A Lei de Deus

A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Como orientar nossa vida no plano geral do Universo, conhecendo o funcionamento da Lei.

No capítulo anterior, tocamos levemente no assunto de uma ciência da vida como método para se alcançar êxito e ser menos infeliz, em virtude de se aprender a arte de viver sabiamente em harmonia com a Lei de Deus, seguindo com obediência a Sua Vontade. Vamos agora explicar melhor estes conceitos.

É difícil a arte de saber viver. A vida é um vaso que podemos encher com o que quisermos. Mas, a verdade é que temos querido enchê-lo de erros. Então, que podemos receber senão sofrimentos? Quando era moço, li livros sobre a arte de alcançar sucesso na vida. E hoje ainda se encontram livros sobre este assunto. Mas, trata-se duma ciência de superfície, que se baseia na sugestão, na arte exterior de apresentar-se, de falar e convencer o próximo. Ora, isso só pode levar a um êxito parcial, momentâneo, superficial. O verdadeiro êxito na vida consiste num problema de construção de destinos, um problema complexo de longo alcance, que só se pode resolver conhecendo o funcionamento das leis profundas que regem a vida, e a posição de cada um dentro dessas leis, ou seja, o plano duma vida enquadrada no plano geral do universo, em função de Deus. Mas, o homem não conhece nem um nem outro desses dois planos. Como se pode chegar a uma orientação completa do caso particular, se não se conhece a Lei geral? A maioria não é dona dos acontecimentos da sua vida, mas é serva dirigida por eles. A vida deveria ser um trabalho orgânico, consciente, executado em profundidade, dirigido logicamente para finalidades certas, que a valorizem, dando-lhe um sentido construtivo.

A vida é um jogo vasto e complexo. Podemos deixá-la decorrer levianamente, mas então, ou perdemos o nosso tempo, ou semeamos sofrimentos, cometendo erros. E depois, as consequências terão de ser suportadas inevitavelmente por nós. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas, os construtores desse destino somos nós mesmos e depois ficamos sujeitos à sua fatalidade. A nossa vida atual apresenta-se como um fenômeno sem causas e sem efeitos, se considerada isolada. Para ser compreendida, é preciso concebê-la em função das vidas precedentes que a prepararam, e das vidas futuras que a completam. O presente não pode ser explicado senão como fruto do passado, das ações livremente desencadeadas, cujas consequências são agora o que chamamos o nosso destino. Da mesma forma que o passado representa a semeadura do presente, o presente representa a semeadura dó futuro. A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Verifica-se, assim, este jogo complexo de semeadura e colheita, entrelaçadas em cada momento da nossa vida.

Esta é a Lei de Deus e ninguém pode modificá-la. Mas dentro desta Lei somos livres para nos movimentar à vontade. Assim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos o poder de nos arruinar ou de nos salvar, como quisermos, mas não podemos alterar a Lei, e a nossa ruína ou salvação fica fatalmente sujeita às normas da Lei de Deus. Ela regula os movimentos de tudo que existe e do homem também. Conhecê-la quer dizer conhecer as regras do jogo da vida, isto é, a ciência da própria conduta, a arte de evitar os movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano próprio e atingir o melhor bem-estar possível. É indiscutível a superioridade do homem que possui este conhecimento, em comparação com quem, na luta pela vida, não o possui. O primeiro tem muito mais probabilidades de alcançar sucesso do que o segundo. Para quem conhece a Lei geral, é possível coloca-se dentro dela na devida posição, evitando as dolorosas consequências duma posição errada. O homem comum acredita viver no caos, onde procura impor a própria vontade a tudo e a todos. Mas, de fato, não é assim. Esta suposição é fruto da sua ignorância. Não há vontade humana que possa dominar o poder da Lei. Esta é constituída, não só como norma, pela inteligência de Deus, mas também como poder, pela vontade d‘Ele. Isto quer dizer que as normas são ao mesmo tempo uma força que quer que elas se realizem, uma força irresistível, viva e ativa, sempre presente em todos os tempos e lugares, da qual não é possível fugir. A Lei é boa, sábia, paciente e misericordiosa, mas é também justa, duma justiça inflexível, de modo que, quando a criatura abusa, ela se desencadeia-se como um furacão quando há abuso, a fim de coibi-lo.

A coisa mais importante na vida, a base de tudo, é a orientação. E a maioria vive correndo atrás das ilusões do momento, desorientada e descontrolada. Só quem conhece tudo isto pode orientar-se, inclusive a respeito do seu destino e das finalidades particulares que lhe cabe atingir na vida atual. Pode assim evitar os atritos dolorosos contra a Lei, que atormentam os rebeldes, e subir mais facilmente, levado pela corrente da Lei que o ajuda, uma vez que ele quis colocar-se em obediência a ela. Quem, por ter compreendido, sabe obedecer com inteligência, conhece o caminho mais rápido e menos doloroso da salvação.

Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta é uma bem estranha posição para o mundo, que ainda obedece à lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus não quer dizer perder a própria e tomar-se autômato. Essa obediência é um estado de abandono em Deus, em absoluta confiança, como o filho nos braços da mãe. Mas, esse abandono é ativo e dinâmico, como o de quem vai atrás de um guia sábio e bom que o defende e lhe garante o êxito, desde que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelidade. É  o abandono do operário, consciente da sabedoria do patrão que manda, mas a quem, para sua própria vantagem, convém obedecer, acompanhando e colaborando. Ninguém pode negar as vantagens de trabalhar juntamente com Deus, apegado ao Todo-Poderoso. Esta é uma posição de vantagem que fornece a criatura poderes, os quais não pode atingir quem caminha sozinho, dirigido apenas pela sua própria vontade e inteligência.

Se soubermos a arte de viver em harmonia com Deus, a nossa existência se deslocará do plano da injustiça e da força em que vive o homem, ao plano da justiça e da bondade em que tudo funciona com princípios diferentes. Trata-se de substituir o instinto de domínio do nosso eu individual, que vai até à revolta contra Deus, pelo desejo de concordar com a Sua vontade, num estado que, em vez de ser de separação, representada pela nossa debilidade, será, ao contrário, de união, que constitui a nossa fortaleza. Então, a vida se tornará outra coisa para nós. Ela não será jamais dirigida pelo princípio da força e do engano, que levam ao esmagamento e a desilusão, mas, será antes dirigida pelo princípio da justiça e da sinceridade, que reconhece o nosso direito a tudo de que necessitamos para viver, de acordo com o nosso merecimento. São dois princípios absolutamente diferentes. Cabe a nos, conforme os nossos pensamentos e conduta, pertencer a um ou outro desses dois planos, e por conseguinte ser regidos por princípios bem diferentes, muito menos duros e dolorosos no segundo caso. Este é um problema absolutamente individual, de escolha e resultados individuais, independente da maneira boa ou má como os querem resolver os outros. Não importa se o mundo não quer transformar-se, preferindo o contrário. Cada um pode transformar-se e salvar-se por sua conta. Cada um constrói o seu próprio destino. É lógico que Deus seja justo, e é justo que as consequências advindas do nosso comportamento sejam o efeito de causas engendradas por nós mesmos. De acordo com o mundo atual, as qualidades mais úteis para vencer são a força e a astúcia. Isso cria um estado de luta de todos contra todos, sem repouso. Esse contínuo estado de guerra é uma dura, mas merecida condenação, devida a psicologia de revolta que domina na Terra. Pelo contrário, naquele mais alto nível de vida, a qualidade mais útil é a boa vontade de obedecer a Deus e à Sua Lei, merecendo assim, conforme a justiça, a Sua ajuda. Acontece desse modo um fato incompreensível para a mentalidade do mundo: quando a merecemos, esta ajuda chega por si mesma, não nos pedindo coisa alguma sequer em troca. O resultado é maravilhoso e inacreditável para o nosso mundo: a nossa vida passa a ser garantida, e tudo é providenciado de maneira a não nos faltar nada. Mas, isso pode verificar-se somente quando o tivermos merecido, cumprindo o nosso dever perante a Lei, vivendo conforme a vontade de Deus.

Surge, então, uma novidade que o mundo não acredita: para possuir o de que precisamos e para alcançar sucesso não é necessário força ou astúcia. Basta tê-lo merecido, como a justiça o exige. Aqui não é o prepotente ou o astuto quem vence, mas o homem justo que cumpre o seu dever. Somos, num nível de vida mais evoluído, regidos por um princípio mais alto. Trata-se de um nível ao qual pertencem os indivíduos mais amadurecidos.

O incrível é que vemos funciona nesse novo mundo a Divina Providência. Ela funciona de verdade, mas, é lógico, só para quem o merece. É lógico que ela não funcione para quem não o merece. Quando o tivermos merecido, podemos ter a certeza de que se verificará para nos esse milagre da Divina Providência, que nada nos deixará faltar do que precisarmos, seja para a alma, seja para o corpo. Em geral não se acredita que isto possa acontecer de verdade, porque de fato é muito raro que aconteça, porque é raro também que o mereçamos. O mundo está cheio de necessidades porque está cheio de cobiça. A causa da necessidade é a cobiça. Quem semeia insaciabilidade, tem de recolher fome; quem furta, tirando dos outros o que não ganhou honestamente com o seu trabalho, terá de viver na miséria, até que aprenda, à sua custa, a lição da honestidade. Para reconstituir o equilíbrio da Lei, surge a privação correspondente ao nosso abuso. Paga-se caro esse abuso, mas o mundo parece ignorar uma lei tão simples. Somos livres, mas responsáveis. E o seremos tanto mais, quanto mais possuirmos em riqueza e poderes, pelo bom ou mau uso que deles fizermos. Teremos sempre de prestar contas à Lei. A mesma Lei poderá tirar-nos tudo, deixando-nos na penúria se pelo mau uso de poder ou fortuna, houvermos merecido.

O próprio Sermão da Montanha, de Cristo, se baseia nesse princípio. Mas quem o toma a sério? É por isso que vemos tanta pobreza no mundo. Deus não criou a pobreza, mas foi o homem que a criou com a sua desobediência a Lei. Deus não ficou esperando até agora, para que o socialismo descobrisse o problema da justiça social. A Justiça da Lei, completa e perfeita, sempre funcionou. Quem tem olhos para ver, fica horrorizado, ao considerar, a leviandade do mundo, que está brincando com forças terríveis, condenando-se a sofrer as consequências. É assim que vemos tantas humilhações para os que foram orgulhosos, tanta necessidade onde houve desperdício no supérfluo, constrangimento à obediência onde houve poder demais e mau uso das posições de domínio.

O mundo é ainda tão ingênuo que acredita que basta apossar-se de uma coisa, de qualquer maneira, para que tenha o direito de possuí-la. E não sabe que tudo o que possuirmos sem justiça por não o ter ganho com merecimento, e por não ter querido fazer dele bom uso - tudo isso é gasto, consumido, corroído interiormente por esta falta de justiça que mais cedo ou mais tarde não pode deixar de conduzir ao fracasso. A riqueza mal construída é coisa podre e envenenada, que não pode dar senão frutos da mesma natureza para quem a possui. Acabará, assim, numa traição, como é justo que aconteça. No fundo das coisas não existe o que aparece na sua superfície; ali reina de fato a justiça de Deus, não importando que o homem não queira dela tomar conhecimento. Ela fica funcionando da mesma forma. Possuir o mundo inteiro, quando esta posse estiver fora da justiça, não oferece segurança alguma. Acima de todos os poderes humanos existe esse poder maior, que é a justiça da Lei. Lembremo-nos de que a vida é uma força inteligente que só defende os que são úteis à sua conservação e desenvolvimento.

A conclusão desta palestra é que a Divina Providência existe de verdade e funciona. Mas, para isso é necessário saber fazê-la funcionar, acionando as alavancas que a movimentam e às quais ela obedece. Veremos depois quais são estas alavancas. O fato é que ela funciona, a nosso favor, se o merecermos. Observei isso, controlando e experimentando, durante toda a minha vida, e sei que é verdade. O que tivermos merecido com as nossas obras, não é valor que fica espalhado ao acaso, aonde podem chegar os ladrões, mas está regular e ordenadamente guardado no banco do Céu, donde nada se pode furtar. Este é o único emprego verdadeiramente seguro dos nossos capitais. Esta é a maneira verdadeiramente inteligente de fazer negócios. A Divina Providência não é um milagre, mas lei natural de um plano de vida mais alto, em que vigora uma justiça que não atraiçoa. Ali não existe engano e não se pode enganar. Esta Providência é um princípio que pode funcionar para todos aqueles que se encontram na posição devida, de maneira a serem por Ela alcançados. Deus está presente para proteger a todos; mas, o benefício dessa proteção é natural e justo só recebam aqueles que compreendem a necessidade de obedecer à Sua Lei.

Respeito por todas as crenças

Estou novamente convosco, continuando a nossa primeira conversa. Destas conversas faremos muitos elos e destes elos uma corrente de inteligência e de bondade, para construir um dique contra a ignorância e a maldade que inundam o mundo.

Estas palestras singelas, as palavras que saem dos meus lábios, serão úteis para afastar tantos mal-entendidos e dúvidas que nasceram por incompreensão do meu trabalho, desde a minha primeira vinda ao Brasil em 1951. Peço desculpas por ter de falar de mim, o que me é desagradável. Mas não há outra maneira de esclarecer o caso. Tenho aqui de repetir mais uma vez o que foi sempre o meu lema, isto é, universalidade e imparcialidade. Devo também explicar que as minhas palavras têm de ser entendidas literalmente; elas não contêm outros significados ou subterfúgios. Ora, imparcialidade quer dizer não-existência de partido, compreendendo-os a todos; significa não ficar fechado na forma mental de facção ou de grupo particular algum, sobretudo quando este grupo, seja ele qual for, se impõe combater outros grupos, julgando-os errados e maus e, porque sendo diferentes dele próprio, persegue-os com as suas condenações.

Infelizmente, esse instinto de exclusividade, pelo qual não se pode afirmar sua própria verdade a não ser condenando como erradas as verdades dos outros, é produto do nosso nível de vida humana, sendo isso apanágio do homem em geral, qualquer que seja a religião ou grupo doutrinário ao qual pertença. Não é a diferença ideológica dos pontos de vista das religiões que deixamos de aceitar. Tudo isso é natural e lógico. Em nosso mundo relativo, não pode existir coisa alguma senão de forma relativa. Assim, nele, também a verdade não pode aparecer senão, dividida em seus aspectos diferentes. O que não podemos aceitar é a atitude de condenação, de exclusividade da posse da verdade, e de agressividade, que muitas vezes se encontra nas religiões e nos grupos doutrinários. Não nos interessa tomar parte nestas rivalidades terrenas, que nada têm a ver com a pesquisa da verdade que buscamos.

O nosso objetivo não é o de defender um patrimônio já adquirido, mas o de nos enriquecermos com novas conquistas para doá-las a quem as quiser. Não estamos amarrados a quaisquer interesses terrenos que imediatamente se constroem por cima de toda e qualquer verdade. Quem está mergulhado no trabalho de pesquisa não pode despender as suas energias nessa luta de rivalidades. A nossa tarefa não é a de conservar o passado defendendo-o, mas a de construir o futuro. Os nossos interesses não estão na Terra, mas somente nessa construção. O respeito que temos pela verdade de cada um, e que todos devem tem para com as verdades que o mundo possui, não pode interromper o caminho da vida e a evolução do pensamento. O passado não pode paralisar o florescimento do futuro. E no mundo há lugar para todos.

O primeiro mal-entendido nasceu quando julgaram que nós representávamos este ou aquele grupo, e por conseguinte, que éramos inimigo dos outros grupos, inimizade para nós simplesmente inconcebível. De maneira alguma saberíamos tomar parte nessa luta de rivalidades, que requer uma forma mental para isso adaptada, que não possuímos. Assim, fugimos de qualquer grupo logo que aparece esse espírito de condenação. O mal-entendido consistiu em ter-se julgado encontrar um inimigo, onde não existia inimigo algum, e de pensar em guerra quando tratávamos apenas da maneira como resolver os problemas do universo. Isto desejaria eu aqui explicar de um modo bem claro. Não somos guerreiro; somos um pensador que não tem interesses humanos a defender. “Nosso inimigo é a ignorância”, causa de tantos sofrimentos, e não o homem a quem queremos ajudar. Neste mundo podemos ser presa dos fortes e astutos, mas não somos forte nem astuto para na Terra fazer presas.

Concordamos assim com todos. Os únicos seres com os quais não podemos concordar são os que não querem concordar de forma alguma, mas, pelo contrário, querem impor-se vencendo o próximo. Ora, esta é uma mentalidade atrasada, que o homem verdadeiramente espiritualizado não pode aceitar sem retroceder milênios no caminho da evolução. Mesmo que seja permitido fazer guerra, isso só será possível contra quem quiser fazer guerra. O homem civilizado procura e sabe encontrar, não os pontos de contraste para lutar, esmagando-se uns aos outros, mas os pontos de concórdia, para colaborar, ajudando-se uns aos outros. Dizemos civilizado porque só esse tipo de homem pode fazer parte da nova humanidade que está surgindo, a qual será constituída, não por bandos de lobos, más por uma coletividade social unida, colaborando organicamente. Esse novo mundo, que amanhã será melhor, é o que mais nos interessa; um mundo de compreensão e de colaboração recíprocas; o mundo do "ama o teu próximo como a ti mesmo". Assim, com tudo podemos concordar, menos com essa vontade de não concordar. Não condenamos ninguém por isso, porque esse método corresponde a uma lei que pertence a um dado plano de vida. Não se deve considerar maldade, nem se deve chamar de mau o ser que comete erros por não ter ainda compreendido e não saber fazer melhor, porquanto não é ainda suficientemente evoluído.

Uma vez expliquei a alguém o meu ponto de vista da imparcialidade e universalidade. Sua face iluminou-se e, de súbito, respondeu: “compreendo, trata-se de um novo partido: o dos imparciais e universalistas”. Este fato mostrou-me como a forma mental comum não consegue conceber coisa alguma se não a vê bem fechada dentro dos limites do relativo, isto é, dum grupo particular bem separado dos outros e logicamente em luta com eles. Colocada perante a ideia de universalidade, essa forma mental não consegue concebê-la senão na forma de um imperialismo sendo todos submetidos, que um poder central. Eis como se encontra o mundo e o que vemos na Terra.

Quando cheguei ao Brasil a convite de um desses grupos, outro grupo levantou-se contra mim, dizendo ter chegado um enviado de Satanás. E quando sustentei algumas teorias deste outro grupo, fui censurado pelo que me havia convidado. E assim acontece sempre, porque se trata de um mesmo tipo de homem, o qual possui uma só forma mental, que o leva a proceder sempre de igual maneira, isto é, com condenações e anátemas, pertença a ele e ao qualquer tipo de agrupamento.

Desse modo, nascem os mal-entendidos. O meu trabalho não é o que todos quereriam, ou seja, o do oferecer-me como um seguidor a mais para engrossar as fileiras desse ou daquele grupo, mas é o de fazer pesquisas para resolver problemas ainda não resolvidos, esclarecer dúvidas, compreender mistérios, responder a perguntas a que as religiões, as doutrinas e as filosofias ainda não deram resposta. Disso se conclui que a ideia comum de imperialismo religioso, em busca de adeptos e seguidores, não me interessa e não faz parte do meu trabalho. Falo bem claro: não quero de maneira nenhuma chefiar coisa alguma na Terra; não quero conquistar poder algum neste mundo. Não há, assim, qualquer razão para rivalidades. O que almejo é só utilizar esta minha condenação de viver neste baixo nível de vida, para ajudar os outros a levantarem-se a um nível espiritual mais alto. Se me fosse permitido, só uma vez, ser egoísta, o meu único desejo seria o de ir-me embora, fugindo para bem longe deste mundo e não voltar mais. Por isso, as lutas pelas conquistas humanas que tanto interessam aos meus semelhantes, não têm sentido para mim e, achando-as muito cansativas, não cuido delas. As minhas lutas dirigem-se para objetivos totalmente diferentes.

   

É necessário explicar tudo isso para que meu trabalho seja compreendido. Infelizmente, em nosso mundo estamos acostumados a supor que cada palavra seja uma mentira e julgamos que somos astutos quando conseguimos descobrir essa mentira. Isso é o que, suponho, aconteceu também a meu respeito. Daí nasceu o mal-entendido, porque neste caso acontecia o inacreditável, isto é, que as minhas palavras eram, na realidade, verdadeiras e atrás delas não havia outra ideia para encobrir. É  necessário tomar as minhas palavras literalmente, pelo fato de que elas querem dizer simplesmente o que dizem e não contêm segundas intenções. Para quem não quer conquistar poderes na Terra, é lógico que o método seja diferente do comum empregado pelo mundo.

Nosso método, na verdade, é oposto ao do homem comum. Nós queremos trazer harmonia ao invés de luta, paz e não guerra, esclarecimento onde exista dúvida, esperança onde haja desespero, fé onde esteja a descrença, conhecimento onde se encontre a ignorância. Eis o que procuramos fazer. Conseguiremos realizar o que Deus quiser. Quando sucede que o homem empregue toda a sua boa vontade, as qualidades que possui e o seu esforço para colaborar com a vontade de Deus, o restante fica nas mãos d‘Ele. O triunfo depende de elementos que não conhecemos, escapam ao nosso domínio, e pelos quais não somos responsáveis. Mas se procurarmos compreender e seguir, a vontade de Deus, certamente esta vontade virá ao nosso encontro para ajudar-nos.

Estudando juntos esse método, aprenderemos a arte de alcançar sucesso, inclusive na vida prática. Os homens práticos não observam que, para obterem êxito no campo material, é necessário uma boa orientação, antes de mais nada no campo espiritual, do qual tudo depende, não apenas os resultados dos negócios, como a conservação da saúde e a sensação de bem-estar em nós mesmos e em tudo o que nos rodeia. Em nosso universo tudo está coligado, e as coisas não podem isolar-se umas das outras. Quem não está orientado nos grandes conceitos da vida, não o pode estar tampouco nas coisas pequenas de cada dia, que são consequências das grandes. O nosso trabalho nestas palestras será o de esmiuçar as teorias gerais da grande orientação até suas consequências concretas, que nos tocam de perto, para aprender a viver conscientemente, conhecendo o valor dos nossos atos, desde suas origens até seus últimos efeitos. Esta é a ciência da vida, que nos explica a significação dos movimentos da nossa alma, como dos acontecimentos que nos rodeiam. Cada vida se desenvolve, não ao acaso, nem guiada pelos nossos caprichos, mas conforme um plano particular, que se chama destino, consequência do passado, na forma que vive-lo.

Temos falado que há uma Lei. Aprenderemos, pouco a pouco, a arte sutil de viver em harmonia com essa Lei que representa Deus, arte que constitui o segredo da felicidade. Iremos verificando, cada vez mais, que a espiritualidade, verdadeiramente entendida e vivida, produz incríveis efeitos "úteis", também no plano material. Falamos de utilidade. Não queremos roubar o tempo aos nossos leitores, mas sim fazer um trabalho "útil" a todos. É preciso usar com mais inteligência a nossa vida, tomando-nos cidadãos iluminados e conscientes deste nosso universo, colaborando com a vontade de Deus, Que o dirige. Aprenderemos a ver com outros olhos e então tudo será diferente. Ao invés de rebeldes construtores de sofrimentos, como hoje somos, tornar-nos-emos, para o nosso bem, obedientes construtores da felicidade. Seremos então amigos e colaboradores de Deus, obreiros Seus na grande obra da vida, vida que vai subindo até Ele, porque, assim que tivermos compreendido a Sua vontade, que visa somente ao nosso bem, não desejaremos outra coisa senão realizá-la.

Diz-se muitas vezes que Deus está presente. E não há dúvida: Deus está presente. Mas não basta dizer isto. É preciso aprender a perceber esta presença, chegar a compreender o Seu pensamento e seguir o caminho marcado pela Sua vontade. É verdade que Deus está entre nós. Mas, isto tem uma finalidade. Deus está entre nós, dentro de nós, para que respiremos esta Sua presença e possamos fundir-nos em harmonia com a Sua vontade, realizando em nossa vida os ditames da Sua Lei. E isso também tem uma finalidade, que é a de levar-nos a não errar, como se costuma. Não errar quer dizer não sofrer mais os choques dolorosos que são consequência do erro, que por sua vez é violação da Lei. Isso significa evitar sofrimento e proporcionar-nos tranquila felicidade, que só num estado de ordem é possível.

Os capítulos deste livro constituem uma série de vinte e quatro palestras proferidas na Rádio Cultura São Vicente, todos os domingos, no período de 17 de agosto de 1958 a 8 de fevereiro de 1959, tendo por isso algumas vezes o caráter de conversa. Ao mesmo tempo, elas foram publicadas no jornal O Diário, de Santos. Apresentamos agora, aqui reunidas, essas palestras. Elas continuam, desenvolvendo sempre mais, os conceitos expostos em nossos dois livros A Grande Batalha e Evolução e Evangelho, da segunda trilogia, de nossa segunda Obra, de 12 volumes como a primeira. Trata-se sempre do estudo da Lei de Deus, para que saibamos, realmente, como orientar a nossa própria vida.

No livro O Sistema (Gênese e Estrutura do Universo) foram apresentadas as teorias básicas da sua formação e funcionamento. Nos dois referidos livros, A Grande Batalha e Evolução e Evangelho, entramos no terreno pratico das consequências e aplicações dessas teorias, do controle racional e experimental da sua verdade. Tivemos, por isso, que enfrentar o problema da conduta humana, no campo da ética, assunto do presente volume (A Lei de Deus) e do que se lhe seguirá (Queda e Salvação). Mas, há uma diferença entre os dois. O primeiro, este que temos em mãos, trata o assunto de um modo geral, com uma linguagem fácil, acessível, adaptada a palestras pelo rádio. O segundo, Queda e Salvação, considera o mesmo assunto da conduta humana e da ética, mas de maneira diferente, penetrando em profundidade os problemas, atingindo os pormenores, provando as teorias com demonstrações racionais e pondo-as em contato com a realidade dos fatos. Por isso, esse segundo livro voltará a falar de temas que no primeiro foram só superficialmente esboçados e tratados com linguagem diferente, em função de outros ângulos. Podemos assim afirmar, porque o plano desse segundo livro já está se aproximando de nossa mente, e desde agora, vemos os liames que unem os dois volumes no mesmo motivo fundamental de ética. O aspecto em função do qual é encarado este problema no presente livro é o homem, como cidadão do seu mundo terreno. Assim também, o ângulo sob o qual será tratado o mesmo problema no livro Queda e Salvação é o pensamento de Deus que, com a Sua Lei, dirige o ser para a sua salvação final. No primeiro caso, a ética é concebida olhando-se para a Terra; no segundo, olhando-se para o Céu.

Até agora o problema da nossa conduta foi enfrentado empiricamente pelas religiões que disto se encarregaram; mas, as soluções que elas nos ofereceram se baseiam em princípios teóricos axiomáticos, não demonstrados, enquanto na realidade, muitas vezes, aquelas soluções representam o resultado de ilusões psicológicas não controladas, ainda não provadas, mas cegamente aceitas, desabafo de instintos e impulsos do subconsciente. A forma mental moderna, no entanto, tomou-se mais culta e astuta. Pretende, por isso, olhar atrás dos bastidores da fé, para ver o que há de positivo, tanto mais quanto aquela fé implica em uma vida dura de virtude e sacrifício. O temor genérico de uma penalidade e a esperança de um ganho, sem saber onde e como, nos céus que começam a ser explorados e percorridos de verdade pela ciência, não convencem mais as consciências insatisfeitas. Agora que se aproxima o fim da civi1ização europeia, encontramo-nos nas mesmas condições do fim do Império Romano, quando ninguém acreditava mais nos deuses. Como então, fica de pé a forma, esvaziada da substância. No meio de muitas religiões, antes de tudo preocupadas em combater umas as outras para conservar e aumentar o seu império espiritual, o mundo fica substancialmente materialista, apegado sobretudo aos seus negócios.

A velha linguagem continua sendo repetida. Mas, todos estão acostumados a ouvi-la e não reparam mais. O mundo progrediu e tornou-se diferente. Parece que nos milênios da sua vida religiosa, em vez de ser transformado pelas religiões ao realizar os princípios delas, ele as transformou para suas comodidades. Em vez de aprender a viver nas regras da Lei, aprendeu a arte de evadir-se delas, a astúcia das escapatórias para enganar o próximo e, se fosse possível, o próprio Deus. Então, se os velhos sistemas não adiantam mais, e se este é o resultado deles, por que não usar hoje outra linguagem que seja mais bem compreendida? Por que não se apoiar sobre outros impulsos e movimentar outras alavancas às quais o homem possa melhor obedecer? Por que não ver a vida no seu sentido utilitário, oferecendo-nos também vantagens quando pede virtudes e sacrifícios?

Foi por isso que nasceram estas palestras. Com os nossos livros A Grande Síntese, Deus e Universo e o O Sistema,  tínhamos atingido uma visão bastante completa da estrutura orgânica do universo. Tratava-se, agora, só de deduzir destes princípios gerais as suas consequências práticas, pondo-os em contato com a realidade da nossa vida e verificando se eles permanecem verdadeiros também nos pormenores do caso particular. Deste modo o problema da conduta humana foi enfrentado duma forma diversa, isto é, em sentido racional, positivo, logicamente demonstrado, experimentalmente controlável como faz a ciência, apoiado nos fatos que todos vemos e, assim, encontrando a sua explicação. Foi possível deste modo chegar a uma ética universal, não dependente de alguma religião particular, absolutamente imparcial e verdadeira para todos, como é a matemática, ou a ciência em geral, porque faz parte da grande Lei que rege tudo, escrita no pensamento de Deus, e que podemos ver realizada nos fatos. Chegamos assim, nestas palestras, a uma orientação que sai do terreno empírico das religiões para entrar no terreno positivo da ciência, o que justifica as nossas conclusões, de que elas têm de ser ponderadas por toda mente que queira e saiba raciocinar e por isso aceita a demonstração, como a de um teorema de matemática.

A novidade e importância deste ponto de vista, sustentado nestas palestras, baseia-se nos seguintes fatos:

1) Trata-se de uma ética universal, que diz respeito à vida, permanece verdadeira em todas ás suas formas chegadas a um dado nível de evolução, para qualquer lugar celeste do universo. Pela sua universalide, acima de todos os pontos de vista particulares e relativos, esta ética resulta absolutamente imparcial a respeito das divisões humanas.

2) Trata-se de uma ética positiva, como é a ciência, baseada em fatos, sendo, apenas, um capítulo da Lei que tudo rege, estuda, também, pela ciência. Ética de efeitos calculáveis, determinística, baseada em princípios absolutos, sem escapatórias, como por exemplo, a lei da gravitação e as leis do mundo físico, químico, biológico, matemático etc.

3) Trata-se ainda de uma ética praticamente utilitária, concorde com o princípio fundamental da Lei, que é a justiça e também o desejo do ser; justiça que exige que o sacrifício da obediência à Lei e o esforço para evoluir encontrem a sua recompensa. Ética correspondente ao instinto fundamental do ser, que é o de fugir do sofrimento e de chegar à felicidade. Por isso, vem a ser uma ética capaz de ser entendida e aceita, porque satisfaz à forma mental do homem moderno.

4) Trata-se de uma ética racional, logicamente demonstrada, que não se baseia na fé cega, no princípio de autoridade ou no terror de castigos arbitrários e obscuros, mas que convence quem saiba pensar. Uma ética que não admite enganos, porque nela se pode ver tudo claro: a perfeição e a bondade das regras, às quais devemos obedecer até as últimas consequências de cada ato nosso.

5) Esta ética resulta de um sistema filosófico-científico universal que tudo abrange e explica desde o princípio até o fim, sistema do qual ela representa um aspecto controlável nas suas consequências práticas da vida comum. Estas conclusões se baseiam no valioso apoio de teorias positivas gerais que as sustentam, orientando-nos também a respeito de tantos outros fenômenos, dos quais estas teorias oferecem uma interpretação lógica.

6) Esta ética pode ser submetida a um controle experimental no laboratório da vida, com o mesmo método positivo da experimentação que a ciência usa para controlar a verdade das outras leis que vai descobrindo, e todas juntas, ao lado desta ética, constituem a grande Lei que tudo rege.

7) De fato, estas conclusões foram submetidas, por nós que as estudamos em nossa própria vida e na alheia e por meio século, sob controle experimental, que as confirmou plenamente. E muitas testemunhas viram os fatos que aconteceram.

8) Afinal de contas, não estamos dizendo coisa nova, mas repetindo com outras palavras o que já foi dito no Evangelho e pelas religiões mais adiantadas que o mundo possui; De tudo isto só quisemos dar demonstração lógica e prova experimental. Explicamos a necessidade de tomar a sério e viver o que o mundo está repetindo com palavras há milênios.

9) Esta ética não somente nos orienta no imenso mundo fenomênico em que vivemos, dirigindo com conhecimento a nossa conduta, mas explica o que está acontecendo, a razão dos fatos que nos cercam e logicamente os justifica quando não quereríamos aceitá-los, como no caso do sofrimento. Esta ética, respondendo às nossas perguntas e oferecendo uma solução razoável aos problemas da nossa vida, ilumina o caminho que temos a percorrer, de modo que possamos vê-lo e nele avançar, não de olhos fechados, mas com as vantagens oferecidas pelo conhecimento da Lei e a certeza da sua justiça e bondade.

10) Esta ética responde a uma necessidade do momento histórico atual. O Céu, contemplado, admirado e venerado na Terra, sempre de longe, como sonho praticamente irrealizável, não pode ser apenas teoria vivida por poucas exceções: deve descer e realizar-se entre nós. Seria absurdo que os grandes ideais existissem para nada, como o homem preguiçoso preferiria. Apesar da sua indiferença, ele não pode paralisar as forças da evolução na realização do seu objetivo fundamental, que é o progresso.

Com o abrir-se da inteligência e o aumento do conhecimento, vai aparecer também no terreno da ciência positiva, a verdadeira concepção de Deus e da Sua Lei. Ela sairá, então, das formas das religiões particulares em lutas entre si, da clausura das igrejas, do exclusivismo dos seus representantes. Então, o homem, mais consciente, perceberá a grande realidade que é Deus e, finalmente, para o seu bem, se colocará, obediente, na ordem da Lei.

S. Vicente, Páscoa de 1959.

Plano e método de trabalho.

Na véspera do meu septuagésimo segundo aniversário, aqui em Santos, onde desembarquei, vindo da Itália, há quase seis anos, em dezembro de 1952, começo esta primeira série de rádio-palestras, a fim de poder chegar a um contato mais próximo com os meus amigos. Até agora este contato realizou-se por intermédio dos meus livros, isto é, da palavra escrita. Hoje realiza-se também de viva voz, o que toma o contato mais real, mais atual, mais próximo do ouvinte, do que o obtido pelos escritos dirigidos ao leitor.

Entro assim numa fase nova do meu trabalho, que é a de me aproximar do povo com uma linguagem mais simples, de maneira a ser compreendida. Procurarei fazer com que estas conversas se prolonguem o mais possível, a fim de chegar a uma comunhão de pensamento mais completa, se porventura já não teria sido alcançada; a uma união de mente e coração, que constitua uma ponte através da qual eu possa doar tudo de mim mesmo, doar tudo aquilo que consegui compreender e realizar na minha longa experiência, numa vida de tempestades e introspecção profunda. A dor constrangeu-me a aprender a superá-la para dela fugir ou, pelo menos, domesticá-la. Neste nosso mundo são muitos os que sofrem, e ensiná-los como amansar a dor é obra de caridade. Procuraremos também satisfazer a sede de conhecimento que se encontra aninhada no fundo de cada alma. Tudo isto quero comunicar aos amigos, que serão meus herdeiros.

Dizem que meus livros são difíceis, mas até aqui eles ainda não constituem todo o nosso trabalho. É chegado o momento da realização desta outra parte do trabalho, na qual minha tarefa é a de traduzir as teorias difíceis em palavras simples, tudo repetindo e esclarecendo numa forma diferente, acessível a todos, sem as complicações da ciência, sem as dificuldades da alta cultura. Continuamos ligados a substância e simplificando o que é mais difícil, aproximando-nos da realidade do nosso mundo, a qual se compreende melhor porque todos a vivemos em nossa vida de cada dia. As grandes teorias do universo serão descritas de outra forma. Esta nova exposição daquelas mesmas teorias terá a vantagem de as confirmar em virtude de contato mais direto com os fatos. Desta maneira, elas se tornarão acessíveis sem ser necessário o esforço mental que nem todos podem fazer, sem a cultura que nem todos possuem. Assim, estas verdades poderão ser compreendidas e utilizadas por um número cada vez maior de pessoas que desejem ser beneficiadas e precisem de orientação a fim de melhor se dirigirem na vida.

Para que não haja qualquer mal-entendido, desejamos afirmar, logo de começo, que a nossa finalidade é só fazer o bem. Queremos fazer isto, oferecendo o fruto do nosso pensamento e da nossa experiência, para que os amigos possam deste conhecimento tirar a maior utilidade para si próprios: utilidade espiritual, que é a base da material, porque a segunda não se pode isolar da primeira.

Nossa tentativa não se destina a impor ideia alguma ou a fazer prosélitos. É apenas uma oferta livre, que não obriga ninguém a aceitá-la. Quem estiver convencido de possuir outra verdade melhor e estiver satisfeito com ela, que não a abandone. Quem não gostar de pesquisas no terreno de tantos mistérios que nos cercam de todos os lados, quem não quiser incomodar-se com o trabalho de aprofundar o seu conhecimento, enriquecendo-o com novos aspectos da verdade, fique tranquilo na sua posição. Não desejamos perturbar ninguém; não andamos em busca de seguidores a fim de conquistar domínio na Terra; não somos rival de ninguém neste campo. O nosso único interesse é a pesquisa para atingir o saber. Este, e só este, é o nosso objetivo, e não o de conquistar poder algum neste mundo.

Permanecemos, por isso, com o maior respeito por todas as verdades que o homem possui e pelos grupos que as representam. Respeitamos os campos já conhecidos, embora sigamos por nossa conta explorando novos continentes. Respeitamos as verdades já conquistadas, embora procuremos ver mais longe. Respeitamos todas as religiões e doutrinas, e de maneira nenhuma pretendemos destruí-las ou superá-las, a fim de as substituir por outras. Ensinamos, sempre, o maior respeito pela fé e filosofia alheias.

O nosso lema é que o homem civilizado não agrida nunca o seu próximo, e que um ser evoluído nunca entre em polêmicas. Isto significa que, para nós quem agride o próximo não é civilizado e aquele que entra em polêmicas para impor a força as suas ideias aos outros ainda não é evoluído. Não quer dizer seja ele mau, mas tão somente atrasado no caminho da evolução, como o prova o uso dos métodos que mais se aproximam da fera. O método usado revela a sua própria natureza e o nível de vida a que pertence. Mais adiante explicaremos isto melhor. "Dize-me como lutas e dir-te-ei quem és".

Tranquilizem-se, os que suponham esteja eu fazendo campanhas contra alguém. Isso significaria retroceder milhares de anos no caminho da evolução. Proceder assim seria sintonizar com forças negativas da destruição. E veremos que entre tantas leis que dirigem o mundo, existe aquela segundo a qual quem destrói acaba destruindo a si mesmo: quem agride o próximo agride a si mesmo; quem faz o mal, o faz antes de tudo a si mesmo. Veremos a maravilhosa justiça de Deus, sempre presente, em ação, inclusive neste mundo de injustiça. Veremos que a ciência e a lógica não estão contra a fé. Os poderes do intelecto nos foram dados por Deus para compreender e demonstrar a verdade com provas reais, pois que a fé pode apenas vislumbrá-la.

Veremos muitas coisas boas e maravilhosas, provenientes de planos de vida mais elevados e que, se quisermos, podem ser atraídos a Terra.

Trata-se de maravilhosa descida de sabedoria e de bondade, através das quais se manifesta entre os homens a presença de Deus! Procuraremos aprender a arte de viver em paz e no respeito ao próximo, o que constitui a base de uma feliz convivência social. As longínquas teorias dos nossos livros descerão do mundo das abstrações, até se tornar prática a sua aplicação podendo assim conferir frutos reais a quem o desejar. Não prometemos poderes mágicos, nem felicidade fácil, mas vamos colocar, juntamente com tudo a mais, dentro de uma visão da vida, clara, singela e positiva, constituída pela Lei de Deus, a qual pode ser dura quando o merecemos, mas é sempre boa e justa. Devemos compreender finalmente como está feita e como funciona esta grande máquina do Universo, construída é movimentada por Deus, dentro da qual vivemos e de que somos parte. Ela é a nossa casa, onde moramos, sem no entanto a conhecermos.

Movimentando-nos acertadamente evitaremos o sofrimento, que é a campainha de alarme que nos avisa quando cometemos um erro, que deve ser corrigido para voltarmos à harmonia na ordem da Lei. Enquanto não regressarmos àquela harmonia, a dor não pode acabar. É lógico que o bem-estar possa nascer apenas de um estado harmônico e que a desordem não possa gerar senão sofrimento. O ser é livre, mas o universo é um concerto musical, onde qualquer dissonância produz sofrimento. Na verdade, que se deve colher quando o homem continuamente se rebela contra a ordem da Lei de Deus? Num sistema dessa natureza é lógico que a felicidade não se possa atingir senão pelo caminho da obediência, e que a revolta não possa trazer senão sofrimentos. O estado em que se encontra nosso mundo comprova, na realidade dos fatos, a verdade desta afirmação. Dado que seria absurdo atribuir a causa de tanto mal a Deus, que não pode ser senão bom e perfeito, não resta outra alternativa senão atribuí-la ao homem Quanto maior for a revolta, tanto maior será o sofrimento, até o homem rebelde aprender, a sua custa, a obediência. Se quisermos fugir à dor e conquistar a felicidade, qualquer que seja a nossa filosofia ou religião, temos de compreender que existem leis, existem leis, existem leis; se continuarmos violando-as, como costumamos fazer, teremos tanto sofrimento que acabaremos por compreender que existem leis e, se não quisermos sofrer, não há outro caminho a não ser o de nos ajustarmos a elas. Se o mundo conseguir aperceber-se disso, esta seria a maior descoberta dos nossos tempos. Eis o conhecimento que consegui atingir em meio século de trabalho mental e de controle experimental. Este é o presente que agora ofereço aos meus amigos.

O  mundo atual parece estar tornando-se pior, mas à liberdade do homem é limitada por Deus, não permitindo com isso seja o funcionamento da Lei que tudo rege. O mundo pode ser conduzido ao desmoronamento e ao fracasso, mas o prejuízo é somente para quem a isso o conduzir. A Lei de Deus permanece imutável. Isto quer dizer que, no meio de tantos: crimes e injustiças, a justiça de Deus fica de pé, e os que fracassarem serão os piores. Mas para os justos, para os honestos, que não mereceram a reação da Lei, fica, em sua defesa, a justiça de Deus. Perante Ele, cada um fica sozinho com o seu destino; para colher o que semeou e receber o que mereceu.

Veremos o que significa dizer destino, procurando penetrar o segredo da nossa vida através do conhecimento das leis que a regem. Muita coisa teremos de ver juntos. Nesta primeira palestra não é possível tocar senão em alguns assuntos gerais. Mas, pouco a pouco, entraremos cada vez mais nos problemas da vida que temos a resolver, nas perguntas que surgem em nossa mente e às quais é necessário responder. Eis a conclusão que podemos antecipar: Deus vem ao nosso encontro de braços abertos, com uma lei da bondade e de justiça e podemos receber felicidade quando a tivermos merecido, por termos semeado bondade e justiça. Há um caminho para chegar a felicidade, mas se o homem não quer segui-lo, a culpa e as justas consequências não podem ser senão dele mesmo. Devido à escassez do tempo, não podemos prosseguir hoje, mas continuaremos depois. Irá, assim, realizar-se um colóquio entre as nossas almas, até chegarmos a um abraço de compreensão e alegria para mim, por tornar-me útil ao próximo, e os ouvintes possam desfrutar das vantagens de compreenderem melhor a vida, e, consequentemente, de semearem para si menos sofrimentos. Procurarei falar de alma para alma, a cada um, como em segredo, ao ouvido, a fim de esclarecer os vossos problemas, focalizando-os diretamente, para confortar os que sofrem, orientar os que duvidam, pacificar os revoltados, encaminhar para Deus os desviados, dar uma fé e uma esperança aos descrentes. Para nos libertarmos da disciplina da Lei de nada vale dizer que Deus não existe: Ele permanece existindo. De nada vale negar a Sua Lei: ela continua funcionando. De nada vale escondermo-nos nas trevas: a luz persiste resplandecendo no Alto. Estamos vivendo dentro desta Lei viva; nossa própria vida deriva dela e representa o pensamento e a vontade de Deus, que é a causa primeira da vida universal.

Continuaremos, assim, conversando juntos, de amigo para amigo, unidos por um liame de bondade, para o bem de ambos. "Sem bondade não se pode dizer a verdade". Considerarei cada ouvinte como um amigo meu pessoal, com o qual estou desabafando a minha paixão de beneficiar o próximo. Não sou rico para dar dinheiro, não sou poderoso para oferecer vantagens materiais. Dou o que tenho: o pensamento que recebi por inspiração, e o amor do meu coração. Como recompensa espero que este pensamento seja compreendido e este amor seja retribuído.

A técnica do funcionamento da Lei de Deus. Quem faz o mal, o faz a si mesmo.

No precedente capítulo, falamos da função da Lei, que é a de endireitar as posições erradas adotadas pelo homem. Formulamos a seguinte pergunta: como se processa esse endireitamento e qual é a técnica do funcionamento desse fenômeno? Agora perguntamos mais: qual é o jogo de forças através do qual se chega a esses resultados e com que método se consegue realizá-los? De que modo o mal volta a fonte que o gerou e, assim, por que acontece que quem faz o mal o faz a si mesmo? Como pode nosso mundo, em que vigora a lei da força, ser regido, interiormente, por outra lei de justiça, que acaba por vencer?

Já explicamos que a nossa personalidade atual foi construída por nós mesmos, no passado, pelos pensamentos e atos que, longamente repetidos, com a técnica dos automatismos, se tornaram hábitos. O resultado de todas as nossas atividades passadas encontra-se escrito, em síntese, em nosso tipo individual. Nossas qualidades e instintos atuais são o resultado da nossa história vivida, possuindo uma velocidade adquirida na direção que eles representam e, por isso, a não ser que sejam corrigidos em outra direção, significam possuir um impulso e uma tendência a continuar da mesma forma no futuro, fenômeno a que chamamos destino. Isso já dissemos.

Ora, uma parte do nosso ser é ainda completamente animal, isto é, entregue ao subconsciente. Como acontece quando se domesticam os animais, que se acostumam a viver em ambiente diferente do seu ambiente natural, adquirindo, assim, com novos hábitos, novas qualidades e instintos, o mesmo acontece com o homem, com o mesmo método de transmissão para o subconsciente. Trata-se de um trabalho mecânico, automático, espontâneo, não sendo um produto reflexo da inteligência e da vontade. Confiado ao subconsciente, que de tudo vai tomando nota, absorvendo ou reagindo, constitui esforço de adaptação, fundamental para a vida defender-se e prosseguir. É da profundidade do subconsciente que, depois, tudo o que ali foi impresso pela longa repetição, volta a superfície em forma de instintos, os quais, por inércia, continuam automaticamente a impulsionar-nos na direção já adquirida, até que novos impulsos venham gerar novos atos e a repetição destes forme, por sua vez, novos hábitos, instintos e qualidades, que se irão sobrepondo aos já possuídos, lançando-nos em direção diferente.

Ora, o motor de tudo isso é a nossa vontade, que livremente, impulsiona nossa evolução, dirigida pela livre escolha. Pertence-nos então o poder de nos construirmos como quisermos. É lógico, portanto, que nos pertençam a responsabilidade e as consequências dessa escolha. Mas, é lógico também que, num fato assim tão importante como o da evolução, a escolha do caminho, o seu desenvolvimento e o ponto de chegada não possam ser confiados ao acaso ou a vontade de uma criatura que nada sabe, além dos problemas do momento e do seu pequeno mundo. Isto seria pôr em risco o resultado último do imenso trabalho reconstrutor do universo, trabalho grande demais para ser entregue ao capricho e ignorância da criatura. Nesse resultado a criatura não pode influir, pois pertence só a Deus, resultado em que tudo não pode ser senão absoluto, determinístico, fatal.

Ao lado da vontade do homem, a qual estão sujeitos somente os resultados que lhe dizem respeito, a própria construção, há outra vontade, que fixa os limites entre os quais se mover aquela. Assim que deve ser para que, em qualquer caso, o resultado final seja de salvação e não de destruição, como poderia acontecer se prevalecesse a vontade do homem. Esta outra vontade, à qual, aliás, tudo está confiado, é a vontade de Deus. Dentro dela o homem está mergulhado, com a liberdade de mover-se como um peixe num rio. O peixe pode deslocar-se para todos os lados, menos para fora do rio, estando o caminho já marcado por leis absolutas, tendo, em qualquer caso, que nadar na direção do mar. Assim, a criatura pode semear desordem à vontade, mas só para si, ao passo que, nas linhas gerais, tudo está dominado por um poder maior inalterável, que mantém sempre a ordem.

Que acontece então, quando a nossa livre vontade realiza pensamentos e obras de mal? Por repetição, eles se tornam automáticos, instintivos. Por isso, as qualidades e os instintos adquiridos por automatismos, constituem nossa personalidade com todos os seus recursos, por intermédio dos quais ela continuará funcionando com a característica automática dos instintos, pelo menos até que estes não sejam corrigidos. Por isso, conforme o que tivermos livremente realizado no passado, teremos construído para nós uma personalidade com qualidades boas ou más, e, ao redor de nós, um ambiente de vibrações positivas ou negativas, com todas as suas consequências de felicidade ou sofrimento. Teremos construído uma atmosfera própria em que ficamos respirando e vivendo, com sua natureza boa ou má, de alegria ou de dor, que teremos merecido e que agora volta para nós, constituindo o que podemos considerar como sendo nosso destino atual.

Quando pensamos e operamos num dado sentido deixamos entrar no sistema de forças que constituem a nossa personalidade, outras forças, que ali se fixam, modificando, conforme sua natureza, esse sistema. Nunca esqueçamos que, em cada momento da nossa vida, estamos construindo, com os nossos atos, o edifício do nosso eu, isto é, nosso espírito, nossa psicologia e também, como consequência, o corpo onde moramos. Com que tijolos realizamos esta obra? Que resultado poderemos alcançar se, quando construímos, em vez de utilizarmos pedra, só empregamos lama informe e suja? Então, seremos o fruto de nossa própria vontade, isto é, feitos de mal, mergulhados numa atmosfera de mal, amarrados às forças do mal, de todos os lados cercados pelo mal, que nos atrairá e por nós será atraído e nos golpeará porque dele seremos constituídos, nós e o mundo ao qual pertencemos.

O contrário acontecerá, pela lógica da mesma Lei, a quem escolheu o caminho do bem. O certo é que, depois de praticada uma ação, qualquer que seja sua natureza, temos de colher seu resultado, seja bom ou mau. Se tivermos semeado o bem, a alegria será nossa e ninguém dela nos pode privar. Se tivermos semeado o mal, o sofrimento será nosso e ninguém no-lo poderá tirar. No caso de erro, há um só remédio: a dor estará ali para nos avisar de que erramos. À nossa frente há sempre um caminho virgem, onde teremos oportunidade de endireitar o passado. Mas, o impulso renovador tem de partir da nossa vontade, que, como vimos, é a primeira força geradora do nosso destino.

Olhando o fenômeno em seu conjunto, vemos que há duas transmissoras de vibrações e impulsos dinâmicos: a da vontade do nosso eu e a da vontade de Deus. As emanações desses dois sistemas de forças se encontram e reagem um em relação ao outro. A Lei, representando a vontade de Deus, é o mais poderoso. A Lei é feita de ordem e harmonia, e a cada dissonância ela reage em proporção desta (como faria um diretor com sua orquestra) para que tudo volte à posição certa, logo que o homem tenha ultrapassado os limites preestabelecidos. Por outro lado, o homem não pode deixar de perceber essa reação que se chama dor  e, conforme sua natureza e grau de compreensão atingido, reage, revoltando-se, ou aceitando a prova para aprender a lição e não cair mais em erro. Por sua vez, a Lei percebe as novas vibrações e, impulsos gerados por estes novos movimentos da vontade do homem, toma nota de tudo, modificando as suas primeiras reações por meio de outras. Estas são transmissão de ondas de regozijo, se o ser voltou a ordem dentro dos limites da Lei, ou de sofrimento ainda maior se o ser continuou rebelando-se, surdo ao aviso recebido. O aviso tem de ser entendido e o sofrimento cresce em proporção à surdez. E assim, sucessivamente, tudo ecoa e se repercute, por ação e reação, num contato contínuo entre o homem e a Lei de Deus.

Trata-se de dois mundos vivos, sensíveis, em contínuo movimento, como as ondas do mar, com fluxos e refluxos, cada um com as suas deslocações e conforme as suas características, chegando cada qual a tocar os pontos nevrálgicos do outro sistema de forças. Verifica-se, dessa forma, uma rede de impulsos, um colóquio de perguntas e respostas, um contato sutil por radiação que de longe liga e une no mesmo trabalho: na Terra, o homem que não quer evoluir e ser salvo, e nos Céus, Deus Que quer sua evolução e redenção. E assim os dois sistemas de forças se excitam um ao outro e se explica como cai do céu o nosso merecido e fatal destino. Esta é a técnica do fenômeno da retificação do erro. Eis o jogo de forças. Através dele o mal volta à fonte que o gerou. Já o dissemos: quem faz o mal o faz a si mesmo. Assim ficaram respondidas nossas perguntas.

O mais importante no estudo que estamos fazendo, depois de ter explicado o funcionamento do fenômeno, é compreender suas consequências, pois são o que mais nos toca de perto, porque se realizam em nossa vida prática, consequências que dizem respeito a nossa conduta, dando-nos soluções racionais no difícil terreno da moral, tratado até agora empiricamente, e não com métodos positivos. Olhemos, assim, para um ponto muito importante do problema, que é o da correção dos nossos erros. Ponto prático e atual para todos, porque envolve o problema da dor, ponto fundamental porque implica o problema de nossa libertação do mal e do melhoramento das condições de nossa vida. Do estudo que estamos fazendo, depreende-se que os erros cometidos no passado, próximos ou remotos, são a causa dos nossos sofrimentos atuais, podendo ser corrigidos e significar a libertação da dor. De outra maneira não necessitaríamos estar presentes na terra.

Quando um homem, com inteligência, entende a técnica desse fenômeno e, por conseguinte, a razão da existência da dor em nosso mundo, é lógico que não deseje outra coisa senão cuidar de corrigir seus erros, para se libertar de suas tristes consequências. E tanto mais procurará realizar essa correção, quanto mais claro e positivo for o método mostrado e oferecido para chegar a esse resultado. Quem não procura sua própria vantagem? Esta é a moral que mais facilmente pode ser aceita, porque tudo está claro e demonstrado, e só existe o problema da inteligência para compreendê-la. Infelizmente, o pior surdo é aquele que não quer ouvir. Explica-se dessa forma como a Lei tem de corrigir-nos pela dor, e este e o único raciocínio que todos podem perceber. Além de ser justo que tudo se pague, é o único meio para impulsionar o homem no caminho da correção dos seus erros.

Quem compreendeu o verdadeiro significado disto, não erra julgando ser de mais valor a coisa possuída do que o seu possuidor. Este é o eterno e aquela é temporária. Em última análise, importante não é a posse material conseguida, relacionada com nosso corpo e perecível como ele, porém nossas qualidades boas ou más, imperecíveis e inseparáveis da nossa individualidade espiritual. É com essas qualidades adquiridas que construímos nossa vida futura. Elas são a causa primeira de tudo e constituem nosso destino, contra o qual não há poder humano que possa prevalecer. Na vida, só temos efeito dessas causas; conforme sua natureza, atrairemos riqueza ou pobreza, saúde ou doença, êxito ou insucesso, alegria ou sofrimento. Intervém-se os critérios do mundo. É mais rico ou pobre merecedor da riqueza, porque ela lhe chegará; do que um rico merecedor da pobreza, porque está também lhe terá de chegar. Não é este o sentido do Sermão da Montanha, de Cristo? Este sermão, incompreensível para a psicologia humana, que não acredita nele, torna-se claro para quem entendeu a função equilibradora da Lei.

Lembremos uma vez mais: o que recebemos na vida não é um fim em si mesmo, objetivando nosso gozo, mas sim um instrumento de experiência, aprendizado e evolução. É lógico, desse modo, que a Lei nos tire tudo quando não usamos para nosso bem, única finalidade. Pelo contrário, apegando-nos às coisas materiais, arruinamo-nos, parando nossa evolução. É lógico ainda: quando julgamos ser o objetivo de tudo somente nossa satisfação, não estamos em condição de compreender o verdadeiro significado do jogo da vida. Mas, se em nosso mundo existe tanta luta pelas coisas materiais, isso não deixa de ter também seu sentido e utilidade, embora no seu nível inferior de evolução. Assim, por intermédio desta luta feroz se experimenta e se aprende. Os meios de que a Lei usa para ensinar são proporcionados ao grau de sensibilidade e compreensão atingido pelo ser. Quando este evoluir até um grau mais elevado, a luta nesta forma terá de desaparecer, porque não terá mais escopo útil a atingir, nem razão para existir, tornando-se, pelo contrário, contraproducente e destruidora. Os níveis inferiores estão cheios de forças que, com a experimentação, se vão transformando em inteligência. Esta vai prevalecendo cada vez mais, chegando, nos planos superiores, a substituir totalmente á força, que não é mais necessária, porque a inteligência se desenvolveu suficientemente para chegar a compreender a vantagem de obedecer espontaneamente à Lei.

Temos esclarecido, a pouco e pouco, esses problemas para melhor entender e enfrentar o que acima mencionamos, ou seja, o problema da correção dos nossos erros. Essa abordagem é importante e poderá ser mais amplamente explicada no próximo capítulo.