Pietro Ubaldi & Nazarius

"Cotia, 27 de agosto de 1968.

Caro Nazarius,

Agradeço pelo seu telegrama de votos pelo aniversário. O Cônsul me enviou exemplares de seu artigo: “A doença não afeta a mente de Ubaldi”. Recebeu exemplares dele, também, Cláudio Picazio, em S. Paulo. Tudo está ótimo. Agradeço.

Desde o dia 23, estamos em Cotia. Voltaremos para S. Vicente no fim de agosto. Estou ainda sob cuidados do médico de S. Paulo e esperamos a permissão dele para descer a serra até S. Vicente.

Estou, ainda, fisicamente, muito fraco, recuperando-me devagar. Talvez essa fraqueza seja devido aos remédios para o coração. Foi um infarte, por insuficiência cardíaca, anemia, velhice, etc. Meu irmão mais velho teve coisa igual aos seus 82 anos de idade, hoje tem 88 completos e ainda trabalha.

Agnese é uma ótima enfermeira e toma cuidado de mim. Já voltei a escrever os meus livros.

Agora, estou trabalhando na correspondência, está muito atrasada. No ar livre daqui, espero recuperar-me mais rápido. Claro que terei uma vida de regime, num nível de força física mais baixo, mas de lucidez espiritual mais alto, isto é bom para escrever o Cristo.

Envio estas notícias, também, para todos os queridos amigos de Campos, a Clóvis, a Dr. Albano e a todos os outros, aos quais envio um grande abraço.

Em anexo, 2 jornais de Brasília com a entrevista que fiz com você.

Desejando-lhe felicidade, seu

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Pietro Ubaldi se recuperou um pouco em São Paulo e voltou a Cotia para completar o tratamento, porque o local é mais calmo e próximo da capital. Melhorou e voltou à sua atividade, embora lentamente. Não se dobrava diante da doença, assim como seu espírito não se curvava diante de seu corpo físico. Não estava preocupado com a morte, mas com a vida depois dela. Sabia que um lugar lhe estava reservado no céu.

Ele era um fenômeno, como muitos outros, no seio da humanidade. Em geral o envelhecimento físico é acompanhado de um desgaste mental bastante acentuado e, muitas vezes, as doenças afetam a mente. Com o Professor, o fenômeno era diferente, porque sempre o espírito teve domínio sobre seu corpo, desde jovem. Seus instintos nunca dominaram o espírito. Na velhice, a senilidade não perturbava sua evolução espiritual, estava sempre ascendendo a planos mais altos.

Em Um Destino Seguindo Cristo, no capítulo “O Último Ato, o Homem Perante a Morte”, existe um parágrafo primoroso em que o Autor se revela diante da morte:

“Caminhando, chega-se ao último ato. Aparece o extremo horizonte para além do qual cai o pano. Na velhice, quem viveu apenas para o presente, na matéria, olha para trás com saudade, agarrando-se ao passado que lhe foge. Quem viveu em função do futuro, no espírito, olha para frente cheio de esperança na direção da nova vida que o espera. O primeiro é verdadeiramente velho, espírito e corpo. O segundo é velho apenas no corpo, mas é jovem na alma. Para quem viveu preso à Terra, é o fim. Para quem viveu olhando para o alto, é o princípio.”

Acreditamos que este ensinamento sirva a qualquer um, porque a vida é sempre uma opção para os que vivem o presente, na matéria, e para os que vivem em função do futuro, no espírito.

 

"S. Paulo, 16 de agosto de 1968.

Caro Nazarius,

O Prof. Galeffi, da Bahia, já viajou, com todos os livros da Obra, para Viena (Áustria), e os entregou à Universidade de lá.

Viajei para Cotia, como você sabe, no dia 3 de julho. No dia 10 tive um distúrbio no coração, por insuficiência cardíaca, anemia, esgotamento geral. Levaram-me, de ambulância, acompanhado de médicos, enfermeiros e oxigênio, e da filha, para uma clínica – Pronto Socorro em S. Paulo. Lá fiquei com Agnese 8 dias, dormindo, quase sempre, com soníferos para o coração ficar tranquilo. Exames de laboratório, de sangue, de urina etc. No dia 18 de julho fui para a casa de Cláudio Picazio, porque ficar num hospital custa milhões. Agora estou em casa de Antonietta, a neta casada, em S. Paulo, sob tratamento de um médico amigo e conhecido. Estou me recuperando muito devagar, com 82 anos nas costas, começo a andar um pouco.

Espero no fim de agosto conseguir voltar com Agnese para S. Vicente e retornar à velha vida regular, com muito cuidado. Não se assuste. Continuarei trabalhando. O que piorou foi a vida física, não a espiritual. Desci um degrau para desencarnar, mas só um degrau e continuarei vivendo neste nível. Sem dúvida chegarei até 1971, como já expliquei na Introdução do livro Profecias. Depois veremos.

Tenho um monte de cartas a responder. Desculpe a minha brevidade. Tranquilize os amigos. Voltarei a S. Vicente, à minha vida regular, recuperando-me lentamente. Não há mais surpresas à vista. Sempre o costumeiro trabalho.

Um grande abraço para você e a todos os amigos de Campos, seu

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Uma semana depois que Nazarius se despediu, o Professor foi internado em São Paulo com problemas cardíacos, conforme relato acima. É particularmente notável como recebeu a doença e a certeza de que a hora da desencarnação não era aquela, porque ainda não tinha terminado a missão. Quando deu a entrevista no dia 29 de junho (dia de S. Pedro), fez um paralelo entre o corpo e o espírito, na primeira pergunta, e não poderia imaginar que suas palavras seriam confirmadas 11 dias depois. Vejamos o que diz Pietro Ubaldi e o Terceito Milênio:

“Prof. Ubaldi, de um modo geral, as faculdades mentais envelhecem paralelamente ao envelhecimento do corpo físico. Como explica o seu caso, pois que ainda se encontra em plena atividade espiritual, apesar dos seus 82 anos de idade?” (Pergunta de Nazarius).

Resposta: É um fato objetivamente existente que, aos meus 82 anos acabados, continuo escrevendo os meus livros, num estado de amadurecimento mental progressivo, o que dá prova de ser completamente independente do envelhecimento do corpo.

Estudei eu mesmo tal fenômeno, desdobrando-me como espírito em observador e como corpo em objeto observado. Aprofundei este estudo num dos últimos capítulos, “O Meu Caso Parapsicológico”, do livro que acabei de escrever: Um Destino Seguindo Cristo.

Um fato perante o qual me encontro é que o meu corpo está envelhecendo, seguindo o seu curso biológico normal de esgotamento senil. Isto está conforme as regras da vida. Mas outro fato perante o qual me acho é que a parte espiritual do meu ser não segue o mesmo caminho e fica bem lúcida e acordada, independente do envelhecimento do corpo. Encontro-me neste dualismo: estou feito de uma parte material que morre e de outra espiritual que não somente continua vivendo, mas que o faz com um sentido de rejuvenescimento, de esclarecimento de poder de concepção, para libertar-se de uma prisão, subindo, em oposição àquele de descida que pertence ao corpo físico.

Viver tudo isto como sensação e como realidade é maravilhoso. Falo da sensação que não é teoria filosófica ou demonstração lógica. Trata-se de fenômeno que estou vivendo. E pela direção de seu caminho eu posso ver para onde a vida vai. O resultado é que, nesta velhice avançada, que é uma preparação para a morte, antecipando-a como sensação, eu posso perceber o que me espera: a morte do meu corpo físico, mas não a morte de meu espírito, isto é, da minha verdadeira personalidade, o “eu” que não morre. Então, eu tenho a sensação viva de que não vou morrer por nada. Não se trata de fé, de esperança, de uma crença, de uma conclusão raciocinada. Trata-se de uma sensação, de uma realidade vivida e, em cada hora, para mim, mais evidente. Tenho assim a certeza concreta de que a vida continua em forma espiritual, como a vivi. Talvez o segredo esteja em acostumar-se a viver em profundidade, interiormente, e não na superfície, exteriormente, como se faz.

Descrevi só o que está acontecendo comigo. Explicar como isto acontece nos levaria longe demais e tenho que enviar o leitor ao capítulo acima citado. Aí ele encontrará muitos assuntos: parapsicologia, psicanálise, subconsciente, consciente, superconsciente, inspiração, intuição positivamente controlada, evolução biológica etc., que não podemos resumir aqui.

Como consequência de tudo isto, continuo sempre escrevendo. Parece que o meu pensamento é independente do envelhecimento do cérebro, mostrando que o trabalho de conceituação superior se verifica em plano que está acima do nível biológico daquele cérebro, que é só um instrumento para o espírito conseguir comunicar-se com o nosso mundo e nele expressar-se.”

Quem deu e gravou essa entrevista estava preparado, realmente, para receber qualquer tipo de doença, sabendo que só desencarnaria depois de cumprir a missão: “Sem dúvida, chegarei até 1971, como já expliquei na introdução do livro Profecias. Depois veremos.” Tudo aconteceu de acordo com a profecia anunciada em 1955.

 

"S. Vicente, 22 de abril de 1968.

Nazarius,

Já lhe escrevi uma carta no início de abril.

Hoje lhe envio um pacote com impressos e apostilas do curso feito na Universidade de Brasília sobre a Obra. Assim você pode ver que a Obra foi lançada, também, na Universidade.

No pacote estão jornais que falam do III Encontro, cartazes que foram colados na cidade de Brasília; também lhe envio o Correio da Manhã (março) e uma entrevista que saiu hoje na Tribuna de Santos. Peço-lhe mostrar a Clóvis e a Dr. Albano.

Recebi mais notícias de Brasília. Estavam inscritos no curso 120 ouvintes. Foram distribuídos, no final, 100 diplomas aos que frequentaram, assiduamente, com as apostilas do curso. Tudo foi gravado em fitas, que espero ouvir, em casa. Todo o Encontro foi acompanhado pelos três programas de rádio, em Brasília.

O meu retrato a óleo, pintado por um espanhol, ficou em exposição na Universidade de Brasília, durante o curso. Os meus livros ficaram em várias vitrines da cidade. Recebi fotografias de tudo. Pastorino fez a sua conferência no Encontro III, dia 13. Chegaram muitos telegramas, também do estrangeiro. No conjunto tudo vai bem. Peço-lhe transmitir estas notícias aos amigos.

Escreveu-me, neste mês, o Prof. Galeffi, italiano, que leciona em quatro faculdades na Bahia e que me conheceu na Itália. Diz que vai participar do XIV Congresso Internacional de Filosofia, em Vienna (Áustria), em agosto deste ano. Enviou ao Congresso um apreciação da Obra, apresentando-a como Sistema Filosófico e como meio de melhoramento do homem.

Da Itália, escreveram propondo-me fazer um curso numa universidade italiana sobre a Obra. Mas, não tenho mais resistência física para viajar.

O trabalho é grande e aumenta a cada dia.

Anexa a “Mensagem da Páscoa” de 1968. Foi lida no Núcleo de Santos e transmitida pelas rádios de Brasília em nossos programas.

Peço corrigir o meu português na Mensagem.

Saudades a todos os amigos de Campos

Seu de sempre,

Com um grande abraço

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIOS

                   

O primeiro encontro em Brasília continuava obtendo resultados positivos; a cada ano acontecia novo encontro, impulsionado por Dr. Manuel Emygdio. Neles se reuniam os amigos, simpatizantes e estudiosos da Obra, para fazer conferências e discutir suas teorias.

Quando Pietro Ubaldi fez aquela oferta simbólica, confiando a Obra aos seus operários, analisou aquele momento histórico e mostrou como seria no futuro. Disse ele, no discurso da oferta (Um Destino Seguindo Cristo):

“É lógico que as forças que quiseram a realização da primeira fase do trabalho desejem que se cumpra também sua segunda parte (realização prática), sem a qual aquela não teria sentido. No período inicial, muitas provas concretas nos demonstraram que este movimento é da vontade do Alto e que não tenciona parar, já que nenhuma força até agora teve o poder de detê-lo. Ele não confia nos falsos métodos do mundo. Aqui não se trata de barulhentos e rápidos sucessos, de tangíveis realizações imediatas, mas de fenômenos de grande amplitude e por isso de lenta maturação, de realizações que não têm pressa como ocorre com o homem, fechado numa só vida; trata-se de desenvolvimentos que se projetam no tempo e no espaço, não precisando, portanto, atingir rápidas conclusões para quem enxerga somente de perto, dele se apercebendo. É um movimento de grandes proporções que ultrapassa o interesse do indivíduo e do momento em que se entrosa, juntamente com outros movimentos paralelos, no desenvolvimento da História. Então, que cada um cumpra espontaneamente a parte para a qual se sinta chamando. Depois chegarão outros. O artífice de tudo isso está no Alto e possui inesgotável reserva de instrumentos humanos. Assim aconteceu até agora e vai ocorrer no futuro.”

“O artífice de tudo isso está no alto e possui inesgotável reserva de instrumentos humanos.” Que profecia extraordinária! As pessoas surgem na hora certa para realizar tarefas que lhes são adequadas. Hoje, existem divulgadores em todo país que trabalham em silêncio e vão levando a Obra a lugares nunca imagináveis.

 

"S. Vicente, 22 de maio de 1968.

Nazarius,

Respondo à sua carta de 28 de abril.

Estou contente em saber que você recebeu as apostilas do curso na Universidade de Brasília. Assim, você e os amigos de Campos estão a par de tudo. Isto eu procuro fazer para que aí possam acompanhar os nossos trabalhos.

Aqui estou batendo à máquina o livro Pensamentos, apesar de estar gripado. Mas é coisa passageira.

Estarei feliz de encontrá-lo no mês de julho. Mas, iremos para Cotia nas férias. Se for possível apareça antes ou depois. Em Cotia há também o frio de que nós gostamos, como na Itália e o ar é limpo como o de Campos. Você não pode arranjar uma permissão de três ou quatro dias e juntar com sábado e Domingo, fora das férias, para chegar aqui? Não vejo outra solução. Fora das férias estou sempre aqui, é só telegrafar. Ficarei esperando-o. Não voltarei mais a Campos. Até os passeios, agora, são curtos e não me afasto mais do que quinhentos metros de casa, sempre acompanhado. Em agosto entro nos meus oitenta e três anos.

Junto, a Mensagem da Páscoa, impressa.

Já lhe enviei um exemplar datilografado, você o recebeu? Pode ser publicada no Avancemos.

Saudades a todos e um grande abraço do seu de sempre,

Pietro Ubaldi"

"S. Vicente, 28 de maio de 1968.

Nazarius,

Respondo à sua carta de 19 de maio. Agradeço pelo pacote de Avancemos.

Li as notícias de Brasília resumidas e a Mensagem da Páscoa. Foi bom você corrigir o meu português.

Enviei-lhe uma carta há poucos dias, avisando-lhe que me encontrará em todo o mês de junho e setembro. No mês de julho, férias, estaremos em Cotia, é melhor para minha saúde.

Recebi a notícia do falecimento do Sr. Olímpio, todos ficamos pesarosos, transmita nossas condolências a Dr. Albano e a D. Iracema, que lhes enviamos com todo carinho.

Há alguns dias que estou doente. Uma artrose nas costas, que me impede os movimentos e dói bastante. É igual àquela que tive em 1951 e precisei repousar em Atafona. Além disso, continuo gripado. Assim dolorido, trabalho pouco.

Espero você, em S. Vicente, nos dias 27 e 28 de junho. Nós só viajaremos para Cotia depois de sua visita, nos primeiros dias de julho. Teremos alguns dias (3 ou 4) para ficar juntos.

Saudades de todos nós e um grande abraço agradecido do seu de sempre,

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Foi criado em Santos (SP), cidade vizinha de S. Vicente, um grupo de estudos das obras de Pietro Ubaldi. Ele sempre comparecia, dentro de suas possibilidades e do tempo disponível, quando tinha saúde e disposição. Estava muito idoso. As reuniões aconteciam às sextas-feiras. Naquela sexta-feira Santa, dia 4 de abril de 1968, houve a reunião habitual e lá estava o Autor de A Grande Síntese. Após o estudo da noite, foi impulsionado a escrever uma Mensagem naquela Páscoa, publicada em Avancemos, em maio de 1968, intitulada: “Mensagem da Páscoa”. O ambiente era de profunda espiritualidade.

“Meus filhos,

Quem não conhece as horas tristes de sofrimento? Elas são longas e duras. Estamos, então mergulhados nas trevas e o céu, acima de nós, parece fechado. Oramos a Deus e pedimos ajuda e consolo, ninguém responde. Por quê?

É possível que Deus nos haja abandonado? Então nos retraímos sozinhos, no deserto de nossa tristeza, e continuamos andando às cegas, porque nossos olhos nada enxergam. Ninguém no alto responde a nossos pedidos, ninguém se apercebe de nossas lágrimas.

Esta é uma mensagem de consolo para responder a essa pergunta.

Deus nunca abandona as suas criaturas. Ele é uma idéia e uma força, é um pensamento para dirigir e uma vontade para executar, sempre presente em cada momento e lugar. Ele continua agindo e dirigindo, também quando tudo parece imóvel no silêncio. A obra Dele é interior, não se percebe com os nossos sentidos.

É assim que Deus continua nos escutando e ajudando, também, quando nos parece que ele nos haja abandonado. Quando caímos no chão, esgotados pela luta, desanimados pela tristeza, as forças do bem, que trabalham invisíveis ao nosso lado, estão aprontando uma ajuda, uma solução, que depois, com grande alívio, vemos aparecer de improviso, como inspirado acontecimento em nossa vida. Quando chegar a hora, o fenômeno deste movimento de forças estará amadurecido.

Como podemos conhecer todos os segredos do profundo funcionamento da Lei de Deus, do seu método de trabalho? Tudo isto acontece além de nossa possibilidade de análise e crítica, porém acontece. Então, por que desanimar, se não sabemos que boa surpresa Deus nos pode enviar a qualquer momento? Por que cair desespero, se as forças do bem nunca param, tratando as nossas feridas, sustentando a nossa fraqueza, defendendo a nossa vida, procurando aliviar os nossos sofrimentos?

Poder-se-ia responder: muitas vezes é o mal que vence e a salvação não se verifica. Quero, porém, hoje, nesta Sexta-Feira Santa, ensinar-vos o segredo para que aquela salvação se verifique. O segredo é velho e conhecido, mas pelo fato de que pouco se costuma levá-lo em conta, ele foi quase esquecido, tornando-se, de novo, um segredo.

Ele é muito simples. Para receber a ajuda de Deus, basta merecê-la. A estrutura da Lei é tal, ela funciona com tal segurança, que, quando temos colocadas as causas, elas não podem deixar de produzir seus efeitos; quando colocamos as premissas para um acontecimento verificar-se, ele se verifica. Eis, então, que a chave para receber de Deus está em nossas mãos. Basta saber usá-la com inteligência e boa vontade.

A conclusão é que os bons, de coração honesto, que vivem conforme a Lei, prestando conta a Deus dos seus pensamentos e ações, sempre em Sua presença espiritual, nada têm que temer, porque contra eles as forças do mal jamais prevalecerão. Eles poderão estar abatidos e desanimados, mas a ajuda de Deus não tardará, porque perante Ele é a justiça que tem valor, e a justiça quer que os bons sejam salvos.

Isto quer a Lei de Deus, a Lei que dirige o funcionamento de nosso universo.

Esta é a boa-nova que vos trago hoje, meus filhos, na Sexta-Feira Santa deste ano de 1968.”

 

"Cotia, 20 de fevereiro de 1968.

Nazarius,

Recebi a sua carta de 15 de janeiro, aqui em Cotia, por isto o atraso em responder-lhe.

Obrigado por ter entregue a Clóvis o livro A Descida dos Ideais, com a dedicatória.

Estamos em Cotia desde os primeiros dias de janeiro. Voltaremos para S. Vicente no fim de fevereiro. Depois está planejada uma viagem a Brasília, de automóvel.

Anexos os programas do Encontro III e do curso sobre a Obra na Universidade de Brasília.

É fato que estou bastante cansado pela minha idade e esta viagem é um grande esforço. São quase três mil km, ida e volta. Nunca me recuso a trabalhar. Além disso, em Brasília vai ser um corrida de visitas, gente, conversas etc. Morando em casa dos outros, mudança de hábitos etc. Mas se trata da Obra. Deus me ajudará.

Aqui em Cotia, escrevi bastante o livro Pensamentos.

O curso na Universidade de Brasília será todo gravado pelo Cônsul, depois será transmitido pelas três rádios de Brasília, onde temos os nossos programas semanais. A primeira aula será em “Video-tape”

Chegou no último minuto carta do Cônsul com mais notícias: Dr. João Ferreira Guimarães, catedrático de Direito em Santos, fará uma conferência antes do curso, sobre os aspectos sociais e políticos da Obra; Pastorino fará conferências sobre os aspectos teológicos da Obra; eu farei a introdução e o encerramento do curso, que vai de 15 a 29 de março.

Um grande abraço agradecido do seu de sempre

Pietro Ubaldi"

"S. Vicente, 6 de abril de 1968.

Nazarius,

Respondo a sua carta de 2 de março.

Por motivo de saúde não tive forças para viajar a Brasília. Não pude ir de avião pelo desnível da pressão atmosférica que poderia trazer problemas ao coração; ir de automóvel seria cansativo demais, cerca de 1200 km, somente de ida. Além disso o trabalho seria grande.

Soube, por telegrama, que nas primeiras conferências havia mais de trezentas pessoas e que no curso tomaram parte 120 alunos e professores. Assim, parece que a Obra está lançada no mundo cultural.

Ficamos em Cotia, na casa de campo, até o dia 18 de março. Agora não saio daqui até julho.

Recebi o Avancemos, número 10, está ótimo com “Libertação”, escrito em Grussaí.

Agradeço-lhe pela assinatura de Seleções, que recebo regularmente.

Espero notícias pormenorizadas do Cônsul sobre o Encontro III. Sei que ele vai enviar-me as fitas e os jornais com as reportagens. Falou, também, que vai fazer um video-tape para televisão. Foram colocados muitos cartazes na cidade.

O meu retrato, a óleo, feito em Cotia por um pintor espanhol, foi colocado numa vitrine, ao lado da livraria do Cônsul, depois da cerimônia de apresentação oficial. Assim, é um retrato a mais para o museu do qual você me falou.

Em Cotia, escrevi 80 páginas (mais de 150 impressas), à mão, do novo livro: Pensamentos. Agora tenho que bater tudo à máquina. É um trabalho de inverno. Nunca paro. Esse de escrever é o mais importante, porque fica impresso nos livros.

Viajar para mim se torna cada dia mais difícil.

Já entreguei a Kokoska o cheque de Cr$ 72.000 que você remeteu para os livros.

Acho que receberá, diretamente do Cônsul, os impressos de Brasília.

Como vai Leinha? Saudades a Clóvis, a Dr. Albano e a todos os amigos de Campos.

Um grande abraço agradecido e saudoso do seu de sempre

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Vimos na carta de fevereiro que o Professor se sentia cansado para viajar e receber muitas visitas. Continuava escrevendo, temas não lhe faltavam para desenvolver em seus livros, mas estava bastante debilitado, fisicamente.

Nazarius compreendia a posição e os problemas de saúde do mestre e o cercava de todo cuidado, quando estavam juntos. O Professor não saía mais sozinho, sempre acompanhado de alguém. Depois da queda em Cotia, pelo choque elétrico, seu temor de caminhar aumentou ainda mais.

Agora, podemos observar mais uma vez como funcionou a Lei para defender o servo de Cristo. Nós, ainda míopes para ver a vontade de Deus, planejamos até o impossível. A Lei que tem mil recursos diz não, respeitando a nossa liberdade, quando insistimos, e não descobrimos que o “não” era a sua vontade. Isto sempre acontece com qualquer um, é só ficar atento aos fatos. Com a evolução, aprendemos primeiro a observar a vontade da lei e depois planejar. Era esse o procedimento do mestre, se dependesse somente dele. Quando havia vozes discordantes, não se manifestava, observava, concordava e aguardava o resultado. Assim, como já vimos, foram as viagens planejadas a Montevidéu (1965) e a Brasília (1968), a Grussaí (1964) e a Brasília (1966). As duas primeiras não eram de sua vontade nem da Lei, o contrário aconteceu com as duas últimas que se realizaram. Ele via, com toda clareza, o seu futuro, porque obedecia à Lei.

O próprio discípulo fez vários convites para ter Pietro Ubaldi em sua companhia. Ao observar que a vontade da Lei discordava da sua, não insistia.

Se os acontecimentos maiores, até nos da história, a Lei funciona, o mesmo ocorre com os menores, até com os pequeninos acontecimentos de cada dia. Basta observar e ter espírito de aceitação.