"S. Vicente, 27 de agosto de 1962.

Nazarius,

Agradeço-lhe pela sua boa cartinha de 18 de agosto e pelas palavras consoladoras.

Recebi anexo, também, o cheque que já descontei, foi ótimo. Não conheço o nome dos doadores, você que os conhece, peço o favor de agradecer-lhes.

Sabe que a sua cidade é a que mais respondeu ao apelo e está na vanguarda das ajudas? Esteve aqui nos visitando Dr. Albano Seixas Filho e viu a nossa vida. O Sr. Wilson Werneck continua enviando uma ajuda de vez em quando, também o Nilton Garcez, que mora em Niterói. Tenho agradecido a todos por carta. Essas doações vão resolvendo pelo momento, até que dure. Ao mesmo tempo vamos organizando um trabalho a fim de se ganhar alguma coisa. Ainda me encontro com despesas enormes. O meu trabalho não dá fruto material algum.

Sabe que o Clóvis me escreveu uma bonita cartinha, cheia de bondade e carinho? Vou responder-lhe igualmente. Também está sofrendo bastante e eu estou com muita pena dele.

Obrigado pelo telegrama do meu aniversário. Agradeça a sua senhora.

No dia 5 de agosto comemoramos as bodas de ouro. Foi uma festa muito singela, entre amigos e sócios do núcleo de Santos e de S. Paulo.

Em 18 de agosto fiz 76 anos. Sou o único, em casa, que não chama médico e não toma remédios. A vida aqui é uma corrida contínua.

Nestes dias, esteve aqui o nosso Cônsul, por 4 dias. Agora está sozinho em Montevidéu, porque a sua família está morando em Santos.

Anexo o Boletim que saiu em Montevidéu, em espanhol e deverá sair em português, em Italiano (em Roma) e em Esperanto (no Japão – Kioto). Assim vai se espalhando pelo mundo.

Um grande abraço agradecido. Saudades a sua mulher.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Como vimos, Campos estava na vanguarda da ajuda material, da qual o Professor tanto necessitava. O apelo, enviado por Dr. Emygdio, deu resultado durante algum tempo e a ajuda chegou dentro das cinco condições vistas anteriormente (cap.50).

Os cheques enviados por Nazarius não tinham doadores, eram dele. Se dissesse isso, o Professor se recusaria a aceitá-los.

Pietro Ubaldi levou alguns anos preocupado com Clóvis Tavares que não lhe dava notícias. Sua preocupação era natural, como vimos: foi seu grande amigo no Brasil, seu intérprete, viajou com ele durante o giro de conferências em 1951 e foi tradutor de algumas de suas obras. Sempre se referia a Clóvis Tavares com muito Amor e respeito. Agora está feliz porque Clóvis lhe “escreveu uma bonita cartinha cheia de bondade e carinho”.

Se houve aqueles que desejavam a volta do Professor para a Itália, também tinha bons amigos, que lhe eram gratos e foram ao seu encontro para socorrê-lo nas horas de necessidade, confirmando, assim, as profecias de Cristo (“Sua Voz”):

“Pedro, confio-te esta nova terra, o Brasil, a terra que deves cultivar, trabalho imenso, mas terás imensos auxílios.

Estou contigo e as forças do mal não prevalecerão.

Agora, uma palavra também para os teus amigos, uma palavra de gratidão e agradecimento, uma palavra de benção pela cooperação, porque eles, ajudando-te, tornam possível a realização de tua missão.”( Final da Mensagem de “Sua Voz” a Pietro Ubaldi, em Pedro Leopoldo, em 17 de agosto de 1951).

“Neste doloroso silêncio cheio de trabalho, pude, novamente, ouvir, clara e forte, a “Sua Voz”, que no cansaço e no rumos das muitas viagens, entre tanta gente, não me era tão fácil escutar. E “Sua Voz” me repete agora: “Vai, retorna ao Brasil. Esta é a terra da bondade e do Amor, a terra do Evangelho, tua nova pátria, o lugar de teu novo trabalho.” ( Gúbio, 20 de janeiro de 1952).

Realmente, o Professor passou por grandes dificuldades, mas não sucumbiu, permaneceu firme, venceu e cumpriu sua missão.