguiremos receber a quantia na mesma cidade, sem precisar ir a Santos.

Espero você no próximo mês, como me prometeu. Tenho muita coisa a lhe contar. Apareça quando quiser. Encontrar-me-à porque, pela mulher doente como sempre, não me ausento de casa.

Aqui tudo na mesma. Temos liquidado para sempre qualquer gênero de empregada, lavadeira, ou pessoa estranha, porque dá muito menos preocupação. Há trabalho para todos; quem cozinha, limpa o piso, faz compras, lava os pratos.

Eu continuo sempre o meu trabalho mental.

Você sabe: aqui não há preguiça.

O Sr. Wilson Werneck – Rua dos Goytacazes, 309, Campos (RJ) – enviou um cheque de Cr$ 16.000,00, da campanha. Agradeci-lhe por carta.

Esperando a sua vinda, envio-lhe saudades de todos, também à mulher, a família toda e aos amigos daí.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Já foi dito: lançar uma idéia, uma filosofia de vida, é fácil. Pregar o Evangelho não é difícil. Vivê-lo é um passo mais longo, que nem todos estão dispostos a fazer.

Em 1945, Pietro Ubaldi terminou de escrever A Nova Civilização do Terceiro Milênio, ampliando os conceitos filosóficos e religiosos de A Grande Síntese. Esta Obra contém um belo capítulo: “A Economia do Evoluído”, vivido pelo Autor em tantas outras ocasiões e também nesse período tão difícil. Nele é mostrado como funciona a Divina Providência:

“O universo é um organismo de forças que obedecem apenas a mãos habilidosas e sábias e, cobrindo-se de trevas, recusam-se a obedecer a mãos inábeis e rebeldes. Necessário se torna, pois, haver compreendido a Lei e ter-se conformado com sua vontade; quer dizer, é preciso haver, neste caso, compreendido a lei do fenômeno para estar seguro de que, se for aplicada, fatalmente se verifica.

Quais são essas condições? Ei-las:

1. Merecer a ajuda;

2. Haver, antes de mais nada, esgotado as possibilidades das suas próprias forças;

3. Estar, de acordo com suas condições, em estado de necessidade absoluta;

4. Pedir o necessário e nada mais;

5. Pedir, humildemente, com submissão e fé.

Quando essas condições se realizam, a Divina Providência está em condições de funcionar a favor de todos.”

Se é a favor de todos, Pietro Ubaldi também está incluído. Será que ele merecia estar protegido pela Divina Providência? Parece-nos difícil fazer um julgamento a terceiros. Julgar-se a si mesmo é fácil; contudo, em relação ao Místico da Úmbria, podemos arriscar uma análise, em função das cartas lidas até agora. Sempre obedeceu à vontade de Deus (1), não tinha mais forças, nem idade para lutar pela vida material (2), suas necessidades eram urgentes em face das despesas crescentes com doenças (3), só pedia o necessário e nada mais (4), não era orgulhoso ao solicitar ajuda, estava sempre agradecido a todos (5). Portanto, estava em condições de receber ajuda, por isto a Divina Providência nunca o deixou desamparado.

A colaboração que Pietro Ubaldi recebia, necessária e merecida, foi definida por ele, profeticamente em 1945, no capítulo “Pobreza e Riqueza” do livro acima citado: “A generosidade da Providência, mesmo assumindo a forma de esmola, sempre constitui comunhão da alma com Deus e, ao papel honroso de instrumento de Deus.” Quando escreveu estas palavras, ele jamais poderia pensar que dezessete anos mais tarde, em outro país, estaria vivendo-as integralmente.

 

"S. Vicente, 6 de novembro de 1962.

Nazarius,

Agradeço-lhe pelas suas cartinhas de 26 de setembro e 31 de outubro, respectivamente, e pelos dois cheques, um em cada uma. Assim está ótimo e posso recebê-los sem ter que ir a Santos, basta assinar atrás e entregá-los a um conhecido que pode colocar no banco.

Você é sempre o amigo fiel.

Do Rio e de sua cidade, alguns estão ajudando e isto já me tira algumas preocupações, de modo que voltei ao meu trabalho com mais esperança e tranquilidade; escrevi bastante neste mês.

Esta é a primeira campanha feita em meu nome, da qual o resultado vem para mim e não desaparece nas mãos de outros.

Meus parabéns por ter sido contratado professor na sua cidade. Finalmente o grande sonho se realizou. Você trabalhou bastante e mereceu esta justa recompensa. Congratulações ao meu ilustre colega. Então, no próximo ano letivo estará definitivamente na sua cidade? Assim tudo arrumado para sempre, perto dos seus, isto é o que lhe desejo de todo coração.

Um grande abraço, de todos nós que o cumprimentamos pela sua nova carreira. Agora o chamaremos de Sr. Professor. Quem teria pensado: aquele menino tornar-se um dia assim tão importante? Foi incrível, mas aconteceu.

Continuo escrevendo, embora não seja possível publicar mais os livros.

O Cônsul mudará para cá definitivamente no fim do ano. A família já está aqui.

Quando teremos outra conversa? Não viajo mais.

Saudades a Dona Leinha.

Todos aqui recordam o querido amigo e o esperamos para aquela longa conversa.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

O Cônsul vendo a necessidade do Missionário de Cristo, que passava por um período financeiro bastante crítico, lançou uma ampla campanha de ajuda para ser remetida diretamente a Pietro Ubaldi. Nazarius assumiu o compromisso, consigo mesmo, de ajudá-lo, mensalmente, dentro de suas possibilidades. Clóvis Tavares fez o mesmo, em completo silêncio, seu estilo preferido de ajudar. Wilson Werneck conversou com alguns companheiros e lhe enviava, todo mês, determinada quantia. Assim, Campos contribuiu com uma parcela considerável, naquele momento tão difícil para o mestre. Por isto, na carta anterior ele fez aquela revelação: “Sabe que a sua cidade é a que mais respondeu ao apelo e está na vanguarda das ajudas?” Os que colaboraram nunca souberam que a nossa cidade ocupava um lugar de destaque no auxílio financeiro ao Professor, porque essa notícia não foi divulgada. A ajuda foi feita com espírito evangélico: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.” Não foi dito publicamente, em Campos, que Pietro Ubaldi estava necessitando de um SOS, poucos ficaram sabendo, mesmo assim a colaboração foi substancial. Em Niterói, a colaboração foi através de Nilton Garcez, um campista.

Um homem, com uma função tão importante no mundo – o arauto da nova civilização do espírito – precisou de um SOS para sua sobrevivência. Isso é quase inacreditável! Não é preciso voltar à Terra e contemplar o passado. Nesta vida, final de século e de milênio, já nos sentimos envergonhados, por pertencermos a uma civilização que deixou o servo de Cristo à sua própria sorte e não foi prestar-lhe o socorro necessário. Que falta de fraternidade e de humanidade para com aquele que veio ao mundo somente para servir e fazer o bem! Mais do que isto, falta de caridade cristã, tão alardeada por aqueles que sabiam do problema, beberam e ainda bebiam naquela fonte de água viva. Por isto o Evangelho é muito pregado e pouco vivido, mesmo depois de dois mil anos. Cristo ainda é um ilustre desconhecido entre os homens, apesar de tão propalado.

 

"S. Vicente, 29 de julho de 1962

Nazarius,

Recebi a sua cartinha e o cheque anexo.

Não sei como agradecer, porque não conheço os doadores. Você me fala que providencia o agradecimento de minha parte. Muito obrigado.

No terraço descobri outras minas menores de cupins. Mas já estão todos destruídos. Agora estão mortos. Coloquei os livros e tudo o mais afastado da parede, suspenso sobre tijolos, de maneira que os cupins não poderão mais aproximar-se. O trabalho maior foi o que fizemos juntos, lembra-se?

A vida é uma viagem que não se sabe aonde pode levar-nos. Acontecem as coisas mais imprevisíveis. Não adianta prever e calcular, quando o imprevisível pode acontecer a qualquer hora.

O seu destino parece tranquilo. Há uma lei universal de equilíbrio que vi funcionar, na qual, a cada um o seu período de calma e outro de luta. Quem não lutou na juventude, vai lutar na velhice e vice-versa. Tomemos cuidado quando tudo corre bem. Fiquemos prontos e desconfiados das alegrias deste mundo, porque são traidoras. Não merecer o mal já é muita coisa.

Você está no começo da viagem, eu estou no fim, nem quereria estar no começo. Quanta coisa você terá que ver! Chegará ao ano 2.000! Pede pouco e talvez fique satisfeito com esse pouco.

No dia 5 de agosto próximo, completarei 50 anos de casamento. Imagina você, meio século só de casamento. Que viagem!

O folheto “A Obra” saiu em esperanto, em Tóquio (Japão) e, também, na revista de lá.

Notícias a respeito da campanha no Rio, que você pode controlar:

1. No fim de maio, a Sr. Beatriz Augusto da Costa – Rua Luiz Barbosa, 114, ap. 101, Vila Isabel, Rio – apareceu aqui, de carro, veio de propósito e me entregou Cr$ 4.500,00 (dela) e um cheque de Cr$ 10.000,00 do Sr. Júlio Lopes Trindade – Rua General Zenóbio da Costa, 41, Rio.

2. Agora recebo carta do Sr. Newton de M. Correia – Rua Itapiru, 495, Sobrado, Rio – dizendo-me que leu o meu apelo na Revista “Mensagens de Amor Universal” e pede notícias a fim de que ele possa iniciar a campanha.

Conhece estes Senhores? Você, aqui, avisou-me do perigo que há nestas campanhas, como aconteceu em 1951.

No primeiro caso agradeci por carta, mais não podia fazer. No segundo, conhece esta pessoa? Eu não me lembro deste nome. Pode ajudar-me? Como poderia eu fazer? Se você conhecê-lo, diga-lhe que estou enviando meus agradecimentos por seu intermédio.

Saudade à sua esposa e seja feliz.

Deus o proteja sempre, saudades a todos os seus.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

O apartamento de Pietro Ubaldi era no último andar do Edifício Nova Era, com um terraço, sobre o qual foi feita uma cobertura. Nesse terraço estavam os livros publicados pela Editora Monismo. Mês de julho era o mês de férias. Como de hábito Nazarius foi visitar o mestre, que aproveitou a oportunidade de sua presença para desencaixotar os livros e matar os cupins que começavam a destruí-los. Mesmo assim ainda ficaram alguns focos não vistos e que foram destruídos depois.

Esta carta, como tantas outras, além das notícias, trouxe lições de profundas reflexões:

“A vida é uma viagem que não se sabe aonde pode levar-nos”. “Há uma lei universal de equilíbrio que vi funcionar, na qual cada um tem o seu período de calma e outro de luta.”

Há os que viajam de olhos abertos diante da Lei, estão seguros em sua caminhada, e outros, de olhos vendados, que viajam ao sabor dos acontecimentos. Ainda que não contemplem o amanhã que é sempre cheio de incógnitas e perigos, os primeiros estão preparados e recebem o amanhã com tranquilidade; os últimos se rebelam diante dos fatos criados por eles mesmos, porque não souberam conduzir bem a vida, como nos ensina Pietro Ubaldi:

“A vida pode ser conduzida de dois modos diferentes, segundo o ponto de vista em função do qual se vive. Eles dependem de duas maneiras diversas de concebê-la: a de uma existência que constitui um fim em si mesma, desejando, portanto, alcançar vantagens de realização imediata (vida material); e a de uma vida que é apenas um meio para atingir fins mais altos e longínquos, vantagens para realização do futuro (vida espiritual). No primeiro caso, a sua finalidade é estar bem no presente; no segundo, é o de construir para si um futuro melhor.”

A lei universal de equilíbrio existe em tudo, basta observar a nossa própria vida e todos os acontecimentos em torno dela, levando em consideração que a nossa evolução se dá com subidas e descidas como nos mostra a “Trajetória Típica Dos Movimentos Fenomênicos” (cap.26 - A Grande Síntese).

 

"S. Vicente, 18 de maio de 1963.

Nazarius,

Recebi sua carta de 26 de abril, agradeço-lhe pelo cheque de abril e pelas boas palavras.

Você me fala que está organizando o seu trabalho de Professor em sua cidade. A vida de Professor é tranquila, mecânica, sempre igual e, uma vez carregada a máquina, vai por ela mesma.

Não se preocupe em enviar mais ajuda, estou com remorso, aproveitei demais.

Esperaremos você no princípio de julho. Acho que encontrará mais lugar livre agora, em casa, e poderá ser nosso hóspede. Em todo caso é bom avisar-me, com antecedência, o dia de sua chegada, porque os hábitos da família mudaram, pelo fato que lhe contarei. Graças a Deus, encontramos uma empregada alemã, civilizada e de confiança, que representa uma grande ajuda, assim a filha se libertou do trabalho de cozinhar. Foi uma providência inesperada.

A notícia triste deixei para o fim desta carta. Parece-me que na precedente lhe escrevi que levamos dona Antonietta ao hospital para fazer cinco transfusões de sangue, radiografia etc. Depois com a ambulância a trouxemos para casa. Passou a Páscoa conosco, mas foi sempre piorando. Porém, o milagre foi que não sofreu nada. Nos últimos dias não comia nada. Estava sempre dormindo, quieta, sem dor alguma, tranquila. O médico falou que foi um milagre, um câncer sem dor.

Às 11 horas de 29 de abril, começou a respirar mais difícil, sem mostrar dores; às 3 horas de terça-feira, 30 de abril o coração parou.

Foi enterrada 31 horas depois do seu falecimento, no dia 1º de maio às 10 horas no pequeno cemitério de S. Vicente. Voltei hoje, sozinho, lá. Fui ver o túmulo. É perto de casa.

Na noite em que morreu estávamos todos juntos, perto dela. Para você conhecer os pormenores lhe envio, em anexo, cópia da carta que enviei aos irmãos, na Itália. Você entende o italiano.

Para mim ficou o vazio e uma imensa tristeza de que não consigo recuperar-me. Peço-lhe transmitir a notícia aos amigos da sua cidade, que a conheceram, a Clóvis, a Dr. Albano e a todos os outros. Peça-lhes desculpas, porque não posso escrever a todos.

Levaram-me uma semana para S. Paulo, mas foi só para cansar-me.

A mudança de nossos hábitos, agora, é porque não estamos mais amarrados dia e noite velando por uma doente em casa. Podemos ausentar-nos à vontade. Eu, porém, desconfio de viajar sozinho, preciso sempre de uma pessoa para acompanhar-me, porque estou envelhecido e poderá acontecer alguma coisa. Além disso, canso-me facilmente e preciso de vida regular.

Em resumo: estou viúvo, depois de 50 anos de casamento.

Ela era católica e eu satisfiz todos os seus desejos neste sentido, era meu dever.

Assim, Dona Antonietta está sepultada aqui perto, em terra brasileira. Iremos ver o túmulo. Você se lembra dela? Tinha 73 anos.

Junto um jornal com uma entrevista que dei em S. Paulo.

Lembranças a todos os amigos daí e à sua senhora.

Desejando-lhe toda felicidade, despeço-me com um grande abraço.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

D. Antonietta Solfanelli Ubaldi foi uma senhora muito distinta. Nasceu em berço de ouro, ainda jovem ficou órfã e foi internada num convento. Nasceu em 1890, natural de Matélica (Província de Marche – Itália). Quando se casou com Pietro Ubaldi, tinha 22 anos e levou consigo uma herança de seis grandes propriedades. Sofreu muito durante a vida, sobretudo por assistir à destruição de todos os bens – sua herança e mais seis valiosas propriedades que o marido recebeu dos pais, por ocasião do casamento, em 5 de agosto de 1912.

Além das notícias acima, outras foram enviadas aos seus irmãos, à Itália:

“A notícia da morte foi divulgada em Santos e S. Paulo. Os serviços funerais foram realizadas por uma empresa especializada. Pela manhã, as primeiras visitas, às primeiras horas da tarde todas as demais. Ao anoitecer chegou o pároco para fazer a missa de corpo presente. (...) Durante a noite, o corpo foi velado por mim e toda a família. O cortejo fúnebre se realizou às 10 horas da manhã de 1º de maio. Uma fila de automóveis acompanhou o carro fúnebre até o pequeno cemitério de S. Vicente, modesto e tranquilo, onde a sepultamos num pequeno túmulo de cimento. No cemitério foi descoberto o vidro da urna e vimos seu rosto pela última vez. Sepultada, voltamos a casa. Os amigos se foram e ficamos a sós. A casa parecia vazia e triste. Depois de duas noites sem dormir, jogamo-nos sobre o leito para descansar e chegou o silêncio, dormimos até às oito horas da noite. Havia terminado de colocar as coisas em ordem, quando senti que me falava, como antes, era Antonietta. Havia tentado falar aos outros, mas dizia que eles não a ouviam. Disse-me que após o sepultamento do corpo veio para casa em nossa companhia e que estava junto de nós. Conversamos mais de uma hora, com os sentidos do espírito como se ouvisse quando estava viva. Vivemos 50 anos juntos e no 50º aniversário, o pároco nos casou de novo. Agora, a tristeza da separação terminou e se pode dizer que a morte não existe. Conversamos todos os dias, quando quero.”

 

"S. Vicente, 28 de outubro de 1958.

Nazarius,

Recebi suas cartas.

Fiquei muito triste por saber antes, da doença, depois, da morte de nosso comum amigo, pelo qual tinha tanta gratidão.

A senhora dele também me escreveu e respondo agora.

Parece incrível. Ele era ainda moço e de boa saúde. Quantos sofrimentos e quanta tristeza para todos!

Orei a Deus pela sua alma, que encontre paz e felicidade.

A respeito do jornal, A Tribuna de Santos que publicou as palestras de A Lei de Deus pela Rádio Cultura S. Vicente, far-lhe-ei um pacote de todos os números que vão saindo e enviarei pelo correio. Assim, esta cópia poderá ser útil, também, para os nossos amigos de sua cidade.

Aqui, o trabalho aumenta a cada dia, com novos compromissos e não deixo escapar oportunidade alguma de dar o fruto que devo e de cumprir o dever que me cabe. Quando se fala que temos uma missão a cumprir, temos depois de cumpri-la de verdade. Temos o dever do exemplo. É duro, mas é assim.

Estou envelhecendo e todas as minhas energias têm que ser empregadas num trabalho útil. Passeios e férias ficaram de lado. O cansaço para cada esforço é sempre maior, torna-se culpa minha estragar as energias naquilo que não for estritamente necessário e espiritualmente útil. A vida espiritual é dura e feita de deveres.

Fico esperando suas boas notícias.

Deus o proteja sempre e o faça feliz com todos os seus.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

O ano de 1958, além de todo trabalho realizado, foi de intensa produção intelectual e espiritual. Concluiu A Grande Batalha, escreveu Evolução e Evangelho e está no final de A Lei de Deus, através de palestras na Rádio Cultura de São Vicente. Os dois primeiros se completam e se interpenetram.

A Grande Batalha é um livro que mostra como lutar neste mundo com as armas do Evangelho e sair vencedor. Foi uma experiência vivida pelo Autor nos anos de 1953 até 1955. Naquela época todos os acontecimentos foram anotados em seu Diário. Dois anos depois, quando não se falava mais no assunto, foi-lhe inspirado a colocar no papel a substância da luta, não os fatos materiais e pessoais de cada um envolvido no drama. Assim, nasceram dois volumes. Ao concluí-lo diz Pietro Ubaldi:

“Vencer para aproximar-se de Deus, vencer não para si mesmo, mas para o bem de todos. Vencer não por haver debelado um inimigo, sobrepondo mal a mal, mas vencendo o mal com o bem. A vitória real e definitiva não é a que provoca outro mal, mas a que transforma o mal em bem. É a que vence com a bondade a maldade, com o altruísmo o egoísmo, com o perdão a ofensa. É a que muda a discórdia em união, a guerra em paz, o ódio em amor. É a vitória não do mais forte, para subjugar inimigos, mas do melhor, para educar os irmãos. A vitória maior não é a que se conquista sozinho e para si, destruindo, mas a conquista ao lado de Cristo, construindo, para o bem do próximo. Não é a vitória da força, mas a do Amor.”

Todos trazem dentro de si a necessidade de evoluir, aquela vontade de melhorar de vida, isso no campo material. Os mais amadurecidos, biologicamente, sentem o mesmo impulso no campo do espírito. Como evoluir e qual o caminho a seguir, Pietro Ubaldi mostra em seu Evolução e Evangelho e conclui dizendo:

“Subir, subir, sempre subir mais em direção à meta! No fim, cessou o transformismo, porque a evolução atingiu seu termo. Então o tempo não é passado, porque foi apenas uma variante da eternidade; a morte não matou, porque tudo ressurgiu; a caducidade de todas as coisas nada destruiu, porque tudo voltou a ser indestrutível, como o era no início. O milagre da redenção da queda está realizado. Terminou o esforço da subida, o relativo, a ilusão, a dor. O ser sofreu e caminhou bastante, mas chegou. Agora pode repousar feliz, fora do tempo que conta as horas, para sempre, no seio de Deus.”

O amigo comum é Norival Nogueira que socorreu Pietro Ubaldi com aqueles Cr$ 9.000,00, em agosto de 1954.