O primeiro dever de uma revista que nasce é orientar, claramente, seu pensamento e declarar com sinceridade seus objetivos: uma linha de conduta segundo princípios aos quais, depois, devera permanecer fiel.

O    escopo desta revista é operar a transformação desses princípios em vida vivida, isto é, ajudar a nascer, do homem de hoje, tipo biológico mais evolvido, representado pelo homem novo do Terceiro Milênio.

Este movimento inicia-se no Brasil, tendo lambem em vista sua futura grandeza como nação

Enunciar um princípio, aqui, significa, pois, vivê-lo.

Antes de iniciar o argumento, faz-se necessária uma premissa.

O    signatário pede desculpas se algumas vezes tiver de pronunciar a palavra eu. Por essa razão é bom esclarecer e estabelecer desde o princípio que ele nada pede jamais para si e não quer absolutamente ser chefe de coisa alguma. Quis, por isso, que a denominação ABAPU (Associação Brasileira dos Amigos de Pietro Ubaldi) fosse substituída pela de ABUC (Associação Brasileira da Universalidade de Cristo)3, para que a idéia se antepusesse a qualquer personalismo. E este é já um princípio geral para ser vivido.

Outro princípio geral: o que importa não é a pessoa, mas a idéia.   

Estes princípios já definem a posição do subscritor que deverá ser sempre o primeiro a aplicá-los, vivendo-os. Sua posição é de oferecer, apenas oferecer, o produto de sua inspiração. Isto ele já o tem feito ao mundo.

O Brasil, em primeiro lugar, o compreendeu e o aceitou.

O signatário deseja, apenas, uma coisa: que isto seja para a grandeza desta nação que ele agora aprendeu a amar imensamente. Sua posição, ele o quer, deve ser, apenas, esta: a daquele que serve e não a de quem é servido; a de quem se põe a serviço dos outros e não a de quem os subordina ao próprio orgulho, domínio ou egoísmo; é a posição daquele que obedece e não a de quem comanda.

Ele serve ao próximo e obedece a Deus —  outro princípio geral para ser vivido.

Cada ato de nossa vida deve ser inspirado por estes princípios e pelos que exporemos depois.

Aquele que está em posição mais elevada, mais deverá vivê-los, mais é responsável diante de Deus e dos homens.

Com tudo isto, estamos recordando que todos nós temos o dever do exemplo, primeiro dever, somente com o qual se podem pregar quaisquer princípios, demonstrando, antes com fatos que com palavras, que eles podem ser vividos. De outra maneira não se tem o direito de pregar — outro princípio geral.

O leitor vê como, desde a primeira enunciação, os princípios aqui se apresentam, não teóricos e abstratos, mas numa forma vivida ou para viver.

Quem quiser buscar-lhes a justificação sistemática e racional poderá aprofundar-se em seu estudo nos volumes do subscritor, também oferecidos ao mundo para que os que amam o conhecimento aprendam, saciando a inteligência. Ele apenas oferece, por uma convicção espontânea, sem jamais impor.

Eis-nos diante de outro princípio geral para ser vivido: Oferecer, nunca impor a verdade. Eis o patrimônio espiritual de cada consciência. Nunca introduzir-se na alma alheia com a violência da argumentação, numa guerra de idéias, para subjugar o semelhante; antes, procurar todos os meios de comunicação que conduzem a compreensão.

É lei vital que a época dos absolutismos, dos dogmatismos, dos imperialismos ideológicos hoje, se vá superando e eliminando.

A nova era é a da bondade na compreensão recíproca; da convicção de todos no seio de um mesmo Deus: é a era do amor. O princípio é: Procurar o que une e evitar o que divide.

Devendo nós vivermos tudo isto, conclui-se que aqui será sempre evitado o espírito de polêmica, pois este é considerado como expressão da psicologia de um tipo biológico atrasado, que está sendo, cada vez reais, superado pela evolução.

Nosso método é, pois, o de não oferecer nunca aos ávidos de polêmica a resistência de outra polêmica, isto é, o mau exemplo de luta e guerra.

Seja nosso método o do Evangelho.

Este é o método dos evolvidos, ao passo que o outro é o método que logo revela o involuído, biologicamente atrasado. É o único método que vence porque, enquanto na luta ambas as partes se dilaceram, ganhando apenas em ferocidade e perversidade! com nosso método, o antagonista, não encontrando alimento para seu espírito de agressão, por si mesmo se desarma e cai.

Como se vê, os nossos princípios não são uma novidade, pois que são os conhecidíssimos princípios do Evangelho.

Propomo-nos, apenas, a vivê-los seriamente, convencidos de que disso pode nascer hoje o homem novo e, com ele, uma nova geração e uma grande nação.

Deve ser o método usado, pois é o que revela a própria natureza, o próprio tipo biológico de evolvido ou involvido, a própria superioridade ou inferioridade.

A idéia de vencer esmagando o adversário revela imediatamente o involvido.

Ainda quando isto se faça em nome de verdades absolutas e assim se justifique, na realidade exprime biologicamente instintos de agressão.
   
Compreendamos que a verdade é relativa e progressiva e que nos foge em seu aspecto absoluto. Nós, relativos, não podemos possuí-la senão por progressivas aproximações.

Existe um outro princípio que se segue a este: Sejamos sempre construtivos, isto é, operemos em sentido positivo, unitário, como é o bem, e jamais sejamos destrutivos, isto é, nunca ajamos em sentido negativo, separatista, como é o mal.

Tudo o que é agressividade é satânico; O Evangelho não o é nunca.

Seja nossa obra todo um amplexo ao mundo e, unicamente, um amplexo de amor.

Guerra, jamais, a ninguém, por nenhuma razão. A vitória estável e verdadeira obtém-se apenas com a bondade, o amor, o exemplo, a convicção.

Que o Evangelho, tão pouco vivido até hoje, se transforme na forma de vida do homem novo, num novo método de viver, que penetre cada ato nosso, demonstre que somos evolvidos e se manifeste com nosso exemplo a cada momento.

Que no terreno filosófico, político, religioso, isso signifique tolerância. Não, porém, uma tolerância raivosa, na atitude de quem suporta com desdém o erro alheio; ao contrário, uma, tolerância que busca os pontos de contato, os pontos comuns, e se alegra quando pode dizer: "Mas, então, concordamos em muitas coisas! Não estamos, pois, tão distanciados quanto nos parecia. Podemos entender-nos um pouco e não há necessidade de contenda".

Em sua saudação repetida em quase todas as conferências no Brasil, o signatário afirmou seus dois princípios fundamentais: universalidade e imparcialidade.

Que significam eles?

São o  emblema do homem novo.

Sua Voz, já na primeira Mensagem do Natal, em 1931, estabelecia estes princípios fundamentais que são, depois, desenvolvidos em toda a obra:

"Falo hoje a todos os justos da terra e os chamo de todas as partes do mundo a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos... Minha palavra é universal... Uma grande transformação se aproxima para a vida do mundo..."

Brevemente o mundo se organizará sobre um princípio novo que não será dado por um imperialismo religioso, isto é, pela vitória de uma religião que, por absolutismo, se imponha a todas as outras. Não é por este caminho que se chegará a unidade, a saber, um só rebanho e um só pastor.

O único pastor será Cristo e o único rebanho será formado por uma humanidade em que as várias religiões não se combatam e não se condenem mais reciprocamente; ao contrário, se compreendam e coordenem, fazendo dos homens todos filhos diante de um único Deus, um só Deus, pai de todos.

Esta compreensão e coordenação é a primeira forma em que se revelará o amor, em sua era que está para surgir — a nova civilização, o reino de Deus.

Como aplicaremos este princípio? Fraternizando. Se os outros condenam, perdoemos e amemos.

Como respondeu Cristo aos agressores? O seu método seja o nosso método. Aos ataques, às polêmicas, as condenações, respondamos com o exemplo da compreensão. Demonstremos com os fatos que e homem novo possui um novo método de vida e abandonemos o velho método ao homem do tipo do passado.

Este vive mais no exterior que no interior. Suas inclinações se dirigem, de preferência, ás manifestações exteriores da fé: seguir determinada escola, igreja ou grupo, dar-se a certas práticas visíveis.

Aquele que compreende e tem a força de renunciar às manifestações, indispensáveis aos primitivos, recolha-se o mais que puder na religião de substância, que é interior, sozinho quando for necessário, para eliminar ataques e dissídios da religião de forma que é exterior.

A maioria não sabe pensar senão fisicamente, com movimentos do corpo e da boca. O evolvido, porém, sabe que a religião de substância, mãe de todas as religiões, está acima da forma e de toda manifestação sensória: é uma religião mais profunda, sentida e vivida, feita de alma e de ação, não de práticas materiais, na qual todas as religiões encontram lugar.

Esta, verdadeiramente, é a religião.

As religiões tem três fases. A primeira, a mais antiga, é a terrorística, feita de um Deus vingativo que se faz obedecer inexoravelmente, punindo com a lei de talião. A segunda, mais recente,. é a ético-jurídica, feita de uma codificação de normas de vida.

É o evolver da natureza humana inferior que pode permitir uma manifestação de Deus, a fazer transparecer cada vez mais Sua Bondade.

Somente hoje a maturação humana pode permitir que, sem o perigo de abusos, antes temíveis, se possa passar a terceira fase, da compreensão, na qual as religiões são livres e convictas, cada vez mais transformadas da forma, em que lutam os interesses, em substância, que é amor.

Elas se sucedem, não porque sejam sancionadas por penalidades (inferno), mas porque se compreende que significam o nosso bem.

Nesta fase cai e perde a significação o terror de um Deus vingativo.

Assim, por evolução, do conceito de um Deus todo força, o senhor com o azorrague, como era o homem com seus escravos, árbitro absoluto de tudo conforme seu capricho, passa-se ao Deus justo que respeita completamente a Lei que Ele estabeleceu, como o homem moderno que deve respeitar as leis que ele cria para si mesmo no Estado.

Desse modo, por evolução, passa-se agora ao conceito de um Deus não só justo, mas também bom, que nos ama para a nossa felicidade, como o homem civilizado e compreensivo de amanhã amará seu próximo, nas grandes unidades sociais do futuro. Assim, por lento transformismo, o terror, na progressiva reabsorção do mal, operada pela evolução, desfaz-se na justiça e esta se aperfeiçoa e se enriquece no amor.

Hoje se passa da segunda a terceira fase. Ainda se funde e se confunde o útil com a verdade. O interesse predomina, porque predomina a forma. O rebanho para ser apascentado, a que tanto aspiram as religiões, tem-se transformado muitas vezes em rebanho para mungir, propriedade do pastor.

Pelo princípio das grandes unidades, a evolução leva à unificação e guia hoje o mundo em todos os campos, logo, também no religioso, a fase orgânica, em que não há luta de rivais, mas colaboração de irmãos. Penetra-se na fase do amor. O mundo se distancia cada vez mais da primitiva fase caótica e a ordem se faz sempre mais compreendida, convincente, espontânea.

O    Brasil, dentre suas qualidades, tem, sobretudo, a da tolerância recíproca: ausência de intransigência  de absolutismos, de racismo. É, pois,  acima de tudo, a terra do amor, ainda que este esteja, muitas vezes, apenas em suas manifestações mais elementares. Já é, contudo, amor e pode subir.

Como representa a fusão das raças, também representa a capacidade de fusão de idéias. Esta capacidade do Brasil, de amar em todos os níveis, se for desenvolvida em direção ao espírito, poderá amanhã fazer do Brasil a Nação mais capaz de compreender, representar e divulgar no mundo aquela que aqui chamamos a religião, isto é, religião de substância, que é a religião do exemplo, da bondade e do amor.
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3 - Associação instituída em Campos. RJ, no Natal de 1949. (N. da E.)