O maior problema de nossa vida consiste nas relações que cada um estabelece com a Lei, porque é dos recíprocos contatos e choques que se seguem, que depende o próprio destino. Continuemos, pois, a aperfeiçoar as observações deste fenômeno, embora sob outros aspectos. Comecemos por orientar nosso pensamento para uma diferente posição, em relação ao esquema geral que rege o funcionamento de nosso universo.

O seu centro dinâmico e conceitual é Deus. Inesgotável fonte de poder e de sabedoria, irradia-se continuamente mantendo em vida tudo o que existe, como resultado dessa permanente irradiação divina. Ele é o princípio e a primeira fonte da vida. Reciprocamente tudo gravita na direção de Deus, que se constitui não somente em centro irradiador, mas também em centro de atração universal, para o qual tende tudo o que existe.

O ser, com seu impulso de rebelião, procurou separar-se e afastar-se deste centro que é o S, construindo seu anticentro no AS. Mas, assim fazendo, se isolou da fonte de sua vida e, se não quiser morrer deve voltar a ela. Eis então que o caminho de afastamento ou involução teve de inverter-se, corrigindo-se no caminho de reaproximação ou evolução que, por parte do espírito obscurecido, representa um processo de reabertura ao conhecimento perdido. No conflito entre a vontade anti-Deus do ser rebelde e a vontade de Deus, o impulso da segunda, sendo inesgotável, porque é infinita, não podia deixar de vencer o impulso da primeira vontade, naturalmente fechada num limite. Superado assim o impulso rebelde, predomina a atração para Deus, que é aquela que, não obstante todas resistências do AS, dirige o nosso universo. O grande fenômeno da evolução é devido a essa atração.

Exemplifiquemos. As águas que descem dos montes vão todas para o mar, que as espera para recolhê-las no seu seio. Mas não encontram um caminho traçado que as guie, e, no entanto, movem-se todas na mesma direção do íntimo impulso de atração. Encontrarão dificuldades, mas resovê-las-ão. Avançarão por tentativas, explorando o desconhecido caminho a percorrer, mas sempre orientados pela certeza absoluta da presença, da meta para a qual as leva essa atração. Eis o que significa gravitar para Deus e porque, à semelhança dos rios que vão para o mar, aquela meta final, pelo caminho da evolução, deve ser atingida, apesar do estado de ignorância do ser, das trevas em que vive, da incerteza das suas tentativas e dos obstáculos que procuram detê-lo. Agora, depois de percorrido o caminho do S até o AS, se percorre o oposto, do AS ao S.

A evolução é uma força viva em movimento, porque animada pela vontade de Deus, que exige o retorno a Ele. Mas do lado oposto, fica a vontade do ser não ainda redimido por sua evolução, e que resiste em posição anti-Lei, impulsionado por resíduos daquele primeiro impulso de revolta a continuar a por-se contra a corrente de atração que tende a levá-lo de volta a Deus. Pretendemos, neste capítulo, estudar o fenômeno dessa resistência, a sua técnica e conseqüências, observando como se comporta o ser de tipo anti-Lei e o que ocorre quando se verifica o choque com ela.

É lógico que possa acontecer tal fenômeno de resistência à atração do S, porque a revolta e a queda foram devidas a um impulso oposto, ainda não totalmente extinto nos níveis mais baixos. Assim, a evolução não é pacífica, mas se desenvolve numa luta entre dois contrários, S e AS, isto é, entre o impulso unificador do primeiro e o impulso separatista do segundo. É assim que quanto mais involuído é o indivíduo, isto é, próximo do AS de que deriva, mais ele procurará opor-se à corrente do endireitamento evolutivo, fazendo prevalecer o seu instinto de inversão. Com a sua vontade rebelde, ele se porá em posição anti-Lei, para deter-lhe o funcionamento, buscando com as próprias forças construir um dique que detenha essa corrente. Isso se verifica sobretudo na primeira das três fases do ciclo da redenção, a do erro com o lançamento da trajetória errada.

Observamos o que acontece. Os dois impulsos, um de natureza positiva, o da Lei, e outro de natureza negativa, o do indivíduo, agora em posições opostas, estão frente a frente. É lógico que isso não acontece no caso em que se siga a corrente da Lei é, por natureza, de poder ilimitado, portanto, inesgotavelmente rico de reservas. Este é o impulso do S, tão superior ao do AS, até no fato de que permaneceu vivo e atuante no íntimo deste, para dirigi-lo em direção à salvação e curá-lo por meio da evolução. O outro impulso, o anti-Lei, não é bem direcionado porque nada tem de positivo e afirmativo, mas ao contrário, é um impulso invertido, porque traz a negatividade da posição de rebelião e resistência. Enfim, não é produto de um sistema orgânico de forças, mas de elementos individuais ou de seus agrupamentos. Seu poder é, pois, limitado sujeito a exaurir-se; a resistência que o indivíduo opõe não pode ultrapassar um determinado limite. Suas reservas não são infinitas, chega o momento do cansaço e da rendição.

O que acontece então? O indivíduo que trabalha em sentido anti-Lei procura fortalecer a sua resistência contra a corrente da Lei. Constrói um dique que se manterá em pé enquanto puder, porque está do lado oposto. Mas a corrente não se detém e a água continua a forçar o dique, que gostaria de deter-lhe o curso. Mas o nível da água cresce e aumenta cada vez mais a pressão. Por mais alto e forte que seja o dique, cada vez mais se aproxima o momento da catástrofe, com a vitória da corrente, afundando e destruído o dique. Então, o impulso da Lei, isto é, o das forças do bem, vence finalmente o impulso da anti-Lei, isto é, o das forças do mal.

O dique se rompe. Este é constituído pelo feixe de forças que formam a personalidade do indivíduo, situado contra a Lei. O romper-se significa que naquele momento ele recebe os efeitos do choque contra a Lei, quer dizer, a reação dela. Significa também que aquela personalidade se precipita, porque a corrente da Lei arrasta a sua inútil resistência. As pedras que formavam o dique são as forças que constituíam a personalidade do indivíduo rebelde. Elas não flutuam e não são levadas pela corrente, salvando-se portanto. Ao contrário, acontece quando, pelo seu peso, mergulham na Lei e são arrastadas pela sua corrente, atritando-se a cada momento contra aquele fundo pedregoso. Nisto consiste a reação da Lei, que não se detém com a queda do dique, mas prossegue com a sua função de forma educadora. As pedras continuam a rolar no fundo e assim as suas angulosidades se suavizam, elas se arredondam e podem avançar um pouco melhor obedecendo à corrente, embora penosamente nas trevas e com grandes baques. Esta é a hora da dor da expiação, da lição salutar. Com esse método mesmos os cegos vêem e os surdos ouvem. Este é um método de avanço penoso e forçoso, ao passo que o mesmo caminho poderia ser feito muito mais suavemente, flutuando na superfície da corrente.

O processo da redenção se realiza quando buscamos seguir espontaneamente a corrente, em vez de procurar resistir-lhe na pretensão de detê-la. Para aprender isso, para quem não conhece a estrutura do fenômeno e não tem a intenção de seguir-lhe o desenvolvimento, é necessário construir diques, vê-los partirem-se e depois ir para o fundo, sofrendo as conseqüências desejadas. Assim, à força de construir diques e vê-los cair, se aprende que aquele sistema é contraproducente, e deve-se abandoná-lo porque é anti-Lei, para seguir o oposto que, na condição de Lei, é muito mais vantajoso. Feita essa opção, a própria Lei funciona como ajuda, só podendo auxiliar a quem segue a sua vontade salvadora, já que é sua natureza jamais impor-se à força contra o ser rebelde. Então Deus vem ao nosso encontro para levar-nos em direção ao S.

A sabedoria do mundo consiste em construir diques com esses resultados. Este é o método dos astutos que sabem viver. O seu exagerado senso de egocentrismo os faz crer que podem fazer a Lei, enquanto estão na verdade fechados num sistema de normas que custa caro violar. Ocorre de fato que, com tal forma mental, quanto mais cremos ganhar indo contra a Lei, tanto mais nos destruímos sobrecarregando-nos de dores. Não se trata de uma abstração da realidade daquilo que vemos acontecer no mundo a cada dia. Eis qual é a estrutura do mecanismo da reação da Lei da compreensão  de tais fenômenos é evidente que nasce uma nova moral, armada de sanções automáticas a que ninguém pode fugir, tenha a fé que tiver, e sobre o qual nenhuma autoridade humana tem poder. Uma moral convincente, porque redutível a um cálculo de forças. Moral alicerçada na autoridade cujos princípios todos compreendem e sobre os quais se baseia a vida.

Assim, o mundo é dividido em duas partes. De um lado, os espertos, fabricantes de diques, mas abandonados pela Lei e defendidos apenas por suas próprias forças; e do outro, os honestos, que agem de acordo com Lei, desprezados como tolos, mas defendidos por ela. Os primeiros se esforçam em construir dique gigantescos, cuja queda é, porém, desastrosas. Se fizermos o cálculo utilitário do rendimento do próprio trabalho, vemos que o tipo anti-Lei se cansa muito mais, para obter depois péssimos resultados. Entretanto, quem segue a corrente da Lei nada perde do fruto dos próprios esforços. Cada braçada que ele dá, nadando a favor da corrente, leva-o adiante no caminho da evolução, atraindo e multiplicando a seu favor tudo o que é positivo, alijando progressivamente tudo o que é negativo e lhe causaria prejuízo. Ele obtém, pois, do seu trabalho o rendimento máximo, enquanto o contrário ocorre para quem nada contra a corrente. Aquele que pretende inverter a Lei, é antes por ela invertido. O mecanismo do fenômeno processa-se de tal forma que a tentativa de inverter redunda na inversão de quem tenta fazê-lo, obrigando-se o indivíduo a restituir à Lei na mesma proporção em que tentou lesá-la. É assim que quem faz o mal fá-lo sobretudo a si mesmo, ainda que creia tê-lo feito aos outros. Quem assim procede está demonstrando o próprio egoísmo, e jamais a sua inteligência. Tudo que é negativo é perseguido pela vida, com o objetivo de eliminá-lo, e esta perseguição só terminará quando o objetivo for alcançado. Trata-se de princípios biológicos, que fazem parte das leis da vida e que estão sempre ativos em nosso mundo. Quem opõe um dique à corrente da Lei, opõe-no à corrente da vida, que ninguém pode deter.

Os dique são construídos por nós, com nossos pensamentos e obras. Estas não são feitas com pedras, mas com as forças que lançamos. Cada impulso nosso coloca em seu lugar uma pedra, lança uma força que, somando-se às outras, constrói aquela resistência que representamos com a imagem de um dique. Tanto a construção, como a queda e o choque contra a corrente, são fenômenos de caráter dinâmico e espiritual. Concebendo-os como forças, pode-se calcular o seu valor, os seus impulsos, movimentos, trajetórias, direção, potencial, tipo de estrutura etc. Todos esses fenômenos nos poderão transmitir a verdade, se submetidos a controle experimental.

O mundo nada sabe do funcionamento de tais fenômenos, no entanto os vive, cometendo contínuos erros, que depois deve pagar com contínuas dores. Por isso insistimos neste argumento, a fim de que, ao menos, alguém isolado que nos leia se salve por sua conta. De Deus, fonte infinita de forças benéficas, flui continuamente, uma corrente positiva vital que sustém tudo o que existe. O fluir dessa corrente é disciplinado por uma lei própria, que é necessário respeitar caso deseje que o fenômeno se verifique. Ora, o rebelde construtor de diques, opondo-se com a sua negatividade, pára esse fluir no seu campo de forças, de modo que, numa atmosfera de ilimitada abundância, ele se encontra na mais esquálida miséria. Ele não percebe que eleva o dique contra as forças que alimentam a sua própria vida. Deus não se nega, Ele continua sua irradiação. Mas nada pode chegar quando se impede a corrente de entrar, fechando-lhe as portas. Abre-as, no entanto, aquele que vive segundo a Lei, e então é alimentado. Fecha-as quem vive contra a Lei, e então não passa mais nada e morre de fome. Pobre de quem interpõe um diafragma de negativismo ao fluir da positividade do S. Se quem pratica o mal soubesse o que vem depois, quando se trata de pagar, ele ficaria aterrorizado. Mas isso só compreende quem pagou e, pois, sabe o que significa pagar.

Tais afirmações parecem ser desmentidas porque que vemos desonestos sem escrúpulos gozar impunemente do fruto de suas proezas. É preciso, porém, também reconhecer que essa sua posição não é estável, porque se mantém apenas enquanto duram as reservas de força que possui o indivíduo anti-Lei, o qual não recebe abastecimento e, pois, está como um abandonado no deserto. O jogo tem duração limitada. O que nos parece impunidade nada mais é que a momentânea riqueza do jogador que termina por perder tudo, pois se vê continuamente assediado pela Lei, que exige justiça, e, consequentemente, a prestação de contas e o pagamento. Trata-se de um equilíbrio instável em virtude de ser injusto e a Lei o fará desabar, porque quer a posição estável, alicerçada na justiça. Se a posição do indivíduo não é mantida por tais íntimos equilíbrios, o esforço humano a sustentará por um período, mas, ao longo do tempo, o seu vício de origem a rói e ela terminará esfacelando-se.

É preciso compreender  que nossa culpabilidade anti-Lei é um diafragma que nos separa das origens de tudo o que é benéfico. É assim que os auxílios chegam à zona onde não somos culpados e nada acontece naquelas onde a culpa e a rebeldia nos deixa abandonados ao nosso livre arbítrio de revolta. Eis porque razão o nosso mundo está em poder da feroz lei animal da luta pela vida. Esta significa: cada um por si, sozinho contra todos, sem defesa além das próprias forças, e salve-se quem puder. É um regime de inferno, baseado na força, no engano, na injustiça, que só um estado de revolta anti-Lei pode ter criado, porque não se pode admitir que obra tão terrível possa ter  saído das mãos de Deus. O nosso mundo representa, de fato, a reviravolta da positividade do S.

O pagamento se faz de acordo com a justiça. Em cada uma das zonas das forças e qualidades constitutivas de nossa personalidade, há uma balança estabelece até que ponto a privação deve funcionar como compensação e pagamento do respectivo abuso com que infringimos a Lei. É assim que o destino nunca atinge globalmente, mas apenas em dados pontos, poupando-nos, favorecendo-nos e até mesmo ajudar-nos em outros. É a natureza das forças com que somos construídos que atrái aquelas que nos devem depois punir ou premiar segundo a justiça. Assim, em cada ponto recebemos segundo o mérito.

Estes conceitos nos fazem compreender como funciona a Divina Providência. Esta, pelo fluir das irradiações de Deus, está sempre aberta e em ação. Mas ela só pode chegar até nós quando encontra livre o caminho. O segredo, pois, para sermos ajudados por tal Providência é o de encontrar-nos ajustados com a Lei. Para o rebelde anti-Lei, não há ajuda. Este poderá invocá-la, ter a ilusão de poder aproveitá-la, mas se não tiver agido segundo a Lei, não receberá auxílio, permanecendo abandonado às próprias forças, que terminada as ilusões chegará ao fim. Se, ao contrário, ele tiver agido segundo a Lei, esta o ajudará abundantemente. O rebelde, ao contrário, põe-se fora de sua ordem e fica excluído do seu organismo de energias positivas. Ele forma, no próprio campo de forças das zonas da negatividade, vazios antivitais que atraem forças maléficas da mesma natureza para enchê-los. Este procedimento é automático, independe da vontade e do conhecimento do indivíduo, e verifica-se todas as vezes que o livre fluir da corrente da Lei seja impedido por forças negativas lançadas pelo indivíduo, que resistem ao benéfico fluir.

A simples conclusão é que, quando somos justos, Deus nos ajuda e, para sermos ajudados, é preciso tê-lo merecido. Colocada essa premissa e encontrando-se o indivíduo nas condições ideais da justiça, o resto é fatal e automático. O universo foi construído por Deus, com perfeição  feita de forças benéficas. Mas é a criatura rebelde que vira de cabeça para baixo em seu prejuízo e impede a sua chegada; é ela que, pondo-se contra a Lei, se põe contra a vida. O universo está cheio de Deus. É a nossa própria loucura que nos impede de gozar de seus benefícios.