Depois da precedente premissa orientadora, podemos agora entrar no assunto do presente volume. Os aspectos básicos das teorias que aqui iremos desenvolvendo foram equacionadas nos livros antes mencionados: Deus e Universo e O Sistema. O atual livro é o terreno das suas conseqüências e aplicações.

Coloquemo-nos então perante a figura anexa, que nos oferece uma mais exata e evidente expressão geométrica do fenômeno  da queda e salvação que aqui estudamos. Usamos esta figura como representação gráfica mais apta a fixar em forma visível, intuitivo-sintética, os conceitos que iremos desenvolvendo.

Esta figura nos dá o esquema completo do processo de ida e volta do transformismo involutivo-evolutivo em que se baseia a estrutura de nosso mundo fenomênico, isto é, o esquema do ciclo da gênese, desenvolvimento e tratamento da doença da queda e cisão devida à revolta, donde derivou o estado material de nosso universo corrupto. O princípio fundamental no qual ele se baseia, o do dualismo, é o que primeiro nos salta à vista nesta figura, dividida em duas partes opostas, que se equilibram num processo de recíproco emborcamento. Quem não estiver ainda convencido da verdade das teorias apresentadas nestes dois livros: Deus e Universo  e o Sistema, encontrará aqui novos esclarecimentos que ainda mais se explicam, e novas provas que ainda mais as confirmam.

Já sabemos que, pela revolta e a queda que se seguiu, a unidade do Sistema ou Todo orgânico em Deus se despedaçou no dualismo: Sistema e Anti-Sistema. Este processo de separação chegou à sua plenitude na realização do Anti-Sistema, mas está sujeito a outro processo de reunificação, que chegará à sua plenitude com a reconstrução da parte decaída, no seio do Sistema. Separação-reunião, destruição-reconstrução, doença-tratamento, descida ou afastamento longe do Sistema, subida ou volta ao Sistema, involução-evolução: eis os dois momentos que encontramos sempre opostos, num contraste de forças rivais em luta para a supremacia. Neste contraste se baseia o dinamismo de todo o processo, que assim vai amadurecendo de uma posição à outra, deslocando os seus elementos ao longo das posições escalonadas pelo caminho a fora, até ele ser todo percorrido, desde a sua origem até a sua conclusão.

Este é o conceito fundamental que domina o fenômeno  que agora estudamos: o da cisão no dualismo. Então duas forças básicas em luta entre si, cada uma com o fim de vencer a outra, prevalecendo uma de cada vez, a do Anti-Sistema no período da descida involutiva, e a do Sistema no da subida evolutiva. Elas são:

1) O Sistema, que representa a positividade, os impulsos deste tipo, as qualidades que afirmam, as da vida, da sabedoria do amor, da unidade, da ordem, da disciplina, da felicidade etc. Este é o lado de Deus, do espírito, do bem. Por isso o sinal do Sistema é + (mais).

2) O Anti-Sistema, que representa a negatividade, os impulsos deste tipo, as qualidades contrárias que se opõem às do Sistema, as da morte, da ignorância, do ódio, da separatividade, da desordem, da revolta, do sofrimento etc.. Este é o lado de Satanás, da matéria, do mal. Por isso o sinal do Anti-Sistema é - (menos).

Para nos expressar de maneira mais rápida, abreviamos a palavra "Sistema", com a letra S; e a palavra "Anti-Sistema", que também teremos que usar muitas vezes, com as letras AS. Na figura tudo o que pertence ao S está marcado com cor vermelha, que

escolhemos como cor da positividade (+), e tudo o que pertence ao AS está marcado em verde, que escolhemos como cor da negatividade ( - ) .

A linha vermelha WXW1 representa a plenitude do S, é a base do triângulo WYW1, que contém o campo de forças positivas do S. A linha verde ZYZ1 representa a plenitude do AS, é a base do triângulo ZXZ1, que contém o campo de forças negativas do AS Estamos não no terreno da originária unidade do S, mas no dualismo em que fracassou o nosso universo. Por isso todos os valores,  impulsos, movimentos, que nele vigoram, se realizam sempre em função da oposição entre os dois sinais + e -.

A figura é simétrica e está dividida ao meio em duas partes iguais, em sentido vertical pela reta XY - tanto para o triângulo vermelho do S, como para o triângulo verde do AS. Marcamos em verde uma linha central, que representa o caminho de descida ou involução; e em vermelho outra linha central, que representa o caminho de subida ou evolução - o nosso atual.

Esta figura nos oferece a representação completa da visão do fenômeno da queda nas suas duas fases de ida e volta, em que o ciclo se fecha chegando novamente ao que foi o seu ponto de partida. Tendo perante os olhos esta representação gráfica apta a fixar as idéias, poderemos melhor estudar o fenômeno nos seus pormenores. As duas cores diferentes nos permitem perceber à primeira vista qual é a natureza de cada ser e a sua posição, e qual dos dois campos, positivo ou negativo, ele pertence. Os limites geométricos da figura nos expressam o conceito da presença da Lei de Deus que, incluindo o desmoronamento do AS, abrange tudo dentro dos seus limites, com as suas regras dirigindo todo o movimento, com as suas reações contra a violação, retificando todo o erro, reconduzindo tudo à ordem, tudo o que procurou afastar-se dela.

Comecemos observando o ciclo nas suas fases de ida e volta. A figura contém dois campos de forças contrárias, as positivas e as negativas. Eis que elas se põem em movimento, determinando com isso uma série de ações que excitam reações opostas, proporcionadas e calculáveis, que a figura nos expressa com a posição e o comprimento das suas linhas.

O ponto de partida do ciclo na sua primeira metade involutiva é o ponto X situado na linha vermelha WW1 do S. O ponto de chegada daquela primeira metade involutiva do ciclo, é Y na oposta linha verde ZZ1 do AS. Aqui acaba a involução. Mas este ponto de chegada representa também o de partida da segunda metade do ciclo, isto é, da evolução. Então o ciclo que tinha iniciado o seu movimento de descida involutiva no ponto X do S, agora no ponto Y situado no AS, vira-se em sentido contrário, endireita o seu emborcamento, iniciando o seu caminho de volta, subindo. O ponto de chegada desta segunda metade evolutiva do ciclo é X, situado na linha do S, de onde se iniciou o processo da descida involutiva. Que quer dizer tudo isto?

Quer dizer que o impulso que saiu do S, dirigido para o AS, depois de se ter esgotado atingindo o seu objetivo que é a realização do AS, se autoneutraliza e anula, seguindo um movimento oposto que o leva novamente ao seu ponto de partida, ou seu estado de origem S. Tudo se reduz deste modo a um erro corrigido, a uma temporária doença curada, a um afastamento compensado pela aproximação de volta, a uma positividade perdida e recuperada e a uma negatividade adquirida e repudiada, a um processo compensado de ida e volta, a um intervalo de imperfeição na eterna e indestrutível perfeição de Deus.

Isto já foi dito naqueles dois livros; mas quisemos aqui dar-lhe uma expressão gráfica mais evidente e exata. E, se temos falado de erro corrigido, foi porque procuramos salientar melhor este aspecto do fenômeno, pelo fato de que um dos maiores problemas que agora teremos de encarar, será o da reação da Lei e correção dos nossos erros, entrando no terreno da ética que é o nosso assunto atual. A este respeito o fenômeno da queda .representa o primeiro e maior caso de erro cometido pela criatura e corrigido por Deus. A queda, erro máximo, atrás da qual ecoam e se vão repetindo todos os outros erros menores que o ser repete a toda hora, ao longo de sua escala evolutiva, é o que vamos ver agora.

Observemos primeiro o processo no momento do início do ciclo no ponto X do S, onde começa a viagem em descida para Y, ao longo da linha da involução. Na linha WXW1 o S se encontra na plenitude da sua positividade, enquanto o valor efetivo, atual, da revolta é apenas potencial e o volume da negatividade é apenas um ponto sem dimensões, situado na plenitude da positividade do S. Alas eis que essa potencialidade vai se tornando cada vez mais próxima do AS, e pouco a pouco a revolta vai se concretizando. Este fato está expresso na figura pela superfície sempre mais vasta que na descida a revolta conquista e domina, até atingir a plenitude de sua realização; uma plenitude às avessas, ao negativo, na linha ZZ1, em que o triângulo está completo por terem os seus lados atingido a abertura máxima. Assim a negatividade, com o processo da involução, vai cobrindo toda a superfície do triângulo do AS, cujo vértice é X e a base a linha ZZ1. No fim deste processo o ponto X se dilatou sempre mais até atingir as dimensões da linha ZZ1. A superfície sempre maior, coberta com o progredir do impulso da revolta ao longo da linha da involução XY, representa o dilatar-se do campo de forças dominado pelo AS, que assim se vai potencializando sempre mais, até a sua plenitude máxima na base ZZ1 do triângulo. Neste ponto o impulso da revolta atingiu a sua completa realização com a criação do AS, que é o nosso universo material .

Que acontece ao mesmo tempo a respeito do S? Se o AS no início do ciclo, em X se encontra no estado puntiforme, só de valor potencial, o S se encontra ao contrário na sua plenitude WW1 E se na descida involutiva o ponto X, na gênese do AS, foi ampliando sempre mais o seu campo de ação até que se tornou a plenitude ZZ1, paralelamente á linha WW1, ou plenitude do S,foi contraindo sempre mais o seu campo da ação, até que se tornou o ponto Y. As duas transformações inversas se realizaram uma em função da outra, a negatividade ganhando onde a positividade perdia, num processo de paralelos emborcamentos das dimensões dos próprios valores. O que era mínimo em S se tornou máximo em AS, e ao contrário. Passa-se assim da plenitude da positividade à plenitude da negatividade. Isto porque no processo da queda vai se realizando sempre mais a inversão das qualidades positivas do S nas negativas do AS, e porque à medida que se vai enfraquecendo o poder do S, se vai fortalecendo o do AS. Isso até que na linha ZZ1 o poder positivo do S, que no início era expresso pela linha WW1, foi reduzido ao ponto Y; e o poder negativo do AS, que no início era expresso pelo ponto X, se tornou na linha ZZ1. Tudo isto a figura nos indica com o progressivo aumentar da extensão da superfície ou campo de forças dominado pelo triângulo do AS e pelo paralelo diminuir da extensão da superfície ou campo de forças dominado pelo triângulo do S.

É bom esclarecer que tudo isto se refere ao fenômeno  da queda ou ciclo involutivo-evolutivo que saiu do S, e somente parte que dele quis sair e se corrompeu, e não ao S todo, que ficou íntegro corri o restante que não se rebelou. Temos até aqui esgotado só a primeira parte deste fenômeno, isto é, a fase queda. Observemos agora a sua segunda parte inversa e complementar, a outra fase do ciclo, a da salvação. Por isso o título deste livro: Queda e Salvação.

Se a primeira parte do ciclo está constituída por um processo de inversão da positividade da parte rebelde do S na negatividade do As, a segunda parte é constituída por um processo de endireitamento da negatividade do AS na positividade do S, devolvendo ao S a parte corrupta que dele se afastou. Em Y acabou o caminho da descida ou involução e inicia-se o do regresso em subida, ou evolução. Observando a figura veremos que ela nos expressa todo o processo do ciclo completo, que contém, nos seus dois movimentos fundamentais de descida e subida, quatro deslocamentos, isto é:

a) no movimento de descida, 1) o deslocamento do estado de nulidade da negatividade do AS, ao estado de plenitude daquela negatividade (gênese do triângulo verde); 2) o deslocamento do estudo de plenitude da positividade do S, ao estado da nulidade daquela positividade (destruição do triângulo vermelho).

b) no movimento de subida, 3) o deslocamento do estado de plenitude da negatividade do AS, ao estado de nulidade daquela negatividade (destruição do triângulo verde); 4) o deslocamento do estado de nulidade da positividade do S, ao estado de plenitude daquela positividade (reconstrução do triângulo vermelho).

Eis que a segunda parte do ciclo, inversa e complementar da primeira, o completa e conclui a segunda parte do mesmo fenômeno. Se na primeira parte, como há pouco dissemos, se passa da plenitude da positividade, à plenitude da negatividade, vemos agora que na segunda parte do ciclo se passa da plenitude da negatividade à plenitude da positividade. Então todo o fenômeno da queda se reduz à gênese do dualismo, feito pelos dois sinais opostos + e -, dualismo pelo qual num primeiro momento a positividade se torna negatividade gerando o AS, e num segundo momento a negatividade volta à positividade, reconstituindo-se no S.

O processo do endireitamento evolutivo, que corrige o precedente da inversão involutiva do S para o AS, se inicia na linha ZZ1 no AS, que aqui se encontra em sua plenitude e no ponto Y no S, que aqui se encontra reduzido a um ponto. Estamos na fase do maior constrangimento da positividade e da expansão da negatividade vitoriosa. Mas neste ponto o originário impulso da revolta que gerou a negatividade, aprisionando a positividade do S, se esgota e volta a prevalecer o caráter fundamental dos dois impulsos, isto é, o do AS, que não pode deixar de seguir a sua natureza negativa que o levará até a renegar a si mesmo, anulando-se assim no caminho do regresso como negatividade, a isto levado também pelo impulso do S, que não pode deixar de manifestar-se reagindo ao constrangimento sofrido dentro da negatividade do AS, afirmando a sua indestrutível natureza positiva, agora que o esgotar-se do impulso contrário lho permite.

Vemos então que a negatividade que quer continuar a ser negativa e a positividade que quer continuar a ser positiva, de fato colaboram no mesmo sentido da reconstrução: a negatividade, por que quer ser negatividade, a positividade, porque quer ser positividade. Maravilhosa sabedoria da Lei que providencia tratamento e cura, prevendo tudo isto de antemão, pré-ordenando esse jogo de forças que automaticamente levam à salvação. Técnica estupenda pela qual vemos que bem e mal trabalham juntos: o bem, impulso  positivo; o mal, negativo; para chegar ao mesmo resultado, que é triunfo do bem.

Continuemos observando. O processo vai-se assim desenvolvendo na segunda parte do ciclo até que a linha ZZ1 da negatividade do AS fica reduzida a um ponto, X; e o ponto Y da positividade do S se torna ampliado até chegar à linha WW1. Estes deslocamentos significam que o campo de forças do S, que antes se foi apertando sempre mais até à sua anulação, agora vai se dilatando cada vez mais, ganhando em superfície, isto é, potencializando-se até voltar à sua plenitude; e que o campo de forças negativas do AS, que anteriormente se havia dilatado e potencializado sempre mais, até chegar à sua plenitude, sempre mais se apertando agora até chegar à sua anulação.

Neste ponto o ciclo fica completo e fecha-se sobre si mesmo, porque atingiu o seu ponto de partida. Nesta altura o emborcamento foi endireitado, a negatividade do AS reabsorvida na positividade do S, o caminho involutivo-evolutivo está todo percorrido, e tudo voltou reconstruído e saneado ao seio do S. Assim os opostos se compensam e, em perfeita correspondência e proporção de impulsos e movimentos, os dois caminhos da queda e salvação se equilibram e se resolvem na perfeita ordem da Lei. A construção do triângulo verde do AS, e a destruição do vermelho do S, que o processo de involução ou descida XY gera; a destruição do triângulo verde do AS, e a reconstrução do vermelho do S, que o processo da evolução ou subida YX gera; tudo isto está graficamente expresso na figura e salta à vista ao primeiro olhar.

Esta figura tem um significado profundo. Ela orienta-nos, explicando a causa, a razão e o objetivo do vir-a-ser universal, mostrando-nos as origens e o porquê do processo evolutivo em que vivemos. Ela deixa-nos, ver com que exatidão geométrica a sabedoria da Lei opera a salvação, depois de estar contido em sua ordem todo o desmoronamento da queda. Para compreender a figura é necessário penetrá-la nos seus movimentos de contração e expansão, de criação e reabsorção de valores, no seu contínuo dinamismo regulador de todo o ciclo involutivo-evolutivo. Vemos, assim, de X, um ponto, sem dimensão, nascer todo o campo de forças do AS, e igualmente do ponto Y, o S voltar à sua plenitude. A posição reciprocamente emborcada dos dois triângulos, o do S e o do AS, um que diminui na proporção que o outro aumenta, até um desaparecer na plenitude do outro, tudo isto nos mostra quando ordenadamente a Lei tenha dirigido a desordem da queda no AS, até a reconduzir toda na ordem do S. A figura mostra-nos como, a cada ponto e posição ao longo da linha da involução ou da evolução, corresponde uma proporcionada amplitude do campo de forças negativas ou positivas dominado, amplitude expressa pela superfície contida entre os dois lados oblíquos dos triângulos que se vão abrindo ou fechando. Pode-se assim calcular a extensão do terreno que em cada ponto do seu caminho os seres viajantes dominam, e o valor das forças que eles possuem, perdendo num sentido e ganhando no nutro, conforme a direção do seu caminho.

Assim a figura não somente nos expressa com representação geométrica espacial o esquema estático do fenômeno, mas também o dinamismo que o anima e transforma a cada passo, na gênese a anulação dos espaços vitais, seja do S seja do AS. Com o aproximar-se um do outro, os dois lados de cada triângulo, pouco a pouco se avizinham do seu vértice, e com o relativo estreitar-se do campo de forças ou espaço vital que o S ou o AS domina, com tudo isto a figura nos apresenta, expresso graficamente em formas espacial intuitiva, o conceito da anulação do S, ou AS. E ao contrário, com o afastar-se dos dois lados dos triângulos e relativo ampliar-se do campo dominado, a figura nos expressa o conceito de formação do AS, ou reconstrução do S. Se pensarmos o que isso significa, suas implicações com qualidades e conseqüências, um triângulo prevalecendo sobre o outro, poderemos compreender quão vastos significados a figura contém e a importância das conclusões, às quais nos poderá levar este estudo.

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Vamos continuar observando a nossa figura para compreendê-la cada vez melhor. Procuremos aprofundar sempre mais o nosso olhar no mistério da estrutura do fenômeno do universo e dos abstratos princípios gerais que o regem. Poderemos assim penetrar os significados sempre mais íntimos de nossa representação gráfica, as razões da sua estrutura e a técnica do funcionamento das duas forças.

Temos até aqui observado, numa simples visão de conjunto, a figura em sua estrutura estática, para ver como está construída. Estudamo-la depois em seu dinamismo, isto é, no desenvolvimento das duas fases, de ida e volta. Estamos aprofundando e ilustrando elo forma visível, com exatidão cada vez maior, os conceitos apresentados nos livros: Deus e Universo e O Sistema, trabalho que é possível, somente agora que u esquema geral foi traçado e os problemas fundamentais resolvidos.

Vimos em que consiste o processo involutivo-evolutivo, isto é, as duas fases do ciclo, de ida e volta. Explicamos que o movimento de descida ou afastamento do S, ao chegar ao ponto Y, se emborca em subida ou aproximação do S até atingi-lo.

Surge neste ponto a espontânea pergunta: por que motivo o processo da queda, chegado a esse grau do seu amadurecimento, ao invés de continuar na mesma direção, volta para trás? A que força é devido esse emborcamento do seu caminho? Dissemos que assim acontece porque se esgota o impulso da revolta. Mas isto não basta para explicar. Há mais.

A lei de cada impulso tende a progredir até atingir a plenitude da sua realização. Mas quando essa realização for atingida, o  impulso não funciona mais. Então dizemos que ele se esgota porque, atingido o alvo, ele pára. Isto porque quando a causa tiver sido transformada toda em efeito, ela não existe mais como causa e com isso se anula o motor do processo. Quando o alvo for atingido, acaba a trajetória da viagem, que não pode continuar. Quando realizamos uma obra, quando manifestamos nela o nosso pensamento e vontade, quando o que se encontrava dentro de nós em estado potencial passou para fora de nós em estado atual, a força que tudo movimentou não pode continuar. Para onde poderia continuar se o objetivo foi atingido? Para continuar precisaria determinar novo objetivo e novo impulso para atingi-lo. Não há movimento que possa continuar além do seu ponto de chegada, a não ser iniciando outro caminho para outra finalidade.

Então, pela própria lei que o fenômeno  traz escrita dentro de si, tudo está automaticamente pré-ordenado de modo que, no ponto em que toda a positividade da parte rebelde do S se transformou na negatividade do AS, e a obra de construção desse triângulo verde está cumprida na linha ZZ1, neste ponto o processo tem à forca de parar e, se quiser continuar, não pode fazê-lo senão mudando o tipo do seu movimento e iniciando outro caminho para outro objetivo.

E que direção poderá esse novo movimento assumir? Que outro tipo de causa poderá surgir dentro do efeito realizado? O novo impulso somente poderá ser determinado pelas forças disponíveis naquele ponto do caminho ou desenvolvimento do processo. E o que se encontra naquele ponto? O impulso para o AS foi esgotado porque este foi realizado. Aquele impulso não possui mais força e jaz exausto, inerte. Pode surgir, então, outro impulso ativo nesse ponto?

Ele é representado pelo S. Enquanto o caminho XY consumiu todo o impulso da negatividade devida à revolta, por esse mesmo processo de expansão construtora da negatividade do triângulo verde se realizou uma compressão destruidora da positividade do triângulo vermelho. Disto se segue que ao chegar o processo à plenitude do AS, encontramos uma negatividade no máximo estado de sua expansão, isto é, de esgotamento e inércia, e uma positividade no máximo estado de sua concentração, o que quer dizer potencialização e dinamismo. Sendo o fenômeno da queda um jogo de emborcamento, o resultado da sua vitória foi só o de fortalecer a reação evolutiva. É no ponto em que foi atingido o completo triunfo da negatividade, que o impulso da positividade comprimida vai bater como que contra uma parede e aí ricocheteia para trás. Mas o que construiu a parede que constrange o processo a emborcar, o emborcamento da negatividade, isto é, a endireitar-se na positividade, é o próprio triunfo da negatividade.

Isto nos poderia fazer pensar que se trate só duma nova direção do mesmo impulso, que continua às avessas, tanto mais que se trata do mesmo ciclo, do qual involução e evolução são duas fases consecutivas. Então a evolução seria só a continuação do caminho da involução. Se isto é verdade, o é também o fato que esse novo impulso deriva do S, que pode começar a levar vantagem sobre o AS só neste ponto Y, onde o caminho do AS está esgotado. É assim que em Y começa a prevalecer o S. É assim que, no ponto onde a negatividade atingiu a plenitude da sua realização, a positividade pode iniciar o seu trabalho lento mas constante, que tanto operará até reconduzir tudo ao S, tudo redimindo na salvação final.

Além disso é necessário levar em conta o fato de que com a queda foi gerada e se iniciou a maneira de existir no relativo, isto é, na forma do vir-a-ser ou transformismo. Nele o ser agora está situado, constrangido a percorrer o caminho do ciclo involutivo-evolutivo, no qual ele não pode parar. Então a primeira condição da sua sobrevivência é a continuação desse caminho. Se o fruto maduro da queda não quer ficar congelado na perda completa da vida que a positividade representa, é necessário que o movimento continue. se pelo transformismo universal, que no relativo é lei de vida e condição de existência, ninguém pode parar sem morrer, para continuar a existir, e o ser não tem outra escolha a não ser emborcar-se novamente, voltando ao positivo.

Por que não há outra escolha? Porque no Todo não existe outro modelo, mas um só: o do S. Este é o modelo do Todo-Uno-Deus. A criatura não é o Criador e, por isso, não tem o poder de gerar outros modelos. Tudo o que existe tem de girar ao redor de Deus, tudo está incluído e fechado dentro do sistema de forças da Sua obra. Outra obra não há, nem pude haver. Então a única coisa que pode existir é o Sistema de Deus ou uma alteração naquele modelo, mas não um novo. Nunca um sistema de outro tipo, uma ordem diferente, mas só um deslocamento, uma desordem dentro da ordem de Deus. Daí o emborcamento da revolta. Quando este acabar por se ter realizado, nem por isso aquele processo pode sair do sistema de forças do Todo, que tudo abrange, fora do qual não há existência e no qual tudo está enclausurado. Se Deus é tudo e este é o modelo do Todo, não é possível sair deste sistema. Por isso quando o impulso da ida se tiver esgotado, não lhe resta para sobreviver senão repetir o mesmo motivo do emborcamento e, desemborcando-se, voltar para trás. Esta é a razão pela qual a negatividade do AS tem que endireitar-se na positividade do S.

Observando a figura vemos que no ponto Y, se a negatividade se expandiu, a positividade ficou comprimida naquele ponto, acima do qual gravita o triângulo, convergindo para ele todas as suas forças. É lógico que, neste ponto Y, que é o de mínimo poder na negatividade (porque se encontra na sua maior expansão que a enfraquece), e do máximo da positividade (porque se encontra na sua maior concentração que a fortalece, dado que o ser nada pode criar ou destruir), esta prevaleça sobre aquela, e exatamente este seja o ponto onde se inicia o caminho da volta.

Começa assim o regresso. Por este automático jogo de forças contidas no próprio seio do processo, tudo continua desenvolvendo-se deterministicamente, pré-ordenado pela sabedoria de Deus que tudo tinha previsto, e aprontado o remédio do mal, no caso de a criatura desobedecer. Trata-se de leis que regulam todo o movimento do ser livre, dentro das quais estamos situados. Leis benfazejas e consoladoras, porque querem e sabem dirigir a loucura dum ser livre, à sua salvação. A compreensão desse processo: regresso do AS ao S, nos mostra e garante que, no fundo do mal, o ser não pode encontrar senão o caminho para o bem; no fundo da culpa não pode haver senão o arrependimento, porque é da Lei que no extremo do afastamento de Deus tem que iniciar-se o processo da aproximação; no máximo da revolta começa a obra da reconciliação.

Chegamos então a compreender e podemos aqui afirmar que existe uma lei que poderemos chamar a "lei do regresso", pela qual, obedecendo a um princípio geral de equilíbrio, tudo o que se afasta de Deus tem de recuar, retrocedendo para trás até ao seu ponto de partida, agora de chegada, que é Deus, único ponto de referência e tudo o que existe. Por esta lei de regresso a revolta  não pode acabar senão na obediência, o emborcamento no endireitamento, a perdição na salvação. A nossa admiração não terá nunca limites perante tão profunda sabedoria pela qual o erro se resolve numa experiência para aprender a verdade, no fundo da descida desponta o impulso para a subida, no âmago do sofrimento se abre o caminho para a felicidade.

Assim o ser, indiretamente constrangido por esta lei de regresso, não pode deixar de realizar a sua salvação. Em todo momento, qualquer que seja a posição que atingiu, ele permanece sempre filho do S, com as suas indeléveis qualidades que ele aí possuía. Elas foram desviadas, torcidas na negatividade, mas nem por isso destruídas. O ser se tornou um exilado, mas a sua pátria ficou sendo sempre o S. A sua natureza permaneceu a da positividade, da qual no fundo da negatividade não subsistiu para ele senão o vazio e a sensação da falta, a saudade e o choro do instinto insatisfeito. As qualidades positivas do S ficaram escritas na sua alma, qual anseio de vida e de felicidade, qual desesperada lembrança do paraíso perdido. O desenfreado desejo de crescer fora da sua medida e da ordem do S, lançou o ser no AS, onde ele ficou mergulhado às avessas, na negatividade. Assim ele perdeu o seu tesouro que ficou no S, e quanto mais ele se aprofunda no AS tanto mais se torna ansioso de recuperá-lo. Mas o ser é rebelde e então o vai procurando na descida, afastando-se assim sempre mais e perdendo em positividade, ao invés de recuperá-la. Eis o que vemos de lado acontecer em nosso mundo. Depois destas elucidações podemos compreender a irracionalidade dum trabalho assim tão contraproducente .

Mas eis que para salvar a criatura desta loucura, intervém a sabedoria da lei do regresso. Quanto mais o ser desce, tanto mais aumenta a carência de tudo o que ela possuía no S; e quanto mais ele empobrece, tanto mais aumenta o seu anseio de enriquecer novamente. Mas quanto mais ele desce na negatividade do AS, tanto menos positividade ele encontra no seu ambiente e com isso tanto  menor possibilidade de ficar satisfeito. Quanto mais ele se torna faminto, tanto mais se torna difícil satisfazer a sua fome. Quanto mais o ser procurar perseverar na sua loucura de querela encontrar a positividade do S dentro da negatividade do AS, tanto mais ele ficará traído e desiludido porque, como é lógico, não terá encontrado senão o contrário do que está procurando. Não está tudo isto confirmado pelos fatos que vemos acontecer em nosso mundo a todo momento?

Mas o tormento deste mal-entendido não pode durar para sempre. Nada há que nos constranja a pensar tanto como a desilusão, e que acorde a inteligência como o sofrimento. Então eis que no meio de todas as dores abre-se a mente fechada pelo orgulho, a alma começa a vislumbrar a luz de Deus que chama de longe e assim se inicia o caminho da volta a Ele. Quem é filho Dele, feito da Sua mesma substância, não pode deixar de se ser tal e, mais cedo ou mais tarde, acaba voltando ao Pai.

Eis como o ser se encontra impulsionado a enfrentar o trabalho de reconstrução. A estrada é longa e cheia de dificuldades. Mas pelo fato de que o ser, como vimos, encontra-se mergulhado nesse jogo de forças, não há como fugir. É necessário superar os obstáculos com o próprio esforço. Se o supremo objetivo do ser é o de voltar à plenitude da vida e à felicidade no S, não há outro caminho senão o da evolução. O roteiro da viagem está todo marcado de antemão. O ser, feito da vida do S, não pode permanecer para sempre nas angústias do AS. Ele tem de subir, e por isso tem de lutar e vencer. O paraíso perdido está esperando-o, mas ele tem de reconquista-lo com o seu esforço. O ambiente é hostil, a existência é dura. Ao anseio de felicidade e vida, responde apenas uma realidade de sofrimento e morte. Para sobreviver, o ser tem de lutar a cada passo contra mil inimigos.

Eis que estas nossas elucidações nos explicam porque a existência do nível vegetal, animal e humano se baseia numa guerra contínua de todos contra todos, que não conhecem outras relações senão as do ataque e defesa. Isto é fruto do AS e do esforço evolutivo para sair dele. Nos níveis de vida mais adiantados, porque nos avizinhamos do S, tudo isto vai desaparecendo no pacifismo evangélico do: "ama o teu próximo como a ti mesmo". Podemos compreender assim qual é a origem, razão e objetivo da fundamental lei de evolução, que é a da luta pela vida.

Deus é vida e tudo tende para a vida que é Deus. A luta pela vida, é a luta para o S, contra o AS. Ela representa o esforço do ser para emergir da negatividade que o sufoca. Através dessa dura lição ele vai experimentando, aprendendo, reconstruindo. Tudo isto é trabalho pesado, mas o ser está apegado à vida, princípio do S, e não pode deixar de defendê-la desesperadamente. Então ele  tem que fazer esse esforço. Mas isso quer dizer também desenvolver a inteligência, o que significa volta para o S. Então a função da lei de luta pela vida não se esgota na sua mais próxima finalidade que é a seleção do mais forte, mas adquire e contém um significado mais profundo, que é o de representar um meio para abrira mente, acordar o espírito adormecido, para ele se potencializar e progredir- emergindo da materialidade, e subir até regressar ao S, Esta é a história de nossa evolução planetária, entendida no seu sentido substancial, concebida na mais vasta amplitude do ciclo inteiro da queda e salvação.