"S. Vicente, 19 de fevereiro de 1957.

Nazarius,

Recebi a sua carta ontem.

Tudo bem a respeito de suas provas.

Estou feliz em saber que o seu pai vai melhorando.

Os meus estão no interior, de férias, e eu fiquei aqui sozinho, fazendo refeições em outra casa, mas no fim do mês voltarão todos.

Estou comprometido nos dias 22 e 28 de fevereiro e 6 de abril. Em março será difícil ausentar-me daqui. Não é possível adiar o nosso encontro para abril?

O trabalho é muito, e o dever para cumpri-lo é grande. Aproveitei a solidão para escrever.

Faço votos pelos seus exames. Orarei a Deus que o ajude sempre.

Saudades aos amigos e um grande abraço agradecido.

Pietro Ubaldi"

 

"S. Vicente, 12 de abril de 1957.

Nazarius,

Chegou a sua carta do dia 5 deste mês.

Concordo com tudo. Está ótimo.

Viajarei, de ônibus, como fiz outras vezes. Sairei de S. Paulo à meia noite e meia, a viagem é de sete horas. Encontrar-nos-emos no dia 27, pela manhã, às sete horas, na Praça Mauá. Assim fica concordado desta maneira. Telegrafarei somente se houver mudanças. Já ficamos comprometidos. Aí combinaremos quanto tempo ficar. Será bom para descansar alguns dias, desta corrida.

Saudades e abraços a todos os conhecidos de sua cidade.

Pietro Ubaldi"

COMENTÁRIO

Harmonia e equilíbrio espiritual sempre mereceram destaques na vida de Pietro Ubaldi. Além de seus inúmeros problemas estava atento aos de Nazarius, dentro da mais perfeita ordem.

Suas preocupações na hora de escrever a carta, eram colocadas no papel: as provas de Nazarius e a saúde de seu pai, os seus compromissos, o trabalho, as viagens etc.

Á noite, quando ia escrever, os problemas ficavam de lado e se ligava as suas correntes noúricas. Por isto, preferia escrever, quando estava espiritualmente longe deste mundo. Ele mesmo fala do processo de recepção dos seus livros em As Noúres (Técnica e Recepção das Correntes de Pensamento):

“Antes de lançar-me à exploração supranormal, tenho necessidade de encerrar-me, para minha ajuda e proteção, nesse invólucro de vibrações simpáticas, harmônicas, leves, como um veículo que me permita flutuar no oceano das vibrações comuns da vida humana, que são densas, sufocantes, cegas.

É noite, aproximadamente dez horas. É ótima hora, em que minha capacidade receptiva se intensifica, até cerca de uma hora da madrugada, em que diminui, então, por cansaço. Existe um antagonismo entre meu pensamento e a forte radiação solar; parece que a luz embaraça minhas funções inspirativas, neutralizando as correntes psíquicas que me circundam. Amo as luzes tênues, difusas, coloridas, que deixam vaguear os contornos dos objetos nos contornos indefinidos da penumbra.”

Com essa vida não turbulenta, mas orgânica e equilibrada, Pietro Ubaldi construiu o seu destino neste mundo e para o outro.

Cada um de nós pode construir seu próprio destino para que ele não se transforme em fatalidade.

A Grande Síntese afirma: “O presente pode corrigir o passado, numa vida de redenção; pode somar-se a ele nas estradas do bem, tanto quanto nas do mal. Diante do determinismo da Lei, que impõe a cada causa seu efeito, está o poder do livre-arbítrio, de corrigir a trajetória dos efeitos com a introdução de novos impulsos. Destino não é fatalismo.”