Com o presente trabalho, Comentários, apresentamos o 1º volume de "Introdução à Segunda Obra", que chamamos brasileira, porque nasceu e se desenvolveu no Brasil, depois que para cá se transferiu seu instrumento humano, em Dezembro de 1952.

Explicaremos no princípio do 2º volume desta Obra, Profecias, como ela nasceu em 1955 e 1954, o seu novo estilo, sua significação e conteúdo.

Esta nova Obra surge seguindo o esquema da primeira, desenvolvendo o mesmo pensamento em novos aspectos, ao mesmo tempo que acompanha o desenrolar-se da missão por ela expressa e o amadurecimento do espírito de seu instrumento, assim como do destino do mundo.

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Esta segunda Obra é a continuação da primeira, com a qual se funde formando uma Obra Maior, que representa não apenas a construção de um sistema cientifico filosófico-ético, como ainda o amadurecimento do destino de um homem, que é seu instrumento, e do destino do mundo na hora histórica atual.

Se o leitor, aqui também, não viver esta maturação, dificilmente poderá compreender, e recolherá fruto bem mesquinho de sua leitura. Ater-se apenas à estrutura conceptual significa permanecer na superfície, sem penetrar o sentido destes escritos. Estes representam a ascese do homem para Deus, e progresso cósmico do ser que evolve; observá-la sem vivê-la, não produzirá fruto. Aqui não apresentamos literatura nem erudição. Estes livros foram todos vividos, foram escritos com o sangue, diante de Cristo, numa vida de tormento e de holocausto, numa hora de redobrada dor para o instrumento e apocalíptica para o mundo, ele também pregado, por causa de seus erros, à cruz da dor, única que o pode redimir e salvar.

Nestes novos volumes, o fenômeno intuitivo do instrumento — primeiramente enquadrado na mediunidade, a seguir na ultrafania, mais tarde como inspiração livre e consciente, que se tornou verdadeiro método de pesquisa filosófica e científica através de visões — tende cada vez mais a concluir-se numa catarse biológica, em que toda a personalidade do sujeito, ao emergir do plano normal evolutivo humano, se sublima na dor por meio do misticismo, que é sua fase final. Pois a conclusão lógica de todas as Obras que escrevermos será a ideia de Cristo, assim como a unificação com Ele é o objetivo final da vida do instrumento.

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Procuremos, agora, resumir o significado e o conteúdo do presente volume: Comentários. Divide-se ele em três partes:

O FENÔMENO - história e critica. Nesta parte está resumida a história da primeira manifestação do fenômeno, das mensagens mediúnicas de terceiros que acompanharam seu nascimento, além dos estudos críticos da Sociedade Italiana de Metapsíquica e de outros técnicos, a respeito do fenômeno e do sujeito, e as relações entre A Grande Síntese e a última teoria de Einstein.

CRÍTICAS - Nesta parte recolhemos todo o material acessório, como o prefácio às várias edições das Mensagens e de A Grande Síntese, as apreciações e principais comentários da imprensa. Poderá assim o leitor conhecer o pensamento dos outros a respeito destes escritos, e também em parte uma interpretação sua. Procurará orientar-se entre os diversos julgamentos. Reunimos tudo aqui, para não sobrecarregar A Grande Síntese com outros textos fora de seu próprio conteúdo.

A CONDENAÇÃO - Nesta parte é tratada a questão da condenação no Index, dos dois volumes: A Grande Síntese e Ascese Mística. Não o apresentamos com espírito ou finalidade de polêmica, sentimentos que não existem, em absoluto, no ânimo do autor. Se aqui desenterramos e resumimos esta questão espinhosa, é com o único objetivo de uma documentação exata, feita na forma mais objetiva e imparcial, com duas finalidades:

a) a de fornecer cos leitores, reunido neste volume, um completo e preciso material para julgamento, porque é preciso esclarecer tudo. Assim poderão julgar melhor, tendo diante dos olhos os mais variados elementos, cujo conhecimento é indispensável para chegar a uma determinada conclusão.

b) outra finalidade é a de fixar num livro estes elementos, imparcialmente e sem preconceitos, de modo a que outros, mais tarde, não se apossem deles desvirtuando-os, para chegar a outras conclusões que não existem de forma alguma no pensamento do autor. Nenhuma questão que lhe diga respeito ele deixou em estado nebuloso e à mercê de interpretações alheias. Não são poucos os casos em que, por espírito de partidarismo, acontecimentos como esses são deformados porque usados como bandeira de reações e em defesa de ideias preconcebidas. Enquanto o mundo procura reação e polêmica, o autor busca em toda parte compreensão e união. Com esta documentação, deseja prevenir qualquer tentativa alheia de exploração do caso, para fins particulares, contra esta ou aquela instituição, qualquer que seja ela, da qual, de acordo com os seus princípios, ele não se sente inimigo.

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Assim, poderá o leitor brasileiro achar neste livro, uma história documentada do período incandescente da gênese e explosão do fenômeno inspirativo do sujeito, história muito diferente da do atual período brasileiro. Desenvolveu-se ela em ambiente em que o Kardecismo era quase desconhecido, e os pontos de referência e de julgamento eram a ciência, a psicologia, a metapsíquica, a filosofia, o catolicismo etc. Era esse o ambiente europeu, e o sujeito não podia modificá-lo.

Poderemos, assim, nestas páginas documentárias, reviver esta história que, mesmo pertencendo ao passado, lança no entanto muita luz no presente preparado por ela, e o explica, mesmo sendo este tão diverso. História útil para fazer compreender que outra longa e complexa história viveram estes livros antes de entrar no ambiente brasileiro; em que outro mundo se moveram e a quantos outros ambientes interessaram. História útil para mostrar a dificuldade que existe em incluir e encerrar exclusivamente no espiritismo Kardecista brasileiro uma Obra absolutamente universal, reduzindo-a apenas a um produto mediúnico, e seu instrumento a um médium a ele adaptado. História útil para demonstrar, a quantos acreditam que o mundo todo seja igual ao seu país, o grande esforço de adaptação que o sujeito teve de fazer para transferir-se, material e espiritualmente, para este hemisfério, que está, na realidade, nos antípodas do setentrional, tanto físico conto espiritual.

Por isso, no limiar desta nova e Segunda Obra, que pertence ao período brasileiro, quisemos, antes de nela entrar, resumir e documentar o período precedente, concluindo-o com este volume, que pode assim definir-se como o elo de união entre as duas, a Primeira e a Segunda Obra.

Com o volume que a este se seguirá, Profecias, deixaremos para trás esse mundo passado, ao qual pertence a Primeira Obra, e entraremos decididamente no período brasileiro, que construirá a Segunda em novo ambiente, com novos elementos e psicologia, trabalho inédito, que, no entanto, é sempre o desenvolvimento lógico e necessário, consequência do anterior trabalho já realizado.

São Vicente, Natal de 1955