No presente trabalho estamos estudando a estrutura e a técnica do funcionamento da Lei com uma finalidade: evitar o mal e a dor. Tratando-se de resolver um problema, é lógico que a primeira coisa a fazer é compreendê-lo, analisando-o com mentalidade positiva. Por isso evitamos atitudes idealistas, não baseadas na realidade dos fatos.

A vida dá provas de uma tão grande sapiência ao construir seus organismos, dirigir os seus fenômenos, resolver os seus problemas e atingir os seus fins, que não podemos deixar de considerá-la um centro psíquico inteligente. Este fato autoriza-nos a estudar-lhe o pensamento para conhecê-lo.

Perguntamo-nos: como a vida que soube criar as maiores maravilhas, resolvendo problemas dificílimos em suas construções, deixa freqüentemente suas criaturas indefesas à mercê de mil perigos e sofrimentos? Como se explica tanta indiferença por tal sorte, ao lado de tanta sabedoria e previdência? Como se justifica tanta negatividade destrutiva, ao lado de tanta positividade construtiva? Quando o indivíduo vem ao mundo, freqüentemente, espera-lhe a miséria, as doenças, o cárcere, em suma, os sofrimentos materiais e espirituais de toda a espécie. Há gente condenada desde o nascimento a uma vida de dores. E todavia as coisas estão combinadas de tal modo que o nascer é fatal, porque depende de instintos irresistíveis. Além disso, para tornar o fato do nascimento inevitável, a vida é pródiga de meios. Ela, que é avaríssima, e utilitária, desperdiça uma abundância incrível de germes, em grande parte destinados a perecer. Por exemplo, dos duzentos e cinqüenta milhões de espermatozóides que conseguem contato com o óvulo, somente um está destinado a operar a fecundação.

Se a vida deseja tanto que o ser nasça, ainda que seja para deixá-lo depois em condições de ter tudo, menos uma felicidade garantida, então deve haver uma forte razão para isso. Somente esta pode explicar a contradição que existe entre o fato que a vida, que é tão benéfica de um lado, é depois tão maléfica de outro. E ela nisto dá também provas de saber perfeitamente fazer-se obedecer, e exatamente por indivíduos cujo primeiro impulso é a desobediência à Lei.

Para os subdesenvolvidos o jogo da vida reduz-se a buscar o prazer e fugir da dor. Mas a coisa não é tão simples. Nem se nos oferece uma explicação. Encontramo-nos perante um funcionamento que cabe a nós descobrir e compreender. Ele apenas funciona, como acontece com todas as leis do universo, sem nos dizer nada a seu respeito. Tratemos então de compreender qual é, neste caso, a regra do jogo.

A finalidade da vida não pode ser o de gozar, ainda que os ingênuos possam crer nisso  Isto pode acontecer na juventude, quando o indivíduo baseia-se em seu desejo e não em sua experiência. Mas não há velho que, tendo vivido, conserve tal ilusão. Eis então que devemos admitir que a vida tem uma outra finalidade, porque se assim não fosse, fazer nascer quem está destinado a sofrer será uma traição. Ora, a vida demonstra ser tão benéfica que não se pode admitir nela um tal impulso maléfico. Ela, em todas as suas manifestações, demonstra-se tão carregada de positividade, que a negatividade que contém deve existir por uma outra razão.

A realidade é que o verdadeiro objetivo da vida é outro. Entendido qual é, tudo encontra sua explicação. Mas é necessário primeiro ter compreendido o fenômeno vida em seu desenvolvimento e finalidade. O fim supremo que ela quer alcançar a todo custo, de acordo com seu caráter de positividade construtiva, é a salvação do ser, conseguida através da evolução. Salvação significa conseguir a felicidade, que é o grande desejo que freme no fundo de cada coração humano e que impulsiona o indivíduo à ação. Este desejo está escrito na Lei de Deus e está destinado a realizar-se. Ele um dia deverá ser satisfeito. Se assim não fosse, ele não teria sentido nem finalidade, e constituiria uma zombaria atroz. Quem sabe como funciona a vida não pode admitir que ela trabalhe com tal sistema.

Compreendido que esta é a sua finalidade, as condições que ela nos oferece, de fato, não são mais uma contradição, porque assumem um outro significado. Não se vive para gozar, mas vive-se para chegar à felicidade que é o ponto final, no topo da escala evolutiva. O instinto não nos engana e é um móvel utilíssimo da ação. Ele cumpre sua função que é a de impulsionar-nos em busca da felicidade. Assim corre-se, fazem-se esforços em todos os sentidos para subir, enfrenta-se e tenta-se vencer. Em uma palavra, experimenta-se, seguindo o curso da escola da vida, de que vimos os métodos didáticos do erro-dor  etc.  Para que não se tente fugir de tudo isso, há pois o instinto de apego à vida que nos faz suportar as provas necessárias para evoluir

Todavia pode acontecer que se tente a fuga com o suicídio. Mas, por que é ele um mal? Mais exatamente porque é uma recusa em afrontar as provas que precisamos atravessar para conseguir a evolução que, ainda não se compreenda, é a finalidade da vida. Evoluir para salvar-se é o dever que a vida nos impõe. Suicidar-se é dizer não a este dever, que, em substância, não é senão o de construir o nosso bem. Mas isso deve acontecer cumprindo a fadiga para ganhá-lo, o que está de acordo com a justiça da Lei. Então o suicida, que deseja fugir disso, termina por pagá-lo, no sentido de que a prova não aceita recai sobre ele com a fatalidade de um destino e agravada pela recusa.

É necessário compreender que as provas são meios para aprender a subir, são instrumentos de evolução, isto é, de salvação. Embora reconhecendo nelas um aspecto negativo, a vida assume um valor positivo. Em suma, o mal e a dor, que são destrutivos em si, adquirem um significado e um poder construtivo, que dão um alto sentido benéfico àquilo que antes parecia uma condenação.

Eis por que a vida, sem ser maléfica — sendo benéfica — ao contrário, pode impor o nascimento, mesmo se este leva a provas dolorosas. Estas então não são negativas e destrutivas, mas positivas e construtivas, porque, se compreendidas, podem ser um instrumento de evolução, isto é, um meio para subir em direção à felicidade. Eis por que se deve nascer, e a vida é sempre uma bênção de Deus, mesmo quando ligada a um destino doloroso. Estas não são afirmações fideísticas, mas são o resultado de um raciocínio baseado na realidade e na lógica vivenciadas.

Já explicamos que a dor tem a finalidade de eliminar o erro, que é a sua causa. A dor existe para eliminar a dor. Pelo fato de ser ela um meio para chegar à felicidade, justifica-a perante a Lei. Em suma, reconhecemos na vida uma larga zona de negatividade, mas compensada e corrigida, fechada e enquadrada para o bem na positividade fundamental do Todo.

Compreendido esse mecanismo, tratemos de utilizar o seu conhecimento para uma sábia orientação de nossa vida, e mais exatamente, para evitar com isso o doloroso efeito do erro.

Um sistema bastante difundido para satisfazer o desejo de felicidade é o de procurá-la pelo caminho de menor resistência, o mais fácil, o de atalhos. Assim chega-se rapidamente, por qualquer meio, aconteça o que tiver de acontecer. Quem compreendeu o mecanismo da vida, sabe que isso é um erro que vai conduzi-lo à dor. Esse tipo de felicidade é roubada à justiça da Lei e, como furto, deve ser-lhe pago. A alegria que não corresponde a um mérito e a um valor verdadeiro é falsa e transforma-se assim em um engano. Trata-se de uma trajetória em direção errada que, portanto, exige correção. Ela é lançada para baixo, em sentido involutivo, enquanto se deve dirigi-la para o alto, em sentido evolutivo. Assim ela, porque vai em sentido involutivo, apesar de querer caminhar em direção à alegria, caminha para a dor. Para evitar essa trajetória realmente em direção à alegria, a vida deve reorientá-la a golpes dolorosos. Ela é uma desordem e esta é uma doença da ordem. É neste ponto que dói. A dor aparece quando a ordem é alterada, e deste fato somos advertidos por aquela sensação que chamamos dor. Isto em todos os campos é a expressão sensorial de uma violação da ordem da Lei.

Desejamos a felicidade. Isto é justo. Mas o caminho para lá chegar é regulado por normas. Se não as seguimos chegamos, ao contrario, à dor. Insistimos nisso porque este é o sistema mais usado, embora seja uma grande ilusão, porque, pelo contrário, leva à operação cirúrgica da reorientação. É duro então saltar às costas da Lei ao negativo, em posição corretiva. Só quem não compreendeu o funcionamento do fenômeno não vê o absurdo de pretender que a desordem e a violação possam levar à felicidade, que, ao contrário, é um estado de harmonia, feito de disciplina na ordem.

O conhecimento de tal mecanismo pode ser útil, sobretudo aos jovens que, ingênuos e carregados de desejos, encontram-se na hora do lançamento da trajetória de sua vida, isto é, da implantação de seu destino. Eles crêem ter nascido para gozar. Em vez disso, nasceram para experimentar e aprender, e isto para evoluir, o que significa subir e melhorar as condições de vida. Programa são e construtivo. Quem tem a mente lúcida compreende que isso é lógico e correspondente à verdade.

Mas é freqüente o caso em que se busca a felicidade, descendo negativamente, isto é, endividando-se para com a Lei. Tratando-se de um regime de desperdício, porque não reabastecido de positividade, ganha com o próprio esforço e valor, para continuar a gozar, usufruindo com isso de positividade, é necessário um endividar-se sempre maior. Assim a negatividade aumenta. Isso é inevitável porque, uma vez lançado, o movimento em descida adquire sempre mais velocidade, até um ponto de saturação no qual a reação da Lei amadurece, interrompendo subitamente o desequilíbrio, restabelecendo a ordem à força.

Como se vê o fenômeno baseia-se em um jogo de equilíbrio entre as duas forças contrárias, a positiva e a negativa, postas perante o princípio de justiça próprio da Lei. É como o que ocorre no uso de drogas, que criam um paraíso fictício do tipo negativo, porque artificialmente roubado às leis da vida. Assim, ele tende a exaurir-se, de modo que para continuar a gozá-lo, é necessário um aumento contínuo da dose de negatividade que o gera. Isso significa que, para preparar-se um bem sempre menor, é necessário buscar um mal sempre maior. É Justo e lógico que assim seja, porque a trajetória do fenômeno está em posição reversa, anti-Lei, pelo que não se pode obter senão resultados reversos, anti-vida. Assim, tudo tende a resolver-se em envenenamento e morte. É nesta direção que o desenvolvimento do fenômeno se precipita, até o baque final com o qual a Lei restabelece o equilíbrio segundo a justiça  Atentemos, para não enveredar-nos por essa estrada, da qual depois não se sai mais, enquanto não se chega ao fundo.

A vida pode fazer convites desse tipo em qualquer campo: o do poder político e econômico, do prazer dos sentidos etc. Em nosso tempo, no qual se adora o sucesso, é fácil cair na armadilha. E os ingênuos, atraídos, abocanham o anzol. Mas então a vida, se faz ofertas semelhantes, é traidora? Por que as faz? Onde está a justiça da Lei?

É necessário não esquecer que a vida é uma escola, e uma escola é feita de contínuas provas a serem superadas. Tais ofertas são um teste para aqueles que tendo experimentado e aprendido, dão provas de saber resistir ao convite, não mais caindo na armadilha. De tal exame aqueles saem vencedores e são promovidos à  classe superior. Os maduros conhecem o jogo da armadilha e por isso não caem lá e a vitória lhes serve para avançar.

Mas os imaturos não entendem o jogo e é exatamente para chegarem a compreendê-lo que eles têm necessidade de experimentá-lo. Como podem aprender, se não sentirem na própria pele quais são as conseqüências do erro? É necessário que eles aprendam, vivam portanto todo o desenvolvimento do fenômeno da queda, como descrito acima. Isso até o baque final, que é o golpe necessário, única coisa que pode ter a força para abrir e penetrar sua mente, ainda dura para fazer-se entender. Então nela faz-se a luz e estes homens amadurecem, de modo que, quando  do próximo convite do mundo, não cairão na armadilha  Então, eles superarão tal exame e poderão subir para uma classe superior. Esta é a mecânica do fenômeno. O caminho é livre, sendo necessário, pois, muita atenção para escolhê-lo..

Cuidado, portanto, para não deixar seduzir-se, aceitando cegamente ofertas gratuitas de triunfos fáceis. Façamos então o exame de consciência, e se virmos que eles não são merecidos porque não correspondem a um valor real nosso, não aceitemos aqueles triunfos. Devemos dar provas de sermos conscientes do que valemos e merecemos. Se somos orgulhosos, vaidosos, ávidos, ignorantes, descuidados, irresponsáveis, é justo que caiamos e paguemos.

O banquete está pronto e somos convidados. Mas devemos compreender o significado do convite, porque se não o compreendermos antes, compreenderemos depois, como acontece com o peixe que abocanha o anzol. O ávido, ansioso de ganhos gratuitos, crendo ser esperto e vencedor, abocanha-o. Mas, por quê? Porque aquelas são as qualidades de seu temperamento, exatamente aquelas que devem ser corrigidas pela experiência. É justo que a prova o espere, até que ele aprenda e com isso evolua. Ele compreenderá depois. Mas como se poderia isentá-lo da prova, se ele antes não compreendia? A desilusão tem uma salutar função educadora e é por isto que, para seu bem, a vida fá-la suportar. A finalidade disto é que ele chegue a compreender que com aquele método não se vence, mas se perde. A desilusão serve para atingir a compreensão — primeira condição para avançar. Trata-se de um sofrimento justificado, salutar e construtivo. Se ele houvesse sido maduro não teria abocanhado e não teria sofrido, porque sofrer é justo, útil e necessário somente para quem aprendeu.