Após longa e áspera luta entre as forças do bem e do mal, as primeiras a favor da Obra e as segundas firmemente dispostas a destruí-la; ela vai chegando, milagrosamente, ao fim. É uma prova de que se encontra do lado das primeiras que são vencedoras, porque são mais fortes. Demonstra também que são eficientes e, portanto, têm a intenção de continuar vencendo quem a quiser sufocar, corromper ou desfrutar.

Com o presente volume, se aproxima o término da segunda parte da Obra, período brasileiro, isto é, os últimos vinte anos da minha vida. Estamos chegando ao fim da segunda e última fase de nosso trabalho. Na primeira parte se revelou em forma de poesia e de aspirações místicas: é um ato de fé, é o canto do poeta que sente a bondade de Deus e julga poder encontrar igual benevolência no mundo que no entanto, se situa nos antípodas. Nesta segunda parte da Obra, observamos o aspecto oposto, ou seja, não mais a beleza do ideal que se manifesta no céu, ao qual pertence, mas a luta desse mesmo ideal plantado em ambiente hostil que o rejeita e, para o adaptar as suas próprias comodidades, corrompe-o, atraiçoa-o, emborca-o.

Vemos então que, em contato com a realidade do mundo, o ideal se torna o sonho de um ingênuo que parece não conhecer a vida. Esta é coisa bem diferente: é luta feroz para dominar, e nela o ideal é, muitas vezes, usado para esconder aquela realidade, com um camuflar-se de santo, para enganar o próximo e vencê-Lo. Quanta boa-fé, que entusiasmo singelo a princípio, acreditando que a Terra fosse constituída só pelos bons! Foi assim que, perseguindo um grande sonho de bondade e de beleza, iniciou-se a Obra. Mas o mundo estava espiando esta nova borboleta colorida que esvoaçava ignara, pensando na melhor maneira de capturá-la para depois a enfiar num alfinete e secá-la, a fim de servir de adorno às suas coleções de sonhadores idealistas.  O mundo diz: "Borboleta, voa! Poeta, canta e crê com a tua fé. Aproxima-te de mim, que te abro fraternalmente os braços, pois também sou todo bondade e Evangelho. E um idílio! Estamos de acordo, tu e eu. Vem!". Assim também o passarinho se deixa meter na gaiola e depois deve cantar para quem o capturou e o colocou a seu serviço. Um evangélico convicto é o melhor chamariz para atrair outros bem intencionados!

Mas o ideal é uma força e não pode ser vencido por tais atentados. Ele possui as suas defesas. E entre os dois — o ideal deseja cumprir a sua função e o mundo procura eliminá-lo — o choque nasce inevitavelmente, isto é, surge um estado de guerra, porque nenhum dos dois está disposto a deixar-se destruir pelo outro. Foi assim que esta segunda parte, que chamamos segunda Obra, desenvolveu-se numa atmosfera de luta, bem diversa da primeira, toda ela poesia e doce harmonia. Mas foi graças a este fato que podemos ter agora, diante de nós, o reverso da medalha, e assim, possuímos uma visão completa e não unilateral, apenas, em que o idealismo da primeira Obra se junta ao realismo da segunda. Deste modo, fundamentalmente, nada prejudicou, porque produziu uma renovada complementação, na medida em que levou a enfrentar e apresentar os mesmos problemas sob aspectos diversos, observando-os em função de novos pontos de referência. Assim se explica o estilo diferente da primeira Obra, sobretudo em sua finalização, com crítica positiva do mundo em lugar das exaltações espirituais. Mas trata-se de julgamento benévolo, como é natural, feito para ajudar, e sem trair os princípios da Obra, isto é, crítica que não tem a intenção de agredir ou destruir, como é hábito acontecer no mundo.

Se a primeira Obra se pode definir como o sonho de um místico solitário, a segunda representa a sua experiência terrena. O anjo, caído num terreno traiçoeiro, onde a cada passo se esconde uma cilada, teve de se exercitar em coisas bem diferentes das do céu e integrar o seu conhecimento nos fatos de nosso mundo, que é bem distinto. Mas, mesmo nesta contraposição de opostos, que equilíbrio de aspectos complementares se combinam mutuamente! Destarte, cada desordem termina enquadrando-se dentro de uma ordem maior, e o mal é posto a serviço do bem, incluído dentro daquela ordem. O próprio AS fica prisioneiro na lei do S. (S = Sistema), (AS = Anti-Sistema) —  os dois pólos do ser. (Cfr. O Sistema).

Disto podemos falar somente agora, no fim de todo o trabalho, porque nesta hora se torna visível. E tudo se realizou automaticamente. Antes, não era possível prevê-lo e preordená-lo. Temos uma vida de oitenta anos dividida em duas partes iguais de quarenta cada uma: a primeira de preparação e amadurecimento, a segunda de execução. Esta última também dividida por sua vez em duas, e isso para realizar a Obra em dois dos seus diferentes aspectos, localizados em dois hemisférios opostos, em dois períodos de vinte anos: 1931-1951, o da primeira Obra, e 1951-1971, o da segunda. Isto foi o que escrevi na Introdução da segunda obra, no início do seu primeiro volume — Profecias — e que estou confirmando neste livro.

Esta segunda parte da Obra entrou na vida pública para penetrar na  realidade representada pelo mundo  Desenvolveu-se, assim, um diálogo traduzido em ações e reações, diálogo que descrevemos nos volumes precedentes: de um lado, as forças do Alto; do outro, as da Terra, ambas em duelo. Protegida pelas primeiras, a Obra resistiu, percorrendo regularmente o seu caminho em direção às suas novas fases de desenvolvimento. A estrada palmilhada ficou assinalada por mortos e feridos que caíram à sua margem, desaparecendo sem poder fazer nada, e que antes se fizeram donos de tudo.

Esse período de luta não foi inútil, pois levou a uma tomada de posição racionalmente mais sólida e definida, a uma espiritualidade cientificamente mais positiva, já não apenas misticismo e poesia, porém também trabalho de controle com base na lógica e na experimentação. Deste seu segundo período a Obra saiu vencedora de uma batalha que a reforçou e a completou. O espírito saiu triunfante, não só como fé e ascensão para Deus, mas ainda bem temperado na luta, tendo ficado mais rico em conhecimentos. Assim, o ideal pôde dar prova de não ser apenas um belo sonho, mas uma força viva e potente, de maneira a saber impor-se à feroz realidade biológica Na segunda Obra a fé se encouraçou contra todos os ataques, e o ideal, armado de provas, tornou-se raciocínio e ciência, podendo desafiar o mundo e cumprir o seu trabalho de civilização. Cristo demonstra saber  vencer, não apenas nos céus, senão também em nossa Terra infernal. Pode, assim, verificar-se que as forças inferiores não têm o poder de prevalecer contra as superiores.

O    ideal resistiu. A luta o confirmou, fortificou e consolidou. Eis que esta segunda fase da Obra teve a sua função, seguindo a técnica da descida dos ideais. A maior comprovação da Obra é esta sua sobrevivência através das ameaçadoras tempestades que pareciam poder destruí-la; é ter sabido resistir ao assalto que o mundo desencadeia quando um ideal desce à Terra, enfrentando-o. Esta é ainda uma vitória do S sobre o AS, que o S quer fazer avançar e evoluir. Não podia acontecer de outro modo. Não podia deixar de funcionar a lei fundamental da vida: a evolução, salvando a Obra que lhe está estreitamente conexa.

Assim, esta sua segunda parte não expressa mais um homem ingênuo que se deixa enganar pelo mundo que o procura para explorar. Aquele que sofre pelo ideal tem paciência, enquanto os outros se aproveitam do seu sacrifício, que exprime o indivíduo espiritual batalhador. O idealista vê o jogo do mundo, explica-o aos bons para não caírem nele e acusa aqueles que o praticam. Mesmo que o mundo queira o cúmplice e ame o amigo aliado ao seu jogo, a verdade tem de ser dita para que os simples seja esclarecidos. Desta vez o ideal não se deixou torcer a serviço de outros interesses. Ele não se dobrou, ainda que condenado como erro e combatido em nome da verdade. Pelo contrário, tornou-se ação. E, então, o céu se moveu, defendeu as posições, salvou. Se o mundo tem as suas forças, também o ideal tem as dele, cada um as que são próprias do seu plano. Neste segundo período, de ambos os lados elas se desafiaram e se mediram em forma de luta. Depois desta prova a segunda Obra conclui-se com uma afirmação cada vez mais consciente.

No fim do presente volume, o leitor assistirá à oferta simbólica da Obra àqueles que depois quiserem vivê-la e realizá-la. Dado que estamos na Terra, é natural haver alguém que se aproxime julgando encontrar alguma coisa para apoderar-se a seu interesse material. Mas isso para quem o fizer representa um perigo, porque, se a presa parece fácil e por isso atrai os incautos, a Obra é uma arma espiritual potente que pode trazer grandes benefícios, se for bem usada, mas que pode explodir nas mãos de quem fizer mau uso dela.

É perigosíssimo maltratar as coisas espirituais.  E neste erro caem facilmente aqueles que creem ser astutos e delas se acercam com a mesma forma mental do explorador. Isto pode parecer uma traição, mas é justo que seja assim. É  providencial, porque representa uma legítima defesa da vida, uma vez que elas são fundamentais para a evolução deles. Por isso as coisas espirituais são protegidas por forças poderosas, mesmo invisíveis garantem o seu triunfo, deixando os assaltantes na ruína a que os conduz a sua própria negatividade.

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O presente volume é apresentado quase em forma autobiográfica, porque se trata de experiências realmente vividas, ainda que sejam utilizadas como tema para generalizações que ampliam o assunto até versar sobre problemas de caráter social. Isto porque os casos da vida do protagonista aqui examinados não se consideram isolados, mas são orientados em função dos princípios gerais da Obra, dos quais aquela vida pretende ser uma aplicação. E assim que os fatos são explicados através da respectiva teoria, que deles nos mostra o significado e justifica a sua presença na forma em que se desenvolvem. Deste modo, o livro é teórico e prático ao mesmo tempo, porque, se de um lado constitui o emprego de teorias já abordadas, como desenvolvimento de novas, de outro é solução de muitos problemas de vida vivida. Assim, esta história se enxerta no mundo de todos, porque o sujeito, com a sua conduta, mostra como, seguindo os seus princípios, entendeu a vida, resolvendo vários problemas, consciente dos seus fins e da sua própria posição no seio das leis do universo. Depois de tantos volumes de teorias gerais, este é um livro de realizações práticas.

Neste escrito falaremos bastante de pobreza, mas apresentando-a não como uma virtude, como frequentemente se costuma fazer na Terra para suscitar admiração. Aqui a pobreza não é um exibicionismo para se fazer venerar os santos. Os motivos são diferentes e expostos a favor e contra. Seria pueril antepor como juízo de valor absoluto o do mundo, sendo possíveis diversas apreciações em função de outros pontos de referência sem interesse imediato. Todavia, não se pode impedir que cada um veja a pobreza a seu modo e que se encontre alguém para julgar aquele personagem um louco. Neste caso, temos o fato de que ele tem Cristo ao seu lado. Depois debate abertamente a sua loucura e nos mostra a sua lógica. Discutindo-se a si próprio, ele contesta a forma mental do mundo e a conduta deste. Agora, no final do seu caminho terrestre, ele pode somar as suas operações e concluir para ver se teve razão ou não. E certo que sofreu, mas isto não o prejudicou, antes o melhorou, e quem lhe fez mal somente o fez a si próprio. Entretanto, o fruto de ter sabido lutar e sofrer e, com isso, evoluir e purificar-se, o nosso personagem o leva consigo. Assim, o livro é construtivo porque ensina a viver com retidão, mesmo que agora faça isso de forma dura, mais do que de poética ternura. E por esta razão que ele é bom para persuadir não somente os crentes que gostam de sonhar, mas também os descrentes que querem raciocinar. Isto porque, em vez de limitar-se aos conselhos teóricos de costume, o livro explica os motivos pelos quais as coisas vão mal e como se paga caro por isso. Esperamos que este escrito possa, pelo menos, induzir alguém a enfrentar alguns de seus problemas com sabedoria, para seu próprio bem e para o de outros.

Este volume pode ser útil aos pobres, que acreditam na riqueza, como se ela pudesse ser a solução para todos os males; e aos ricos, que a ela estão grudados sem poder resolvê-los, para mostrar quanto ela pode conter de veneno e a que perigos se expõe quem não sabe fazer dela bom uso; quantos deveres ela implica e que dívida contrai para com a divina justiça, à qual deverá pagar quem não cumpre com aqueles deveres. A riqueza é uma arma de dois gumes que pode golpear mesmo quem é seu dono. Este livro mostra que é danoso não só ter mais do que o necessário, como também possuir muito pouco. Assim, tanto é desgraçado aquele que é excessivamente rico, como o muito pobre. Os bens são um meio e não um fim, um instrumento e não um objetivo de trabalho. Portanto, é por este motivo que se tem o direito de possuí-los, isto é, para trabalhar, produzir na matéria e no espírito, evoluir em ambos os campos, e não para entesourar com avareza ou para desperdiçar no prazer. A riqueza que for usada para trair os fins da vida acaba por atraiçoar o incauto que acredita ser possível com a sua astúcia violar as leis.

Infelizmente, com esta forma mental, ansiosos de possuir e desfrutar a qualquer custo, ricos e pobres frequentemente se equivalem. Muitos pobres, no fundo, são apenas ricos frustrados, desejosos, em nome da justiça, de fazer pior do que aqueles, ou seja, ao se tornarem ricos, praticarem uma injustiça maior ainda contra os desgraçados que ficaram pobres. As posições do satisfeito e do insatisfeito são diferentes, mas a avidez de possuir e de gozar é característica humana. Para o pobre, mesmo as raras renúncias do rico são consideradas loucura; se chegam a verificar-se, de modo algum lhe interessam, e só as toma a sério, se tiver alguma coisa a ganhar com elas. O pobre pode ver também naquela renúncia, que segundo ele é loucura, apenas o insulto que para ele representa o fato de o outro ter nascido rico e, com esta finalidade, poder permitir-se ignorar as dificuldades da vida, dando-se ao luxo, por esporte, de fazer-se pobre, somente porque ele não experimentou sê-lo de verdade. São heroísmos com os quais o pobre se ofende, porque não o ajudam de forma alguma a salvá-lo da sua pobreza. Fizemos estas considerações para mostrar as diversas perspectivas com que pode este livro e os diferentes critérios com que pode ser julgado o que ele defende.

Um livro semelhante a este, também em estilo autobiográfico, faz parte da primeira Obra. Intitula-se: História de um Homem. Mas existe uma diferença entre os dois. No primeiro, o protagonista observa a vida colocada no seu futuro, como uma antecipação e um pressentimento. No segundo, ele a olha, situada no seu passado, como uma experiência vivida. No primeiro caso, trata-se de um jovem olhando de frente o início do seu viver; no segundo, tem-se um velho que olha para trás e a está terminando. E assim que os pontos de vista, nos dois volumes, não são os mesmos. No presente escrito, o sujeito encontra-se no fim, em posição oposta à precedente. Pode, portanto, dizer, por experiência própria, aquilo que no outro livro era apenas uma perspectiva futura, um plano de existência e não uma vida completa. Não predominava o atual sentido de abandono dado pela iminência da morte, enquanto agora este outro tipo de vida não é mais uma espera longínqua, mas está batendo à porta. Esta posição diversa leva a situar os problemas sob outros aspectos e mostrar-lhes outras facetas ainda não examinadas anteriormente. Por isso, o presente volume completa o precedente. Confrontando os dois, o leitor poderá ver o caminho percorrido, desde então até hoje, de uma à outra das duas diferentes épocas.

Neste escrito o leitor poderá ver o sistema filosófico de toda a obra, como também a sua concepção evangélica levados ao campo prático da realidade em nosso ambiente terrestre, para dar-se conta do que sucede, realmente, em tais casos. Aqui se vê como funciona em verdade o jogo das ações e reações na luta entre o ideal e o mundo. Aqui as teorias dos outros volumes tornam-se vida, realização, experimentação. Temos uma posição de fato contra a corrente do mundo e uma resistência a ela durante uma existência inteira, até ao fim. Mas, naquele instante, quando se chega à prestação das contas, surge o emborcamento das posições, e, perante os novos valores de uma vida mais alta para além da morte, o falido deste mundo transforma-se em triunfador. No fim, a experiência dá-lhe razão, mesmo que na Terra essa razão lhe tivesse faltado. Assistimos, neste volume, à história, da experiência coroada de sucesso, da substituição dos valores do mundo pelos do espírito.

Depois de tantas teorias devíamos mostrar alguma coisa de real, de concreto, de vivido, um Evangelho tomado a sério, enxertado em nossa vida de cada dia com as suas lutas e problemas; devíamos fazer sentir, de forma tangível, o choque provocado entre os métodos do Sistema e os do Anti-Sistema no campo de batalha que é o nosso mundo; devíamos apresentar tudo isso em ação, para constatar o que sucede quando o ideal quer verdadeiramente realizar-se na Terra.

Agora, já não é mais o momento para expor teorias de orientação geral. Este trabalho já foi feito e dele se presume que o leitor tenha conhecimento. Estamos no terreno das aplicações, e, para tornar-se concreto, o campo se restringe. Aqui temos um indivíduo que enfrenta o seu caso e o resolve por si próprio. Ele se coloca em frente de Deus e fala com Ele; situa-se perante as leis positivas da vida e raciocina com elas. Para isso ele tem de sair das fileiras, pôr-se fora da corrente na qual caminham em série as massas, utilizando produtos que elas confeccionaram para seu uso e lhe são adaptados. Casos desse tipo se enfrentam e resolvem sozinhos, deixando que a maioria vá pela sua estrada. É o indivíduo, com os seus recursos e a seu próprio risco, que ousa aventurar-se pelo seu caminho, quando este não corresponda ao da maioria, quando está fora das medidas correntes e, quando longe do seu tempo, ele se lança no futuro.

Assim, nesta história, o protagonista encontra-se sozinho. Na Terra, não tem companheiros. Todos o criticam e o condenam. Mas as leis da vida o aprovam, e ele, da sua grande luta contra o mundo, sai vitorioso das ilusões e afirma-se como conquistador de valores eternos. E estes valores são positivamente representados por um avanço conquistado no caminho da evolução. Este livro é a história de uma guerra conduzida com as armas do espírito, é o desafio de um indivíduo contra o mundo. Ele quer seguir o Evangelho e tem um só companheiro: Cristo. Ele teve de se isolar dos métodos humanos, feitos com outro espírito e para outras finalidades; afastar-se também das religiões oficiais, tão pouco vizinhas de Cristo e do espírito de seu Evangelho; isolar-se ainda dos santificadores; libertar-se de qualquer reconhecimento humano, perigoso quando santifica; conquistar independência  absoluta do mundo e sublimação da vida diante de Deus.

Tudo isso pode-se entender como uma reação individualista ao moderno tratamento de massa, para afirmar, mesmo ante as religiões, a inviolável liberdade do espírito. Este escrito pode provar que, se nos elevarmos a um mais alto plano de evolução, poderemos escapar de todas as coações humanas, porque se atinge um novo tipo de vida que o homem atual ainda não concebe. Superado o nível humano, estamos livres, aonde não pode chegar quem ficou para trás. O indivíduo, então, se afirma livremente, consciente e responsável perante Deus, sem necessidade de consentimentos de nossa sociedade, encontrando-se fora da corrente deles. Não se dirige mais por imitação ou sugestão, porque sabe pensar, decidir, guiar-se por si. Tal é a posição de quem saiu da menoridade, capaz de funcionar autonomamente, com outra forma mental proporcionada à sua natureza mais evoluída, apta a assumir as suas próprias responsabilidades.

Narraremos aqui a história desse homem que construiu por si próprio uma vida assim, fora de série. No fundo, não se trata de uma fuga para isolar-se do mundo, mas para permanecer dentro dele com espírito e conduta distintos. Nisto consiste o seu isolamento, isto é, a não aceitação do que nele existe de atrasado. Fica-se dentro do mundo, porém em outra posição, seguindo outro padrão de vida, beneficiando e amando, mas diferindo justamente por isso. Aqui se começa lançando à face do mundo o seu tesouro — os bens materiais, a riqueza, o bem-estar a qualquer custo, ideal supremo, sobretudo em nossos tempos — para nutrir-se de outros valores, para conquistar novas riquezas, levando um tipo de vida diverso do que hoje impera, o qual consiste em gozar a existência nas suas formas mais materiais. Lutar sempre para evoluir, em vez de corromper-se no bem-estar. Esta é a moral do livro, contrária à dominante.

Ele é um grito de alarme em um mundo perdido nas miragens oferecidas pelos prazeres e vantagens egoístas, como se a matéria pudesse bastar para resolver todos os problemas da vida e satisfazer todas as suas exigências; enquanto o seu verdadeiro objetivo não é gozar, mas ascender. Toda a Obra pretende apontar metas bem diferentes a alcançar e outros fatos biologicamente importantes, fundamentais para o desenvolvimento da vida: as coisas do espírito, que hoje não se tomam em conta, como se estivessem fora da realidade. Provamos, ao contrário, usando de linguagem positiva, o seu valor em sentido vital.

Este livro é uma reação para defender as qualidades morais contra a atual valorização exagerada das coisas da matéria. Trata-se da afirmação de uma vida maior em sentido introspectivo, espiritual; cuida-se da substância das religiões transportada a um plano positivo racional. Não importa se tudo isso hoje esteja fora de moda e vá contra a corrente. Aqui se mostra que interiorizar-se espiritualmente pode constituir um meio para construir um estado de consciência no qual se torna capaz de sobreviver desperto, lúcido mentalmente, sem se cair no sono ou inconsciência da morte. O indivíduo sobrevive consciente só na sua parte espiritual. Quanto mais é espiritualizado, tanto mais claramente perceberá a sua sobrevivência. Aqui se revela também como o desenvolver-se espiritualmente pode representar uma grande vantagem para cada um, bem como saber viver com inteligência pode exigir arte e técnica que levam a transferir-se para um plano evolutivo mais adiantado e, portanto, feliz, o que significa realizar, mesmo em sentido utilitário, a mais alta conquista da vida. Trata-se, de fato, não só de uma aquisição de potencial vital, mas também de felicidade.

É precisamente neste volume, no momento em que o homem se encontra perante a morte e a queda de seu mundo terreno, que o impulso ascensional de toda a Obra toca o seu vértice, e a vida, no mundo emborcado em forma de AS, elevando-se, retorna à sua posição, apontando em direção ao S.

Entenderá quem quiser. Mas permanecerá o seguinte: o trabalho de composição da Obra e de viver-lhe os princípios constituiu para quem o executou um grande acontecimento biológico, porque fez avançar a sua posição ao longo do seu caminho evolutivo. Era impossível, aliás, que aquele trabalho não produzisse também qualquer resultado útil para quem o realiza; e um resultado melhor do que esse ele não poderia desejar. Para os outros restará o fato de que ninguém impedirá de, seguindo a mesma estrada assinalada pelas leis da vida e utilizando técnica semelhante para a sua vantagem, colher os mesmos frutos.