"S. Vicente, 8 de maio de 1967.

Caro Nazarius

Respondo a sua carta de 13 de abril.

Fiquei triste por saber que a sua mãe faleceu. Lembro-me dela, na sua casa, na horta, em Campos. Estou ao seu lado, na sua dor, que imagino grande, e ao lado de seu pai, que perdeu a sua companheira. Lembro-me da tristeza e vazio que deixou em mim o falecimento de minha mulher. Orarei pela querida alma de sua mãe e para que Deus dê conforto ao seu pai e a você, nesta hora de sofrimento.

Recebi os pacotes com os números 3 e 4 de Avancemos, estavam aqui à minha espera. Vi que a Editora também recebe o jornalzinho. Não é preciso enviar para os dois separadamente, basta um só pacote, assim pode poupar trabalho.

Na carta anterior já disse que acabei Um Destino Seguindo Cristo, terminei inclusive de datilografar. A composição que escrevi em Grussai, “Libertação”, é o último capítulo, com uma nota de rodape que explica onde e quando foi escrita. Assim, Grussai vai ficar marcada na Obra.

O número do Cruzeiro, de 29 de abril de 1967, página 92, tem um artigo: “Este Universo Devorador” que fala de mim e de A Grande Síntese, em sua reportagem. Se você conseguir encontrá-lo é só enviar-me o recorte, porque não consegui lê-lo.

Em Brasília, estão fazendo cursos semanais de A Grande Síntese na Universidade de 1á. O Professor Pastorino também está fazendo outro curso igual, no Rio de Janeiro.

No fim deste mês, um engenheiro, meu amigo, vai fazer, em Campinas, uma conferência sobre os aspectos científicos da Obra.

Peço-lhe transmitir estas notícias a Clóvis e a Dr. Albano.

O restante, tudo na mesma. Sempre trabalhando, apesar do envelhecimento natural.

Parabéns pelo seu boletim. Aqui estão preparando um em inglês.

Saiu na Itália “Psicanalisi delle religioni “.

Abraços de todos e do seu

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

A mãe de Nazarius foi uma excelente esposa, cumpridora de seus deveres, mãe exemplar que deixou saudades, quando partiu deste mundo, em 13 de abril de 1967. Esposo, filhos, parentes, vizinhos e amigos, todos sentiram muito a sua falta.

Quando o Professor se hospedou na velha casa, no centro da chácara, pobre, com telhado a vista, ela se desdobrou para dar um pouco de conforto ao ilustre visitante, que sentiu a sincera amizade e o profundo afeto de todos da família.

Ainda recordando Um Destino Seguindo Cristo, Pietro Ubaldi nos legou uma grande lição, no final desta obra:

“Eu sou apenas uma gota num oceano e, por isso, não sou nada no oceano; no entanto, faço parte dele e, por este motivo, sou um seu elemento constitutivo; eis de que maneira sou oceano”. É o que cada um de nós pode dizer, aquilo que somos perante Deus. Mas não basta sê-lo. O problema é sabê-lo e senti-lo. Ora, se Deus está em tudo o que existe, sem o que nenhuma coisa poderia existir, Ele lá está de modo tanto mais evidente e perceptivel, quanto mais o ser é espiritualmente evoluído, que no regresso está mais vizinho Dele e mais liberto dos invólucros obscurecedores, produtos da involução. Eis que a fundamental unidade da natureza entre criatura e criador é diversamente sentida por aquela, conforme o grau de evolução alcançado. É indiscutível que esta unidade exista e constitua uma qualidade indestrutível, que ficou escondida no mais profundo do ser, capaz de resistir a qualquer erro ou revolta deste. Ela era indispensável para que se pudesse cumprir o ato da criação, com a qual Deus gerou a criatura extraindo-a de Si próprio, isto é, da Sua própria substância, dado que de outra maneira não poderia fazer, porque Ele é Tudo. É assim que o evoluído, espiritualizado, as vezes pode encontrar na profundidade de si mesmo, emergindo do inconsciente em que ficou sepultado, um eco daquele pensamento divino, originário, do qual derivou a sua existência. O fato dele não ser percebido é devido a surdez do ser, por motivo da involução e não porque a voz de Deus silencie. A involução pode mudar o que pertence ao ser rebelde, mas não aquilo que é de Deus.”