Ascese Mística

Insistem muito os místicos neste superamento sensório que eles alcançam mediante um processo de progressiva purificação. Bastante árduo é o início. Não são, pois, somente negação de razão, treva de intelecto e renúncia de compreensão lógica, mas também negação de sentidos, cerramento das portas da alma, ávida de projetar-se para o exterior, mas repelida para o interior, cerramento das portas de satisfação as paixões, comprimidas assim para sublimar-se Começam aqui as angústias do místico, cuja alma se lhe dilacera, fibra por fibra. Para chegar a dilatação faz-se mister atravessar esta zona de compreensão. O desenvolvimento do fenômeno é dado por toda esta mutação de equilíbrios, através da qual se desloca o centro de gravidade da consciência. O fenômeno é essencialmente dinâmico e em seu movimento há dois momentos: atrofia do eu inferior e sua reconstituição em um plano superior de consciência. A primeira fase é, pois, a morte. Isso, porém, se torna necessário. Unicamente sob a condição de uma inversa o do processo vital de expansão, na zona humana, pode iniciar-se um processo de expansão muito mais potente na zona super-humana. Aquele sofrimento de renúncia, que parece absurdo, mais não é, todavia, que uma potenciação de ímpeto para uma vida nova, muito mais intensa e mais vasta. A ressurreição no divino deve ser, pois, paralela, próxima a morte no humano. Só este misticismo é sadio, ativo, criador, porque se dirige para a vida. Ai de quem se detiver só na primeira fase e demolir a consciência, sem reconstruí-la Isto é suicídio, não misticismo. Este deve avançar através das amplas vias da evolução, conducentes a luz e a alegria, nunca porém recuar sobre as vias estreitas da involução, que se fecham na cegueira e na dor.

Esta primeira fase de trabalho e de treva foi expressa pelos místicos como sendo a noite dos sentidos. Quero reproduzir, nesta altura, uma página de conhecido cientista, Carrel, que em seu volume — O Homem, Esse Desconhecido, conduz a ciência a confissões jamais ousadas, que pareciam eternamente fora de sua competência. Se bem que Carrel nada tenha podido entender de alguns problemas, porque ciência e razão não são suficientes para resolvê-los, pois seria necessário possuir outros meios e fontes de orientação, é muito interessante, contudo, verificar como certos altos fenômenos místicos possam ser suficientemente compreendidos e classificados pela ciência, quando é consciente, alada e genial. Escreve Carrel 17:

"A iniciação ao ascetismo é árdua e poucos têm a coragem de enveredar por esta via. Aquele que deseja empreender esta penosa viagem deve renunciar-se a si mesmo e as coisas do mundo. Em seguida, permanece nas trevas da noite escura, experimenta os sofrimentos da vida purgatória e, deplorando sua fraqueza e indignidade, suplica a graça de Deus. A pouco e pouco, ele se desprende de si mesmo. Sua prece se tornará contemplação. Ele ingressa na vida iluminativa. já não pode descrever o que vê (....) Seu espírito transcende o espaço e o tempo, entra em contato com algo inefável e atinge a vida unitária, contempla Deus e com Ele age. (....) Devemos aceitar sua experiência, tal qual nos é dada. Somente aqueles que têm vivido em prece podem julgá-la. A busca de Deus é, com efeito, um empreendimento muito pessoal. Mercê de certa atividade de sua consciência, o místico tende para uma realidade invisível, que reside no mundo material e se estende além dele. Ele se lança na mais temerária aventura suscetível de ser tentada, razão pela qual pode ser considerado um herói ou um louco".

Mais adiante, continua o mesmo autor, sob outro aspecto: "Os homens mais felizes e mais úteis compõem um conjunto harmonioso de atividades intelectuais e morais. (....) Existe, ao demais, uma classe de homens, que embora tão desajustados quanto os criminosos e os loucos, são indispensáveis a sociedade moderna: são os gênios, caracterizados pela monstruosa hipertrofia de algumas de suas atividades psicológicas. Os grandes artistas, os grandes cientistas ou filósofos são geralmente homens comuns, cuja função se hipertrofiou. Podem comparar-se também a um tumor que se desenvolvesse em um organismo normal. São em geral infelizes essas criaturas não equilibradas e, contudo, elas produzem grandes obras que beneficiam a sociedade inteira. Seu desajustamento engendra o progresso da civilização. Jamais a humanidade foi propelida pelo esforço da multidão, mas pela paixão de alguns indivíduos, pela flama de sua inteligência, por seu ideal de ciência, de caridade ou de beleza".

Tal é Carrel. Tem ele o mérito de encaminhar a ciência a aceitação de duas grandes verdades: o valor do fator moral, em face do problema do conhecimento e a possibilidade de superamento do plano racional-analítico em dimensões conceptuais e planos superiores de consciência. A ciência avança e chegará através de longo caminho. Mas, temos pressa, o trabalho é vasto, não podemos perder tempo nas hesitações das hipóteses, nem no tardo controle da análise. Mal tocamos um fenômeno, é necessário concluir logo, ir ao fundo, dar-lhe uma explicação exaustiva.

Continua ainda Carrel: "Desde muitos anos assistimos ao progresso dos eugenistas, geneticistas, biometristas, estatísticos, behavioristas, fisiologistas, anatomistas, químicos orgânicos, bioquímicos, psicólogos, médicos, endocrinologistas, higienistas, psiquiatras, criminologistas, educadores, pastores, economistas, sociólogos etc., e sabemos quão insignificantes são os resultados práticos de suas pesquisas. Esta imensa congérie de conhecimentos se encontra disseminada e difundida nas revistas técnicas, nos tratados, no cérebro dos homens de ciência, de modo que cada um possui um fragmento dela. Agora urge reunir essas parcelas em um todo e fazê-lo viver no espírito de alguns indivíduos. Só então se tornará fecunda a ciência do homem. Difícil é este empreendimento. Como construir uma síntese?"

Não podemos contentar-nos com um ponto de interrogação. Nossas almas têm pressa de saber e têm a necessidade e o direito de saber, imediatamente. Por que não compreende a ciência esta síntese? Por que não sabe criar neste sentido? Por que estaciona, encalhada, em sua segurança objetiva? Por que ninguém ousa e arrisca, sem se preocupar com o sacrifício de reputação e posição, jogando embora tudo por tudo, realizar através de uma paixão arrebatadora um sonho imenso?

Mas, voltemos ao nosso fenômeno, para nele penetrarmos totalmente, até o âmago. Aquela primeira fase do fenômeno místico, feita de purificação e de treva, qualificada pelos místicos como a noite dos sentidos, não é ilógica mutilação de vida, mas concentrado labor de evolução. Têm aquelas angústias a mais ampla justificação racional e experimental. Parece absurdo possuir olhos e recusar-se a ver, possuir ouvidos e recusar-se a ouvir, possuir sentidos e recusar-se a sentir, o amor e recusar-se a amar, a vida e recusar-se a viver. A consciência humana, assombrada, interroga-se acerca do porquê daquelas vicissitudes. Mas, recusa-se a ver, ouvir, sentir, amar, viver, só para ver, ouvir, sentir, amar e viver mais e melhor, sempre mais e melhor. Eis para que serve a noite escura dos sentidos: deixa-se de raciocinar, para intuir, de amar a criatura, para amar o Criador. Certamente esta primeira fase de compressão é dor, mas a imediata, de expansão, é incomparável alegria. É justo, ao demais, que todo progresso evolutivo seja conquistado através de um esforço e um trabalho: isso é quanto impõe o equilíbrio da Lei 18. E de dor este primeiro movimento, porque reprime e inverte o ímpeto da alma que é expansão (evolução). Mas, bem analisada, esta inversão está igualmente, ou melhor, mais potentemente nas vias da expansão e da evolução. Detendo-se junto ao quadro de vida puro e humano, a razão incorre facilmente em erro. Que são, com efeito, dor e prazer senão a voz indiscutível do instinto ciente do que lhe é necessário? A necessidade da vida, necessidade fundamental e universal em todos os níveis, é expansão; sua satisfação é alegria e sua limitação, sofrimento. Mal uma resistência cede e permite a expansão do eu, este é invadido por indizível satisfação. E o eu, interiormente, está exercendo continua pressão porque é, por sua natureza, ilimitado e, como tal, não admite confins. Esta é a lei universal e, em qualquer plano, constante, ainda que seja sob formas diversas. O prazer é acrescimento; a dor, diminuição. Então, a consciência não sabe, em um primeiro momento, a causa desse processo de diminuição que tanto lhe repugna e porque deva substitui-lo por aquele de aumento que tanto a atrai. Mas, apenas supere o primeiro momento e prove as novas realizações, e ela se lançará na ascese mística com o impulso incontido que teria dado as paixões humanas. Porque se trata sempre de aumento, que é prazer.

Se, todavia, é necessário morrer, o misticismo se baseia inteiramente na fase reconstrutiva e não aceita a primeira negação de vida senão como treva transitória, condição de luz permanente. O fenômeno equilibra-se consoante uma perfeita lógica. Trata-se de remodelar a consciência segundo uma natureza mais potente. As paixões humanas representam uma ordem de vibrações pesadas que, recaindo na terra, são incapazes de elevar-se na estratosfera do espírito e engolfar-se nos planos superiores para neles penetrar e fixar-se. O desprendimento é uma inaptidão da consciência para responder a certas vibrações estabilizadas em vastíssimos períodos de evolução biológica e um adestramento para responder a vibrações mais sutis e mais elevadas. Afirmei que as vibrações representam uma ordem de ondas mais curtas, rápidas e dinâmicas, mais penetrantes e, por seu ritmo mais intenso e veloz, capaz de elevar-se. Aqui se trata de passar de uma ordem de vibrações densas e pesadas a uma ordem de vibrações ágeis e sutis. Cientificamente, pode definir-se a ascética como a ciência das ondas-pensamento e bem assim o método de sua transformação em tipos cada vez mais imateriais, elevados, penetrantes, velozes e potentes; é o organismo de normas modeladoras dessa ressonância. Os estados de alma, o comportamento do espírito, contêm o método de operar a transmissão e de captar tais ondas, método pelo qual se chega a pôr o espírito no estado e sintonia permanente com centros de consciência e de emanação situados em mais altos planos.

Na ascese, avança-se gradativamente. Uma primeira vibração liga o espírito, por ressonância, com um plano mais alto. A repetição consolida a ligação, de modo que se torna possível adaptar paulatinamente o ser, até que logre estabilizar-se em novo equilíbrio e transferir-se definitivamente para novo modo de ser. Por isso, justamente, insisti muito sobre a afinidade com a transmissora na técnica das noúres, porque aí se iniciava este processo de sintonização que aqui se completa. Na ascese mística tende-se para a unificação; a sintonização, portanto, deve ser integral, de toda a alma e com todo o universo e não mais parcial apenas, localizada em uma dada ressonância conceptual.

Então, a evolução, após haver invertido, por um momento, sua direção, retifica-a e retoma-a para ascender vertiginosamente. O ser supera a fase de negação e torna-se a afirmar com centuplicada potência. Cambiado o centro, a vida então muda de significado e valor; contém realizações diversas das humanas, para as quais tende. O organismo físico já não é um meio de expressão e expansão, mas um cárcere, um meio de compressão. A morte torna-se vida e a vida se converte num processo da negação no humano e de afirmação no divino. É um desnudamento de alma, porquanto a certos níveis não pode chegar e neles ingressar senão a alma nua. Depois das primeiras vicissitudes, o espírito retoma a direção e verifica-se o fenômeno maravilhoso da inversão da dor, isto é, de sua anulação. Conquista-se, então, a libertação. Superada a dissonância, o espírito harmoniza-se no grande concerto do universo, a dor humana separa-se cada vez mais dele e permanece cá em baixo, como coisa morta, entre as mortas escórias da vida. A dor é reabsorvida no amor, a vibração dissonante é submersa no oceano de harmonias da Divindade. Ocorre, então, o que ocorre na morte: o sofrimento, que deveria aumentar, é progressivamente reabsorvido na insensibilidade  Na luta entre a dor e o amor, vence o amor; morre a dor, triunfa o amor. Em meio dos tormentos, a alma canta.

Assim, emerge o espírito em um novo mundo Isso, porém, se realiza gradualmente. O sofrimento decorrente da mutilação de consciência no plano humano é compensado pela alegria da expansão no plano sobre-humano. A proporção que ocorre, no nível inferior, o sufocamento da vida, desdobra-se o campo coberto pela nova consciência; a proporção que se torna iminente o desprendimento, encurtam-se as distâncias e a alma aproxima-se da meta e exulta com seu triunfo. A vida dos místicos é o percurso desse trajeto.

Ascetas existem duros e insensíveis que nada mais sabem dizer além de renúncia, em que tudo está ainda imerso na noite da separação humana; e ascetas há que, chegados a nível mais alto, cantam o amor. Há os que semeiam e os que colhem, os que se martirizam e os que triunfam, mas todos percorrem as diversas fases de idêntico ciclo. No princípio, o caminho é inçado de dificuldades e resistências. O eu inferior não depõe facilmente as armas e, quando voluntariamente o faz, organiza uma defesa inconsciente em que reafloram os impulsos milenários, indomados, do pretérito biológico. Então, na profundeza da carne e da paixão, ressoam sussurros ameaçadores e a fera se revela, olhos sangrentos, ferozes, para dilacerar. Estão precisamente unidos, um ao outro, os dois tremendos inimigos — espírito e matéria — e a luta é atroz, interior, sem tréguas. Não raro, vence a besta.
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17 - As citações que se seguem traduzimo-las diretamente do original francês: L'Homme Cet Inconnu, Cap. IV e VIII, Librarie Plon, Paris, 1936 (N. do T.)
18 - V.    fig. 2: "Desenvolvimento da trajetória típica dos motos fenomênicos". Todo fenômeno, antes de iniciar o arremesso de seu maior desenvolvimento, dobra-se sobre si mesmo em uma fase de contração. (N. do A.)

Viver e amar, tal é a substância do meu misticismo, qual aparecerá nesta sua expressão de fenômeno vivido. A proporção que caem os véus e a fonte se aproxima e transparece, ascende-se e lavra o incêndio. Dentro dele se ouvirá cantar a música do divino, o amor das criaturas, o amor de Deus. Diante de nós, veremos ressurgir a figura de Cristo que nos precede e avança pelos séculos. Veremos aparecer gradativamente, numa sucessão de quadros, esta visão e nela a transformação de uma alma. Mas, retardemos ainda a marcha, antes de aventurar-nos no grande vôo. Avancemos por um gradual crescimento de tensão. Tratamos suficientemente do aspecto técnico da questão. Deixemos atras este superado labor. Estamos ainda no vestíbulo, diante do portal. Nossa psicologia deve avançar através de progressiva desmaterialização e as precedentes afirmações teóricas devera o converter-se em sensível forma de vida. Para tornar possível a compreensão, devemos separar-nos gradualmente da psicologia corrente e gradualmente despojar-nos do invólucro analítico racional, liberar-nos e elevar-nos da forma mental de nosso tempo. O precedente estudo técnico nos fez compreender racionalmente a ascese mística; agora, devemos compreendê-la espiritualmente. Aquela primeira orientação esta na base e por isso nos ajuda e nos ajudará, mas agora é necessário atingir a superelevação do edifício. É necessário elevar-se na nova forma de pensamento e mover-se nela; devemos rasgar o véu e encarar a luz.

Aqui a ascese mística superou, em nosso exame, a fase teórica da compreensão e ingressa no campo pratico de sua realização. Emerge da exposição racional com uma palpitação de vida, não mais ilustração explicativa, mas norma de atuação. Quem ainda duvida verá que a ascese se torna um método e que há uma metodologia para chegar a Deus e realizar a unificação. Isto faz igualmente parte de minha experiência. Esta exposição nos encaminhará à compreensão da última parte e dos quadros psicológicos que a completam. Veremos assim nascer aqui, como conseqüência  lógica de nossas promessas, uma metodologia mística. É a mesma dos grandes místicos, da qual porém não deram explicação racional e científica necessária á hodierna compreensão. Essencialmente, ela é a metodologia da evolução na fase espírito, decorre de cada palavra minha em meus escritos passados, neles esta contida, em suas linhas gerais, e continua aqui em um seu mais alto desenvolvimento.

O campo experimental de minhas observações se estende, assim, às experiências dos místicos que viveram o fenômeno e deram o seu testemunho, confirmando-o. Há uma ciência mística, cujos autores se dão as mãos. Embrionária nos primeiros tempos do Cristianismo, desenvolve-se depois, alcançando muitas vezes alturas inauditas. S. Dioniso Areopagita enuncia as leis gerais da teologia mística, lançando-lhe as bases; João Ruysbroech (nascido na Bélgica, em 1293) assimilou-lhe o pensamento e sobretudo o viveu. No Ornamento das Núpcias Espirituais, ele verdadeiramente arde como um incêndio e voa como águia; seu espírito solta um grito imenso e se abisma na vertigem dos mais altos estados místicos. E quem não conhece Eckart, Tauler e ainda a Beata Angela de Foligno, S. Boaventura, S. Teresa, alma vibrante inigualada, e o santo da mística Assis, S. Francisco, sombra de Cristo? Máximo doutor em teologia mística, da grandeza de S. Tomás em dogmática, é S. João da Cruz (nascido na Espanha, em 1542). Suas obras: Subida do Monte Carmelo, a Noite Escura da Alma, o Cântico Espiritual e a Chama Viva do Amor descrevem as vias da ascese espiritual até a unificação da alma com Deus.

Há, pois, um método para chegar a Deus, com características que se repetem, demonstrando que atras das realizações pessoais há um fenômeno geral. Nisso são concordes, numa nota dominante, os místicos teóricos e os místicos experimentais. Que fazem, que querem todos esses homens? São almas atormentadas por estranha necessidade: têm pressa de chegar a Deus, são impulsionados por um desejo vertiginoso, o desejo da unificação. Ardem todos de íntima efervescência de amor. Vivem com os braços abertos para Deus e para as criaturas, sofrendo antes de chegar e, depois, cantando e amando. Inflamam-se no incêndio do êxtase, em fontes inimagináveis, para, em seguida, derramar torrentes de luz e de paixão. Ouvimos clamores que em nosso mundo não são compreendidos, por isso não são admitidos. Que ocorre então?

Ocorre o fenômeno da absorção do eu inferior no eu superior, através da noite escura dos sentidos. Desloca-se o centro da gravidade da vida para um mundo hiperbiológico, situado além de nossa capacidade de conceber. Se, teórica e tecnicamente, é isso concebível, conforme veremos, coisa mui diversa é viver o fenômeno e experimentar a sensação de seu amadurecimento. Quem ainda está evolutivamente distante, observa e não entende; mas, quem chegou e vive o fenômeno atravessa uma revolução de pensamento e de sensações. O sorriso de quem nega não pode destruir esta realidade; tampouco suas pseudo-explicações patológicas podem deter o desenvolvimento das leis da vida. Sobrevêm o fenômeno da transumanização em Deus e a alma, embora coberta de ridículo, se encontra em face de tão estupendas realizações, que não pode calar o seu arrebatamento

O fenômeno revela-se logo como decisivamente super-racional, precisamente porque é transformação de consciência; em seu primeiro passo, supera e anula a razão. Como primeira ocorrência, vem pois a faltar o ponto de contato com a psicologia inferior. É lógico, todavia, que quem voa abandone a terra. A razão pode classificar o fenômeno, não, porém, senti-lo. Transponhamos o portal; a razão não entra. É natural que permaneça fora e, não encontrando repercussão alguma na extensão da própria consciência, negue. Surgem, então, as acusações de histerismo e de neurose, porque de cada boca não pode sair mais que a voz da própria compreensão.

Ingressemos no supersensório e no super-racional, que é uma dimensão completamente diversa da normal dimensão humana. Esta bitola não se presta a medir tais dimensões. Os próprios místicos não encontram palavras na linguagem de todos. A profunda essência do fenômeno permanece inadmissível para a razão e esta, vendo-se negada, nega por sua vez. Assim se excluem reciprocamente. Não sendo o fenômeno sentido como realidade entre as realidades e considerando que todo eu se faz invariavelmente medida das coisas, é ele então definido por incompreensão como um nada que, todavia, para quem sente, contém o infinito, um nada vibrante de paixão e fecundo de esplêndida atividade, sobre-humanamente altruística e benéfica. Eis o que contém o repouso sem principio nem fim de Boëhme, o eterno silêncio de Eckart, a tranqüilidade e o silêncio da noite de S. João da Cruz. E assim parece absurdo criar uma doutrina sobre um sistema de negação sistemática dos meios dos sentidos e da mente e que se possa conquistar uma visão a força de trevas. Em verdade, há uma primeira fase de negação e de treva, mas é um início apenas; depois, vem a ressurreição. Para voar é contudo necessário deixar as pernas, pois enquanto quisermos caminhar, jamais voaremos. Já não se trata de correr a largos passos de razão, mas de voar em intuição e visão. Ora, isso é coisa mui diversa. E os dois mundos se defrontarão, acusando-se reciprocamente de ilusão. Se se não abre uma passagem, eles jamais se compreenderão. Mas, poderiam perguntar-me, se o homem esta fechado na razão, qual o está em sua pele, como logrará um dia sair? Como se pode sair da própria consciência? Evidentemente que é por força de evolução. Não é esta uma continua emersão de sob os envoltórios da própria semente? Há esta imensa impulsão interior que contém todos os desenvolvimentos e é um impulso de Deus para a sua manifestação.

O místico exclui a razão. Não a mata, supera-a; não a perde, transmuda-a. A alma encaminha-se para Deus; para que mais podem servir os raciocínios do intelecto? Como se podem avaliar certas altitudes espirituais com os meios feitos pelas pequenas distâncias psicológicas da terra? As demonstrações racionais, as argumentações filosóficas podem constituir uma aproximação, aliás, muito imperfeita da idéia de Deus, mas em sua essência, não comporta imagem, assim também não comporta demonstração. Pretender demonstrar-Lhe a existência equivale a negar a sensação direta d'Ele e fechar as grandes vias de comunicação com Ele, que são as vias da fé. Satisfeito, o intelecto então se cega, porque se sente muito melhor com os outros meios. Outra coisa é o conhecimento de Deus: é mais um deixar-se levar do que uma laboriosa pesquisa; é o assomar da alma acima do plano da razão, em uma visão nua, que já não comporta imagem, já não encadeia, nem reduz o divino na representação. A consciência deve ressurgir em uma luminosidade tão clara, vasta e imediata, que nela não podem insinuar-se estas densas e opacas vibrações inferiores, como os sentidos, a razão, a observação, a distinção, a lógica. A visão torna-se pura, simples, unitária.

 

Nosso diagrama já nos ofereceu, em seus aspectos maiores e menores e em seus corolários, matéria para muitos ensinamentos e conceitos. Afastemo-nos agora das minúcias e observemo-lo em seu conjunto, qual uma sinfonia única. Distanciemo-nos da representação gráfica e ascendamos em abstração, avizinhando-nos assim da realidade.

 Até aonde vai esse ilimitado caminho evolutivo?


Ocorre, sob nossos olhos, o fenômeno da transformação de consciência que, intensificando-se, parece evanescer em nossa percepção. E, todavia, repete-se em planos imateriais o mesmo fenômeno da evolução orgânica darwiniana, regido pelo mesmo princípio. Há em todo o processo um ritmo grandioso e implacável, pelo qual o universo avança para zonas em que se desmaterializa e parece perder-se no inconcebível. Nossa vista, conquanto aguda, não pode hoje ultrapassar uma dada ordem de planos. E depois? Depois há uma só direção e esta direção é Deus.


Do grande caminho mais não vemos do que um pequeno trecho, que parte da matéria; nem lhe conhecemos os antecedentes evolutivos. Ele termina nestas superiores fases espirituais que estou descrevendo, além das quais lavra um tal incêndio, que nosso eu não pode resistir. Este incêndio é Deus.

Já foi muito o ter descoberto a evolução biológica; é já muito o tê-la aqui continuado em suas superiores fases psíquicas. Mas, depois, além, ainda mais além, permanece o mistério. E, contudo, o homem evolve. A mesma lei que, mais no alto, nos embarga a visão, para esse alto nos arrebata, perseguindo progressivamente o mistério A consciência dilata-se em todas as suas qualidades e a luz divina pode descer em sua cada vez maior transparência de espirito.


Vimos que a evolução consiste num processo de harmonização vibratória e que, quanto mais se ascende, tanto mais se manifesta em forma de ressonâncias musicais; A evolução de um a outro plano de consciência pode assim dar-nos a revelação das mais inimagináveis realidades. Em cada nível, os seres respondem cada vez mais, por clareza e por força, à nota divina que, qual uma luz, chove do alto e penetra as várias zonas, mais ou menos, segundo sua densidade. Tudo é, pois, uma projeção, mais ou menos densa de sombras, do pensamento de Deus. As vias da ascensão espiritual, que estamos estudando e das quais o fenômeno místico é, para nós, um momento tão grande, são as vias que convergem para o centro, guiando para Deus, último termo de todas as ressonâncias.


Deus é, pois, a meta para a qual se dirige a evolução universal, em marcha. Esta é uma ascensão orgânica de todos os seres. A proporção que sobem, eles se coordenam, harmonizam progressivamente suas dissonâncias, eliminam seus antagonismos e reaproximam suas cisões. A Ascensão é um amplexo cada vez mais estreito que consolida as conquistas e unifica a expansão. De baixo para cima, a evolução é um processo de progressiva unificação e o último termo desta unificação é Deus. Deus é o ponto para o qual tendem todos os seres. Para Ele tudo converge e n'Ele tudo se unifica.


"Ego sum qui sum". Deus não pode ser definido. Definir significa limitar e aqui se fala do ilimitável. Toda definição será uma redução, uma mutilação. Não pode ser definido, porque não se pode projetar no finito o infinito, no relativo o absoluto, não se pode representar no ilusório da forma a realidade da substância, sem ocultá-la. Não se podem conjugar os conceitos de Deus e de pessoa, de vez que este é circunscrição de individualidade e o infinito não pode ser circunscrito. Não se pode chegar a Deus por argumentações, porque Ele está acima de todo raciocínio. Deus não se demonstra: sente-se. Não se pode chegar a Deus mediante pura multiplicação de atributos humanos. Para superar o conceito de direção a que devemos limitar-nos, seria necessário um salto no inconcebível. Quem, com efeito, se avizinha verdadeiramente de Deus experimenta uma sensação de imenso esmorecimento. Só então se olha verdadeiramente para o Alto. Subindo de plano para plano, a fusão dos espíritos se faz cada vez mais íntima e completa. Ao longo desta harmonização está o caminho que conduz a Deus. Ele é unidade global que, em si, harmoniza e funde todas as consciências e criaturas.


As superiores zonas de evolução são níveis de espírito e estão dentro de nós. Deus, supremo termo, não está fora, mas dentro de nós, nas profundezas de um abismo sobre o qual, trêmulos, apenas ousamos debruçar-nos. E o eu de todos os fenômenos que Ele cria eternamente em Sua manifestação. Não podemos orar senão imergindo-nos neste centro interior. onde se confundem altura e profundidade e já não têm sentido nossas medidas. A ascese mística é um trecho do caminho que nos conduz a Deus. A. evolução espiritual é o aprofundamento de nossa consciência em nosso próprio íntimo; sua dilatação é uma estranha dilatação superespacial para o interior, que pode comunicar-nos também a sensação de uma expansão para fora de nós. Mas, não há sensações comunicantes que permitam estabelecer termos de comparação com as novas dimensões. As fulgurações de consciência, que estão na inspiração, na revelação, no êxtase, são bem fulgurações de Divindade Ouvir-lhe-emos o eco imenso, auscultando a voz do espírito; ver-he-emos os lampejos olhando na profundeza de nós mesmos, porque Deus está no fundo do coração humano, como pressentimento de todas as ascensões, insuprimível como o instinto fundamental da vida.


A ascensão espiritual é um processo de penetração do eu consciente em seus cada vez mais íntimos e profundos estratos, que são planos de consciência sempre mais elevados. Esta marcha em profundidade é uma liberação do invólucro denso da matéria e de sua ilusão sensória, é um desnudamento de pesadas escórias, é uma progressão para a realidade, a verdade, o bem, o Absoluto. É uma ascensão para o interior. O futuro está dentro de nós. A manifestação rumo a realidade exterior dos sentidos e da matéria é descida involutiva, é, perdoem-me o termo, descentração de Divindade. A evolução procede em direção inversa, porque é o movimento centrípeto do retorno da alma a Deus. O centro de consciência, para evolver, não se projeta para o exterior, mas desloca-se para a realidade interior, hiperfísica e supersensória. Isso é uma reabsorção do espírito em Deus, que após haver projetado, fora de Si, o processo criativo, em sua primeira fase involutiva, o inverte e o reconcentra em Si, em sua fase evolutiva. Processo concêntrico de síntese, de atração e de amor, oposto ao precedente, de dispersão.
A grande força que impele a evolução é amor. Ela é a radiação que desce do Alto e atrai a Si. Ela reconstrói, reúne, rearmoniza, reconduz à unidade. A luta entre o bem e o mal é a luta entre estas impulsões reconstrutoras, que afirmam, e as impulsões negativas, destruidoras e dispersivas da involução. Esforça-se, mas conquista-se. O egoísta que acredita vencer a vida, fazendo-se centro de tudo e de tudo senhoreando-se, a fim de acumular para si, ao contrário, a si mesmo se fecha as portas daquela, porque se insula do grande movimento de unificação, segrega-se das fontes da vida e esteriliza-se. Ele inverte as vias da expansão do eu, acorrenta-se às coisas perecíveis e fecha-se à expansão no coração do semelhante e das criaturas. Para nutrir-se somente a si mesmo em detrimento dos outros, subtrai-se toda nutrição. Assim é vencido e não vencedor. Disso nos tem advertido a suprema sabedoria do Evangelho. O egoísta vive a expensas do todo. Quem ama vive em contínua comunicação com o todo, inexaurível manancial de riquezas. Quem dá parece perder, mas com esse ato identifica o bem próprio com o de seu semelhante e, multiplicando-se no semelhante, nele revive. Assim, o altruísmo dilata a consciência e, se perde utilitariamente, perde unicamente segundo a mais limitada psicologia racional; mas, em compensação, ganha muito espiritualmente. O ato de egoísmo, ao contrário, constitui uma contração e leva à asfixia; a sensação de expansão e aumento que decorre do ato de altruísmo explica a alegria de dar, de outro modo absurda. Assim se explica, e somente assim, como para o espírito o dar-se em sacrifício não seja, como é para o corpo, uma penosa mutilação
de vida, mas uma alegre forma de expansão.


Por amor, entendo o amor de espírito, que unifica, não o amor carnal, egoísta, que deixa sempre profundos resíduos de separatismo; entendo por amor a vibração de circuito aberto, não a vibração de circuito fechado, que retorna sobre si mesma. Entendo a vibração expansiva do verdadeiro altruísmo evangélico, a vibração da expansão mística que representa uma ordem de ondas mais curtas, rápidas e dinâmicas e, por isso, mais penetrantes, cujo ritmo mais intenso e veloz permite que elas se elevem além da atmosfera terrestre e atravessem os superiores planos de evolução, para aproximar-se muito mais da fonte, sentir-lhe a atração e, com ela alcançar uma sintonia mais perfeita. O amor é a estrada mestra para chegar a Deus. Assim é que em baixotodas as criaturas são inimigas, no alto todas as criaturas são irmãs. Eis como o Evangelho transforma o inimigo em amigo e, chegados a um dado nível, toda a fenomenologia universal aparece qual imensa música de toda criação e a voz das coisas muda-se e torna-se um cântico. E a ascese que opera este milagre, revelando à alma o segredo da harmonização, que no amor opera a reabsorção do mal, das trevas, da luta, da dor, para o equilíbrio, a ordem, a felicidade.

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15 "Eu sou Quem Sou" Palavras do Senhor a Moisés, na tradução latina da Bíblia (Êxodo, 3:14). Em hebraico, significa "Eu Sou Aquele que  É ", no sentido de transcendência divina — O Ser Supremo. (N. do T.)

 

O  fenômeno da ascensão espiritual permanece situado no seio da fenomenologia universal como fase de evolução, como fato insuprimível e necessário. Ele esta enxertado na técnica. do funcionamento orgânico do todo. Se aqui chegamos à verificação experimental, em forma cientifica, todo o nosso mundo não podia deixar de defrontar-se com um fato tão fundamental. E ele se repete em todos os tempos e em todos os lugares. e, do Bramanismo ao Budismo, do Islamismo ao Cristianismo, se reencontra em todas as religiões.

O  processo de ascese mística, objeto deste estudo, poderia repetir-se. como método de Ioga, com nomenclatura equivalente, porquanto o iogue tende igualmente à libertação e unificação. Mas, esquivo-me de tudo isso que cheira a. negativismo, porque o insulamento do mundo e dos semelhantes constitui sempre um pouco de insulamento de Deus. Esquivo-me desse método, porque ele é supressão de realidade exterior, antes que expansão de realidades interiores; fujo de tudo isso a que não se chega por harmonização, esse dulçoroso canto que faz da vida e da dor uma alegria, como o canto do Irmão Francisco no cântico das Criaturas. Eu, que sou latino, não posso sentir a ascensão de espírito senão na forma ardente, passional dos latinos, na forma de um misticismo vibrante e ativo, não posso abstrair-me no insulamento socialmente passivo da pura concentração; mas tenho necessidade, mal haja atingido um novo elemento na concentração, de novamente descer entre meus semelhantes para doar-me; tenho necessidade de dizer e de realizar, não de concentrar em mim, mas de expandir, mediante uma harmonização de almas, o fruto de minha ascensão. Minha concepção de ocidental, mais exteriormente dinâmica, me impõe como dever narrar tudo isso, para que tudo venha à luz e ressoe no coração dos outros.

O  mundo não me aparece exclusivamente coma vã dança de sombras, qual grande Mâyâ, mas como um campo de lutas, onde sangra a alma de meu irmão, a quem me cumpre ajudar. Através desta unificação com ele, consolida-se minha unificação com o alto Desta base de amor humano, inicio o processo de minha harmonização no amor divino. A ascese mística, entendo-a latinamente, vale dizer cristãmente, não como estéril concentração meditativa que rouba à sociedade uma alma e uma atividade, mas como fecundação operada pelo divino no humano, a fim de que no humano se expanda e multiplique para sua ascensão; entendo-a não qual uma força que se ausenta da terra, mas uma força que a ela retorna e sobre ela é ativa e presente, agindo potentemente cada dia. Entendo a ascese mística como ajuda à vida, não como agressão à vida; como expansão, não como compressão. Estou, pois, imensamente longe de certo estéril ascetismo conventual, que oprime sem ter em si paixão de ressurreição. Não matemos o amor, refiro-me ao amor de espírito, de outro modo matar-nos-emos a nós mesmos; não o matemos, mas enxertemo-lo na dor. Passara a dor e o amor sobreviverá; fecundado pela dor, crescera e nos levará para mais alto.

Minha concepção baseada em sólidos fundamentos científicos e experimentais deve passar muito distinta e distante de todos os escolhos, entre todas as falsificações de uma visa o sadia e positiva da vida. Só transitoriamente aceito a treva, o tormento, a mutilação da renúncia, e o mais brevemente possível e só para reviver mais intensamente e mais no alto. Viver, viver, viver sempre mais. Minha ascese é um vórtice de paixão, não um adormecimento no nada, nem uma escola de perseguição ascética e, muito menos, uma acomodação de conveniências: é maturação lógica, natural e irrefreável, que aparece quando a alma tem atras de si um acumulamento tal de forças, que os equilíbrios se precipitam para mais altas formas de vida. Na ascese, vejo a sã metodologia mística, isto e, o processo natural de desenvolvimento de consciência. E assim como a fase racional nos deu o método analítico, e a fase inspirativa nos deu o método da intuição e me levou à construção de uma síntese universal, assim também a fase mística nos dá o método da expansão integral e leva à construção de uma consciência unitária. A unificação do saber completa-se e eleva-se até a unificação no sentir.

A expansão dos ciclos expressa no diagrama e um agigantamento de consciência que cobre campos de sensação cada vez mais vastos, abrange na mais intensa capacidade vibratória uma gama de notas cada vez mais extensa e pode responder cada vez mais a vozes no grande cântico do universo. A superposição dos planos no diagrama acarreta realmente uma descida de luz, de força e de amor do Alto e estabelece incessante comunhão entre os vários planos, que é um maravilhoso concerto de. almas. E quanto mais subo, tanto mais me identifico neste canto; e quanto mais recebo e me fundo, tanto mais me nutro dele, mais devo dar o que me foi doado, mais devo abaixar-me e difundir-me nas menores criaturas irmãs. Há realmente no universo, de plano a plano, esta maravilhosa circulação de linfa vital, a derramar-se em abundância, limitada tão só pela capacidade receptiva do ser, pela sua potência de ressonância. Deus é um centro de energias ao vitais, afetivas e intelectivas, que qualquer ser ficaria reduzido a cinzas se as vias de penetração não fossem automaticamente limitadas em proporção à  sensibilidade.

Tratei racionalmente do assunto, cujas bases científicas já estabeleci. Mas, agora, o passo tardo da razão irresistivelmente se acelera e se subtiliza em expressões excelsas; pois que o argumento insta e meu espírito tem pressa de abrir as asas e mostrar-se em vôo, tal qual ele verdadeiramente é, não mais constrangido entre aquelas peias. É hora de despojar-se dos invólucros da representação racional e de avizinhar-se da visão. Dela me aproximarei paulatinamente, neste escrito, até penetrar nela, até imergir-me e perder-me no êxtase e arder no amor divino.

Declarei, no princípio, que haveria de tratar do argumento da ascese mística, não só como razão, mas também como sensação e fé, não só em seu aspecto científico e objetivo, senão também em seu aspecto místico e espiritual. Esta sua diversa projeção não cindirá a realidade do fenômeno, mas reforçá-la-á, confirmando-a; nada a subtrairá à sua basilar solidez racional, à qual é sempre possível descer, porquanto já não pode ser perdida de vista, ainda que se queira, salvo quando se saiba traduzir os termos de fé em termos de ciência. O aspecto científico que antepus no princípio para, sobre a terra, estabelecer solidamente as bases do fenômeno, não se desmente, precisamente agora que observamos a continuação desse fenômeno no céu.

Nos meus trabalhos precedentes narrei desapiedadamente, depois de vencer a vergonha das íntimas coisas da alma, meu sofrimento, minha fraqueza, minha fadiga. É hora de relatar o fruto de tudo isso — a conquista — de entrar na fase das realizações. No fim do volume precedente16  fiz afirmações graves. É chegado o momento de consolidá-las com afirmações ainda mais graves. Não posso renegar o passado, devo continua-lo com novas ascensões. Neste novo testemunho, que dou com a alma nua diante de Deus, ainda me empenho e irei até o fundo. Apertam-se os primeiros liames, reforçam-se os compromissos; por certas vias, já não é possível deter-nos. Este testemunho dirão que é A Grande Síntese, revelará hoje nova zona de seu significado, ainda mais profunda, confirmará e ampliará as minhas já tão graves afirmações a respeito. Falarei de Cristo, porque Cristo se aproximou e sinto que se aproxima cada dia mais, numa luz resplandecente. Pois que Ele é o centro de que nascem e em que se fundem toda a minha obra e toda a minha personalidade.

Assim, farei melhor compreender, neste mundo de cegos, quais são as verdadeiras metas da vida. Muitos compreendem tardiamente, já no termo do caminho, que nada de substancial foi construído, nada que resiste à morte e sobreviva à destruição e não se possa subtrair à própria personalidade. Compreendem então que riqueza, honras, amor sexual representam vã ilusão. Que tédio na alma! Depois, será necessário recomeçar desde o princípio, repetir o curso das provas A luz só se faz no final, na orla do túmulo. Primeiro, sempre uma agressão sem tréguas, para se tornarem grandes já onde nada resiste e o tempo tudo destrói. Sempre assim; de outro modo, que se haveria de fazer? Parece que outra coisa não sabem os homens fazer. Parece que se acabasse esta rivalidade, esta ferocidade de luta, ficariam espantados, a olhar-se, bocejando, como quem nada mais tem por fazer, ou já não sabe o que fazer. Ou então se fartariam de bens e de gozos, até arrebentar-se, ate morrer. Esta tremenda paixão que agito parece, pois, propriamente fora do normal concebível Cada qual desce pelo declive e arrasta consigo os outros e todos se arrastam conjuntamente; é uma competição para aquele que mais velozmente se precipita, uma compressão a que mais ninguém resiste e em que se calca aos pés a alma humana, centelha de Deus.

Farei compreender as mais profundas realidades da vida, que escapam ao olhar cúpido e pressuroso do homem hodierno. Crê ele ser o próprio corpo. nada mais que o corpo, e com ele consumar-se. Não quer envelhecer, nem morrer com ele. Que tremenda mutilação da consciência infinita identificar-se assim exclusivamente com a própria limitação, enclausurar-se nas trevas, sem esperança de luz, encarcerar o espírito livre no invólucro da matéria e sofrer as vicissitudes instáveis desta, o seu afanoso transformismo, para, ao fim, putrefazer-se com ela! Cristo veio para anunciar-nos: "Eu sou a Ressurreição e a Vida:", e não O temos compreendido. O homem de hoje, na pretensa civilização moderna, perseguindo laboriosamente um ideal de bem-estar material, fechou-se as vias da expansão espiritual, às vias do desenvolvimento de consciência; encerrou-se numa crosta de egoísmo e sua alma asfixia-se e sofre. Ela desejaria explodir em seu livre elemento, mas, sente-se, ao contrário, morrer na matéria.

Assim enclausurado, o espírito sente a pressa o das estreitas paredes que tenta erguer e não compreende que elas não são, nem podem ser sua habitação. O presumido dinamismo de nosso tempo mais não é do que a agitação desordenada desta angústia que busca evasão. Domínio de velocidade, de tempo e de espaço parece uma fuga, uma liberação, um superamento, e, contudo, mais não é do que o respiro mais curto e afanoso de quem corre mais velozmente no mesmo círculo de coisas vãs. Não se imagina como toda a vida humana se apoia sobre estes sutis jogos psicológicos, sobre estas leis profundas da evolução do espírito.

A ciência utilitária pretendeu abrir passagem através dos círculos férreos das necessidades materiais e as massas humanas foram lançadas nessas ondulações de esperanças, caindo, entretanto, em precipícios tais que o mundo ainda ficou mais insatisfeito do que antes. Mui diversa é a expansão de que necessita a pressão interior. O espírito não pode saciar-se com estes acréscimos na matéria, novas estratificações exteriores que tornam espesso o invólucro e encadeiam o espírito ao lastro terreno, que é feito de dor.

Para quem vê e compreende, é espantoso esse espetáculo. Seria ridículo, se não fosse mortificante. É uma corrida dilacerante para o inútil. Tal é o mundo a que falo, eu o sei. Falo de elevações de espírito as mais rarefeitas atmosferas da inteligência e do amor Pretendo arrebatar o leitor ainda para mais além, em arroubos divinos. Levá-lo-ei, plenamente, à sensação do êxtase místico, porque esta é a substância do fenômeno. Serei compreendido? Sei bem que se trata muitas vezes de almas de idades diferentes, de diversa e menos profunda maturação interior, para cuja insensibilidade são necessários certos abalos brutais. Mas, a dor delas é real e me dilacera. Sinto-as chamar de muito longe. Conquanto não a entendam, nem a admitam, ela implica para mim o tremendo dever de dar-me para o bem delas. Vejo-as sufocar, imersas até a garganta, na treva e no tormento; vejo iminentes os perigos de agora, que elas ignoram. Para que, pois, deveria eu viver, a não ser para ajudar. Não tenho eu o dever de restabelecer, onde há mais necessidade, aquela luz que do alto chove em torrentes, gratuitamente, sobre mim?

A organização unitária e compacta do universo impõe uma solidariedade entre o alto e o baixo, no labor de ascender. Quem mais tem mais deve dar. E por esta razão de equilíbrio e de amor que o extremo da grandeza de Cristo se casou com o extremo oposto de sua cruenta paixão. Através de meu espirito movem-se forças que, na harmonização destes planos, são de todos. Não posso insular-me. O universo é agora para mim um concerto; é necessário viver, harmonizando-se. Sinto-me enlevado no caminho do retorno e sobe comigo para Deus o cântico de todas as criaturas. As dissonâncias humanas do egoísmo, da avidez, da violência não lograrão fazer calar este cântico. imenso que é a alma da criação. Abandonei tudo ao longo do caminho da dor. Ressurgi, nu, das lacerações oriundas da separação. Mas, agora, na expansão de meu espírito, vem ao meu encontro, sem mais limites, o universo. Doar-me, eis o meu trabalho; imergir-me no ritmo do todo, eis minha nutrição.

Tais doações, normalmente consideradas absurdas e muito menos necessárias, são dever absoluto para a alma que, nua, transpôs o umbral. Se se sobe em conquista de conhecimento e de amor é para executar um trabalho mais árdua, é para cumprir mais árduos deveres. Pois que devera nascer uma nova civilização e é necessário o sacrifício para prepará-la; será um novo ciclo histórico que formará nova raça em que a fraternidade já não será vã palavra, mas nova fase evolutiva de mais perfeita harmonização espiritual.

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16 As Noúres. (N. do A.)

 

Observemos agora o terceiro aspecto do diagrama. O desenvolvimento do fenômeno espiritual já está exaustivamente analisado sob todos os seus aspectos, como caso avulso. Neste último momento, vem ele repetido (no gráfico, lateralmente) em outras individuações suas, com o escopo de estabelecer as relações entre vários casos, estudar-lhe as recíprocas repercussões e finalmente sua dilatação com o fenômeno coletivo. Seguí-lo-emos aqui, em sua nova complexidade, para deduzir-lhe importantes e inesperados corolários, porquanto a ascese consiste nestas ressonâncias coletivas que multiplicam e transformam o fenômeno. O gráfico nos revelará a gênese de superposições e fusões de consciências, de que nascerão novas formas de existência coletiva.

A dilatação de consciência proveniente da ascese espiritual não é só conquista de conhecimento, mas também expansão cada vez mais integral do ser em todas as suas qualidades, despertadas e potenciadas sucessivamente, fora do germe (forma universal da expansão fenomênica, ou criação, ou manifestação do divino), que esperava potencialmente em o núcleo da. fase precedente. O ser assim muda de consciência, dimensão conceptual, modo de perceber e sentir, muda a própria natureza e, deslocando-se ao longo dos diversos planos de existência, mudam. igualmente as leis de vida. O superamento contínuo da evolução transforma-o e purifica, deixando em baixo as escórias. Pode assim acontecer o que verificamos alhures, isto é, que na fase de transição, qual é a atual fase humana, no período de novas formações, duas leis de duas altitudes diversas, disputem o campo: a lei biológica da luta pela vida e o amor evangélico.

Hoje, que o homem médio está situado na fase +x2, de consciência sensória, e na fase +x3, de consciência racional, . e se encontra exatamente absorto no labor das primeiras criações do pensamento, vê agigantada, ante os próprios olhos, a importância destas e é levado a considera-las precípua e talvez única criação. do espírito. Ele ainda não sabe conceber as manifestações que aparecerão no plano intuitivo e no plano místico. Mas, o espírito é um exército de qualidades em marcha. As criações da bondade e do amor equivalem às da sensibilidade, da razão e da intuição e já se preparam em baixo, no primeiro núcleo de consciência.

Neste sentido, pode-se, igualmente, ler o nosso diagrama. Na horizontal de base, são traçados, eqüidistantes, muitos pontos que representam centros de consciência. O círculo fechado, traçado em torno de cada ponto, além de indicar o âmbito da consciência, correspondente ao plano em que está situado pode exprimir um campo de forças ou ciclo de vibrações, fechado em si mesmo, isto é, que retorna, sem vias de saída, perenemente sobre a própria trajetória. Esta é a fase de egoísmo necessária, em seu plano, à  proteção da primeira formação do eu. Se este campo de forças se acha de tal forma determinado por necessidades protetoras, em princípio, e representa sólida crosta de defesa contra todos os agentes de destruição, ele não permite abertura de circuito, nem contém possibilidades de expansão. Não permite contatos e comunicações, como todos os circuitos fechados, e os centros eqüidistantes sobre a horizontal de base se ignoram uns aos outros. Esta recorda a correspondente  fase de cinética atômica de ciclo fechado, o equilíbrio estável, mas imóvel, da matéria (química inorgânica).

O despontar e destacar-se da espiral, ao lado do círculo, dirigida para traçar a circunferência superior, representam o despontar de novo equilíbrio de forças instáveis, porém mais vasto, o altruísmo. A trajetória, por impulso de maturações interiores (manifestação, exteriorização de divindade), em um dado instante se desprende do circuito fechado e já não retorna sobre si mesma; rompe-se o equilíbrio, abre-se o ciclo de forças em um novo equilíbrio de consciência altruísta. Sobe-se assim a uma nova fase que recorda o correspondente equilíbrio instável, porém móvel, da energia, a correspondente cinética atômica de ciclo aberto da vida (química orgânica). Assim, o ritmo dos planos inferiores repete-se mais no alto, porém, mais transparente de divindade.

Rota é a capa protetora e o ser parece abandonar loucamente suas defesas, parece em poder de todos, porque toda força, demolidas as barreiras, pode penetrar em campo aberto. Desponta o Evangelho, que parece utopia. Mas, também o circuito, que antes fechava, está aberto e nasce a possibilidade de todas as expansões e todo assalto é um contato; todo contato, uma absorção e uma dilatação de consciência, que assim inicia o seu caminho de expansão para Deus.

O diagrama é a expressão desta expansão, cujas conseqüências, de caráter coletivo, ele indica. Pois que também graficamente os pequenos círculos distanciados, na base, em seu insulamento egoístico, se avizinham em sua expansão, subindo até se tocarem até iniciarem uma progressão de superposições que se torna cada vez mais intensa. Antes de estudar-lhe o significado, observemos como este processo de superposição se manifesta no desenvolvimento gráfico. Demonstra o diagrama, com unidades espaciais, que a zona de superposição dos círculos que exprimem os campos de consciência os vários planos está em progressivo aumento e que a zona de não-coincidência dos referidos campos é inversamente progressiva e isso mediante relações que exprimem uma lei de aproximação infinitesimal constante. Observemos esta lei de progressiva coincidência e suas conseqüências.

Enquanto, no plano 2, se acham ainda distantes as duas circunferências, no plano 3 elas são tangentes, no plano 4 superpõem-se por ½ de diâmetro (tomado o diâmetro como unidade de coincidência). Temos ainda ½ diâmetro de não-coincidência (v. linha a = ½). No plano 5, a zona de não-coincidência é reduzida a ¼ de diâmetro (v. linha b = ¼), e proporcionalmente aumentada a zona de superposição. No plano 6, a zona de não-coincidência é reduzida a 1/8 de diâmetro (v. linha c = 1/8); e assim sucessivamente. Isso basta para traçar a progressão ½, ¼, 1/8 de não-coincidência que exprime a correspondente relação de superposição.

A mecânica do gráfico permite-nos, pois, calcular a lei de atenuação do separatismo ou distanciamento entre unidades de consciência e a correspondente lei de fusão de individuações. E mostra-nos, com a expressão tangível das suas progressivas superposições espaciais, que a tendência da lei é a unificação, isto é, identificação por coincidência, tendência expressa por uma relação constante de aproximação. Mudando-se as distâncias de base entre os centros, mudar-se-ão as relações, mas a lei e a tendência permanecem. A um diagrama necessariamente bidimensional não podemos exigir mais como representação de uma realidade pluridimensional e abstrata.

Que significa isso? A Expansão leva, pois, a uma interpenetração de campos de forças, o desenvolvimento da ascese espiritual assume aqui um mais vasto aspecto coletivo de harmonização de consciência. A evolução, portanto, leva a uma fusão mais estreita sem jamais. porém. tornar-se identidade, porque a zona de não-coincidência é tal (1/2, 1/4, 1/8,  1/16, 1/32, 1/64 etc.), que jamais se anula. Embora permaneça espacialmente idêntica, porque são paralelas ao infinito, as diagonais de ascensão, aquela zona se adelgaça com a aproximação constante (permitindo o fenômeno inverso da progressiva superposição), porque em todo plano muda a relação com os diâmetros, que redobram continuamente. Assim, enquanto sempre aumenta a zona de identidade, a zona de distanciamento esta em contínua diminuição, precisamente porque o progressivo aumento da relação entre os diâmetros de extensão das consciências tende para a anulação da distância, embora jamais o atinja absolutamente. Seja qual for a extensão que se atribua ás distâncias de deslocamento na base do diagrama, já o disse, esta lei permanece constante.

Cada plano tende, assim, quanto mais alto, a ser tanto menos uma série de consciências distintas e tanto mais uma zona unitária de consciências harmonizadas e fundidas na mesma natureza. Outrossim, no diagrama, a vizinhança entre os centros é de fato progressiva, em relação aos diâmetros. A superposição dos campos de forças atenua sempre a distinção e opera a assimilação entre os vários tipos de consciência que tendem a tornar-se um modo único de ser. Assim, abre-se sempre mais a comunicação interior, escancaram-se as vias da ressonância: no nível espírito, já o dissemos, a individuação já não tem a força corpórea espacial do plano físico, e é definida pelo tipo de vibração, por um próprio timbre de emanação. Então a zona sintoniza-se segundo uma única nota e é toda, como cada consciência componente, a mesma a única nota. A comunicação torna-se comunhão; a comunhão, unidade.

Vejo então animarem-se as consecutivas circunferências do diagrama e revelarem-se na sua real essência de espíritos fraternos, harmonizados na mesma nota de amor. E cada plano de evolução é uma esfera celeste que modula uma diversa e cada vez mais intensa e pura nota de amor. Vejo um fantástico turbilhão de luzes ao redor de um enceguecente esplendor, centro de sapiência e de amor, que é Deus.

Esta unificação por estados vibratórios, esta sempre mais íntima interpenetração de consciências, este ritmo de aproximação colateral, resultante de todo o movimento do diagrama, nos dizem que, à proporção que galgamos os planos espirituais de evolução, não podemos encontrar, e aqui explicamos como efetivamente não encontramos, individuações pessoais de consciência no sentido humano, tipos de eu separado, à nossa semelhança, nas zonas de consciências ligadas na mesma sintonia. Isso explica racionalmente a dificuldade de identificação espirítica no caso de elevadas Entidades, que jamais se definem em sentido humano, e o fato por mim averiguado de que, ascendendo evolutivamente, não tenho encontrado centros individuais de pensamento, mas noúres, isto é, correntes de pensamento. E é lógico, ademais, que a evolução, sendo um renovamento tão substancial, conduza quase à vaporização daquela distinção, que é a nota necessária e fundamental desse núcleo denso que em nosso nível é ainda a personalidade humana. É lógico que a expansão desse núcleo em formas imateriais conduz à interpenetração e, portanto, à comunhão de personalidades. Conceitos, para nós, apocalípticos, bem o sei, mas esta é a realidade. Lá em cima, no Alto, a consciência já não aparece com as características unitárias e distintivas de nosso plano, mas torna-se um fato coletivo. Não se pode negar que isso desoriente todas as nossas concepções; nem por isso, contudo, se torna menos verdadeiro. Nada pode alterar-se ante a obstinação com que, em nossa incompreensão, negamos. Encontraremos noúres, sempre noúres, correntes não só de pensamento, mas de atração, de simpatia, de amor, através das quais os Espíritos se ligam em forma de existência coletiva. Pode verificar-se um início do fenômeno também em nosso plano, no caso da consciência coletiva, no qual se tem exatamente um principio de existência psíquica por correntes. Isso também poderia ser expresso em nosso diagrama, enquanto há também em tal fenômeno uma dilatação e interpenetração de consciência individual na compreensão sempre menos egoística do bem de todos.