Da Revista Constância — Buenos Aires, ano LX, nº 2495, setembro de 1937.

No próximo número terminará a publicação desta monumental obra que, durante vários anos vem aguçando a mente dos estudiosos e espiritistas do mundo.

Obra de esforço gigantesco. O homem comum, e mesmo a generalidade dos espiritistas, não pode chegar a compreender, entretanto, o tormento que representa uma recepção mediúnica dessa natureza, tão extensa, tão densa de pensamentos e conceitos novos. Mister se torna um constante e fatigante trabalho de contenção e de tensão ao mesmo tempo. De contenção, para impedir que forças materiais, demolidoras do ambiente, alterem o sistema neuro-receptor do médium, e de tensão, para manter sem desvio o fio através do qual desliza a corrente transmissora, de sutilíssima potência, dolorosamente incitante.

Obra monumental de revelação, de ensinamento insuspeito, profundamente científico e eminentemente moral — essencialmente moral — porque, do conteúdo de sua inesgotável sabedoria transluz a pureza de uma elevação que assombra, aguça e incita a alcançá-la, impele a ascender, obriga a superar-se emergindo da imperfeição humana.

Não há assunto que não seja tratado, nem tema que não seja elucidado, nem fenômeno que não mereça ser analisado desde sua origem e fase íntima, recôndita, até à evidência das consequências derivantes.

Certamente não iremos comentar o conteúdo científico dessa obra, por faltar-nos tempo e preparação — para isso seria mister um homem equivalente à grandeza e profundidade da mesma — mas temos que arriscar-nos a confessar que a quantidade de novos e estranhos conhecimentos que expõe e abarca, dificilmente será compreendida pelo nível mental atual dos homens, pois os problemas que encerra não se acham ainda ao alcance da compreensão geral, e nem mesmo da dos cientistas, que ficarão perplexos e desorientados, e portanto preferirão rechaçá-los como insustentável diante do que já constataram.

Isto, porque o saber humano se acha num estado crepuscular, por enquanto; todavia, isto não deve constituir motivo para retraimento e muito menos para recusa de tudo o que é novo, pois se algo de novo chega até nós — como é o caso desta Mensagem —    é porque há princípios já evoluídos, que tornam aptos os seres para maiores e mais elevadas compressões.

Então, será apenas questão de tempo o compreender o que é novo na obra de Ubaldi; questão de longas horas de meditação, de dias ansiosos de espera, até que o substrato espiritual de nossa mente abra suas portas para as ressonâncias extraterrenas, e aqueles conhecimentos se identifiquem com nosso sentimento, e se encrostem em nosso entendimento.

Essa obra, portanto, é uma antecipação em nossa evolução, antecipação que prepara desde já uma modificação total do estado ainda materializado demais do saber humano.

Como espiritistas devemos sentir-nos enaltecidos pelo fato de que esses conhecimentos tenham chegado através de um dos fenômenos mais discutidos e mais combatidos da atualidade, porque ele dará, afinal, por ser incontestável, carta de cidadania ao processo espírita.

Chegue, portanto, nossa gratidão ao abnegado receptor que, "através de seu amor e de seu martírio" (como diz Sua Voz) tem sabido derramar, por antecipação, muitos benefícios e deu novo impulso ao saber humano, apressando sua ascensão.

Buenos Aires, 16 de setembro de 1937

(a)    F. VILLA